A
respeito de uma eventual saída de seu filho para a guerra. A educação cristã
que recebeu deveria garantir “a nobreza do coração no meio da prova”.
Vaugirard, 23 de julho de 1870
Senhora Marquesa,
Entro em todas as suas preocupações de mãe e de
cristã, e partilho também seus sentimentos em relação a essa guerra, em
aparência muito terrível. Conjuremos o Senhor para que desvie esse flagelo e
que não castigue severamente demais as iniqüidades tão grandes de nosso tempo.
Muitas famílias gemem neste momento, privadas de seus filhos, de seus amparos.
Um bom número deles, casados, abandonam suas jovens esposas e crianças muito
novinhas. Estão aí, desde o início, sacrifícios muito dolorosos.
No que lhe toca em particular, Senhora, entendo bem
seus medos. No entanto, considerando seu sincero apego a Deus, seu desejo tão
verdadeiro de lhe guardar seu caro filho, não posso persuadir-me de que, nestas
penosas circunstâncias, o bom Mestre responda a suas instantes súplicas por uma
provação, por um perigo que possa ser fatal a seu caro filho. Persuado-me, ao
contrário, de que, agora como sempre, o Senhor fará brilhar sua sabedoria e sua
misericórdia.
Examinando as coisas nesse espírito de confiança e de
fé, não se pode esperar que seu caro filho, se tivesse de participar em algum
lugar na luta que começa, se fortaleceria em seus bons princípios, em suas
nobres disposições, em vez de se afastar deles? Não saberia ficar sempre sob a
sombra de sua terna proteção. É preciso que adquira a iniciativa, a ação
própria que pertence a um homem, como alguma experiência nas relações por fora.
Esse complemento era necessário para a educação toda interior e toda familiar que
recebeu sob seus olhos. A inação em que ia se encontrar, em seu isolamento,
começava a inquietá-la. Se vai para um certo prazo ao batalhão de que deverá
ser membro, encontrará ali movimento, relações, contatos múltiplos que o
obrigarão a tomar suas responsabilidades e desenvolverão sua energia, sua
firmeza, suas qualidades de varão em uma palavra. Tudo isso é necessário para
não ficar desarmado e sem defesa nesta vida, em que, para os homens sobretudo,
o conhecimento do mundo e a força da vontade são necessidades de primeira
ordem.
É verdade que se pode recear que, com esse contato com
muitas naturezas que são longe de serem todas boas e escolhidas, a alma tão
reta e tão honesta de seu caro filho perca algo de sua candura tão amável. Mas
a solidez de sua fé, sua fidelidade em praticar até agora seus deveres cristãos
e também suas incessantes orações serão garantias muito poderosas. Deus estará
com esse bom e caro jovem e seu anjo o protegerá. Após uma ausência bastante
limitada, voltará, talvez, para a Sra. fortalecido, aguerrido e
definitivamente assentado nesse caminho da verdade e do bem em que seu coração
tanto desejou vê-lo estabelecido. Será o acabamento de sua tarefa, e Deus terá
concorrido para realizá-la com você. Assim é que tudo o que é bom e santo se
realiza no mundo. Tenhamos, portanto, confiança, Senhora Marquesa, todas ass
coisas concorrerão para esse final feliz. A provação que tanto a amedronta deve
ser sofrida por todos, num sentido ou noutro. A seu redor, em sua família, seu
caro tio, o Sr. de Rugy e o irmão de seu tio, morto na Argélia, que conheci
também, começaram assim. Quase todos os filhos de família devem, no começo de
sua carreira, pagar sua dívida por algum serviço militar. Todos aqueles que
foram verdadeiramente fortificados e aguerridos por uma educação primeira
verdadeiramente cristã tiram proveito dessa prova e não perdem nada de seus
sentimentos e de sua nobreza de coração.
Acho, Senhora Marquesa, que as coisas são assim
segundo as vistas de Deus a respeito de seu caro filho, e que, com a ajuda de
suas orações e das de sua venerada mãe, tudo acontecerá como acabo de dizer. É
possível que, afinal, o Senhor resolva as coisas de outra forma, que seu caro
filho não parta ou parta apenas para alguns instantes, mas guardo esta convicção:
sua fé não será decepcionada, os bons sentimentos de seu caro filho serão
conservados e, em qualquer caminho onde Deus o colocar, ficará sob sua guarda e
será sua consolação. Confiança, tudo irá para um final feliz, é minha última
palavra e minha firme esperança.
Sou, com um mui respeitoso e mui sincero devotamento
pela Senhora e por sua cara família,
Seu humilde servo e amigo
Le Prevost
P.S. Começamos as missas desde a recepção de sua carta.
Serão continuadas fielmente todos os dias.