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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1601 - 1700 (1870 - 1872)
    • 1647 - à Sra. Marquesa de Houdetot
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1647 - à Sra. Marquesa de Houdetot

Narração das provações da Congregação durante a guerra e a Comuna.

 

Vaugirard, 1o de julho de 1871

 

Senhora Marquesa,

 

Sua boa e tão desejada carta me causou uma grande consolação. Enquanto tinha a bondade de informar-se de nós e de nossas obras, eu fazia, de meu lado, buscas para descobrir onde se encontrava com sua cara família. No meio das diversas interrupções que sofreram as comunicações de Paris com o interior e até com os prédios que confinam com ela, fiz diligências para saber o local onde residia: na rua St Florentin, a resposta é que estava em Roma, mas que se ignorava seu endereço. Escrevi em seguida na Bélgica, esperando que, através do Sr. de Caulaincourt, teria algumas informações mais precisas; não tive maior sorte. Enfim, começava a escrever outra carta que ia confiar ao correio com a nota: Mandar seguir, quando sua cara epístola me tira enfim de embaraço.

 

Quando quis bondosamente me escrever pela última vez da Normandia, a Sra. estava com grandes preocupações por toda a sua companhia. Sua boa mãe partilhava suas inquietações e seu caro Richard tão amado, improvisado capitão de guardas nacionais, tinha também com certeza seus embaraços. Foi nesse momento que a separação se fez tão dolorosalongamente para tantas afeições privadas de toda efusão e até de todo sinal de vida. O que lhes aconteceu, caras Senhoras, com seu bem-amado filho? Sofreram apenas o medo, diz sua carta, mas os perigos foram grandes? Encontraram nas pessoas da região um pouco de fidelidade e de coração, e sua viagem a Roma não foi muito perturbada pelos movimentos revolucionários que agitam esse lugar santo, consagrado ao Deus de caridade e de paz, e que os homens de ódio e de sangue pervertem tão lamentavelmente? Enfim, na sua volta, não se ressentiram das catástrofes de Paris, e sua morada da rua St Florentin foi poupada? De todos os lados, no campo como na cidade, podia se encontrar o perigo. Pensei nisso muitas vezes diante de Deus, me recordando de que Ele sozinho podia nos proteger eficazmente em tão terríveis provações.

 

Quanto a nós, Senhora, suportamos todas as privações e os perigos do sítio, todas as dores e as inquietudes resultando das revoltas e dos crimes da Comuna. Tivemos de abandonar ao corpo militar, em primeiro lugar os prédios de nosso orfanato, e mais tarde os insurrectos se apoderaram violentamente dele. Os estragos, bastante consideráveis, foram, em seguida, quase inteiramente consertados por nós, o mobiliário sofreu particularmente. Em Chaville, nossa casa, habitada durante sete meses por 160 Prussianos, foi muito mais devastada. Os prédios saqueados, despojados de todos os revestimentos, estavam portanto, na sua maior extensão, absolutamente inabitáveis. Os móveis foram queimados ou dispersados, 400 pés de árvores cortados. Pudemos restaurar mais ou menos algumas partes, o resto ficará muito tempo sem poder ser ocupado. Mas a maior aflição nos veio do lado de nosso pessoal. Um de nossos padres, o padre Planchat, o mais dedicado, o mais zeloso para o bem dos operários e dos pobres, foi no número dos reféns. Foi fuzilado com o R.P. Olivaint e os outros religiosos que tinham sido presos ao mesmo tempo que ele. A consolação de ter dado à Igreja um mártir alivia a tristeza de um tão doloroso sacrifício. Seu corpo, que pudemos recuperar, está depositado em um pequeno jazigo estabelecido em nossa capela de N. Sra. da Salete. Sou persuadido, Senhora, de que rezará com consolação sobre essa  humilde tumba.

 

Fiquei, pessoalmente, em Vaugirard durante todo o sítio até o fim de março, quando as violências da Comuna iam pegar todos os nossos leigospadres, para pô-los à força em suas fileiras, e me retirei a tempo em Chaville,  onde todos os nossos que estavam ameaçados puderam, sob diversos disfarces, me alcançar. Tivemos ali, como todas as nossas casas, uma ambulância onde cuidamos ainda de 25 feridos.

 

Abrevio esta exposiçãocomprida demais e peço a Deus, em união com a Senhora Marquesa, e com toda sua excelente família, que Ele se digne pôr fim a tão terríveis provações, devolvendo à nossa França a tão esquecida e essa sabedoria de que parece ainda longe demais. Nossas orações, esperemos, obterão essa conversão que será um milagre sem dúvida, mas que o Pai todo poderoso e cheio de bondade concederá aos votos de seus filhos.

 

Seu respeitoso servo e amigo em N.S.

 

                                               Le Prevost

 




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