Doença de Edouard Guépin. Piedade e confiança do pobre doente. À sua
cabeceira, o Sr. Le Prevost tem o sentimento da presença de Deus. Exprime
a Victor Pavie sua alegria de sabê-lo novamente noivo.
25 de maio
de 1835
Meu caro Victor,
A situação de nosso
pobre Edouard não parece melhorar, apenas se mantém. Não sei se é para
melhor, pois o estado é bem grave. Há, dizem os médicos, cavernas no pulmão, e
com efeito vômitos quase periódicos de matérias mucosas anunciam que esses
buracos interiores se enchem e se esvaziam constantemente. É a isso que se
atribui a inflamação e a febre contínua. Os médicos tentam cicatrizar o
mal, mas às apalpadelas e como que duvidando de si mesmos e de seus remédios.
Bendito seja Deus em quem a esperança nos resta, quando tudo se perturba
e desmorona ao redor de nós. Assim pensa o pobre doente, cuja piedade e
confiança vão crescendo em grau admirável. Eis aí, disse ele ao mostrar o
Cristo, meu único e verdadeiro médico! Também ele reza quase em todas as horas
com uma simplicidade, uma candura que encantam. Ontem, ele mesmo pediu a
seu confessor que a comunhão lhe fosse dada, e esta manhã o Santo-Viático com a
Extrema-Unção que não se separam, lhe foram concedidos. Como, em plena
consciência, sem a sombra de suspeita sobre o perigo de sua posição, o doente
desejou este remédio supremo? Como o bom pai, que isso apavorava, não fez
oposição? Como as pessoas de igreja atravessaram despercebidas esta casa,
encontraram perto da cama o pai e eu sozinhos, sem amigos estranhos e
importunos, sem chegada de médicos nem de outros para interromper a santa
cerimônia? Como? É preciso perguntar? Deus o queria, nada mais a dizer. É para
mim uma grande responsabilidade a menos, caro amigo, de que o pobre menino, neste
mundo, seja entregue às mãos de seu pai, e para o outro mundo, às mãos de Deus,
a quem esse depósito concerne nesta hora e que bem saberá velar por ele. Temos
horas bem tristes perto desse leito de sofrimento, mas o que só cabe a Deus
realizar, há horas bem calmas e bem doces. Esta, com certeza, é desse número.
Chorávamos, mas sem esforço e porque a alma chora ao sentir-se tão perto de
Deus; que ele estivesse ali, nenhuma dúvida para ninguém de nós, pois ele
falava a cada um de nós, sobretudo ao doente que, visivelmente, conversava de
boca à boca com ele. Por que você não estava ali, amigo, você que as grandes
realidades tocam tão firmemente? Por que não está ali ainda em outros momentos?
Quando estamos sozinhos, os três, Edouard, seu pai e eu, e isso acontece quase
cada noite, ao cair do dia, o pobre amigo pede que se lhe reze uma dezena de
terço. Então um de nós começa, o outro responde, o doente acompanha, e o Céu
desce sobre nós. Há, nesse momento, uma calma, uma paz de que ninguém, se não é
cristão como você, saberia compreender a doçura, e tudo isso, no entanto, junto
ao leito de um moribundo, entre pai e irmão, perto de se deixarem, pode ser,
para sempre. Oh, não, outros não têm um Deus como o nosso e que trata assim
seus filhos.
Passo sem dificuldade alguma deste assunto a um outro que o toca pessoalmente,
caro amigo, e eu, por repercussão, como é normal. As lágrimas de alegria e as
lágrimas de tristeza não têm a mesma fonte, e, quando se derramam sobre nossa
face, quem, portanto, poderia lhes dar um nome? Então, caro amigo, eis a ordem
e a paz de volta em
você. Não quereria outra prova disso a não ser sua carta de
tão doce, de tão fácil efusão. Nunca, amigo, recebi uma de você que fosse mais
simples, mais terna, mais singela. Havia emanação e reflexo evidente, já
tinha havido comunicação com a nobre e franca natureza de que você se tinha
aproximado e esse único contato já tinha seu efeito. Cercado como você está de
bons e sábios conselhos, guiado aliás do alto bem sensivelmente, você pode
passar, amigo, sem meu assentimento, mas livre e plenamente, porém, eu o
enuncio para você aqui para a minha própria alegria: isso me agrada, me encanta
sem restrição, isso é algo autêntico, correto, faz parte do verdadeiro amor.
Amo com ternura e como irmã esta moça, e, tenha certeza disso, em nosso
primeiro encontro, nos apertaremos a mão mutuamente e seremos amigos para a
vida inteira. É uma contraprova também, que acontece em uma afeição profunda e
verdadeira como a nossa; e se, em um sentimento, não houvesse acordo e simpatia
para ambos, haveria justa razão de duvidar desse sentimento. Aqui plena
unidade. Vá andando depressa, portanto, amigo, e fale comigo andando. Você é
francamente injusto comigo ao supor que eu teria gostado do sacrifício insensato
que você tinha sonhado. Não é assim que entendo o sacrifício; nada, a meus
olhos, é belo do que não é bom, e não é bom o que não torna a alma nem mais
bela, nem melhor, nem mais frutuosa, que a enche somente de vazio e a deixa
flutuante a todo vento; não, todo sacrifício, a meus olhos, deve ter seu
princípio fora do eu, e aqui, por nobre e generoso que quisesse ser o eu, era
sempre o eu, portanto, nenhum verdadeiro sacrifício.
Você deve pensar, assim, tudo o que sua boa notícia tem de feliz e de
consolador para mim. Diga-me, portanto, muitas coisas ainda sobre ela; respiro
tão livremente assim que encontro prazer nisso.
Adeus, respeito e afeição a todos. Será que o encarreguei de dizer a Cosnier
toda a minha alegria por sua volta a nós? Pensei nisso muitas vezes e senti
minha afeição por ele dobrada. É mal talvez, mas não posso dissimular isso a
mim mesmo, amo todo o mundo tanto quanto posso, mas uma irresistível simpatia
me arrasta, quase contra minha vontade, para todo verdadeiro católico. Reze a
Deus por Edouard.
Adeus.
Le Prevost
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