O Sr. Le Prevost se
inquieta pela saúde de Edouard Guépin. Quer saber se V. Pavie está
verdadeiramente feliz e estar ao par do que faz e lê seu jovem amigo Maillard.
17 de
setembro de 1835
Caro amigo,
Há muito tempo, não tenho notícias de nosso
amigo Edouard: escrevi-lhe muitas vezes sem que lhe tenha sido possível, assim
como bem pensava de antemão, dar-me qualquer resposta. Mas, ultimamente,
pedia-lhe para recorrer a você e, por seu intermediário, me manter informado de
sua situação e de tudo o que pode lhe interessar. Não recebo nada também de sua
parte. Esse silêncio me inquietaria se não tivesse por fora a certeza de que
você mesmo me informaria, caro amigo, de todo incidente novo na situação de
nosso querido doente. Espero, portanto, que seu estado se mantenha, mas na
falta de mudança notável e decisiva, não deixaria de aprender com um grande
interesse alguns detalhes de sua vida ordinária e disposição de seu espírito.
Minhas cartas se ressentiam de minha absoluta ignorância a esse respeito, não
sabendo em que tom lhe falar, mantive-me numa inteira insignificância. Tire-me
dessa situação penosa, caro Adrien, diga-me o que teria que fazer para distrair
um pouco nosso amigo e agradar-lhe; fá-lo-ei sem demora.
Edouard não é o único de quem gostaria de ter notícias; Victor, o que acontece
com ele? Quase não é preciso perguntar, ele está feliz, mas, todavia, por sua
natureza nossa alma está tão inquieta que quer, mesmo em pleno repouso, ainda
ser tranqüilizada.Diga-me, portanto, querido filho, que ele é feliz, bem feliz,
tanto como o queríamos, tanto como é preciso para nos fazer inveja sobre esse
ponto, como sobre tantos outros.
Você, enfim, caro
amigo, que guardei para o último, diga-me, oh! diga-me com essa confiança tão
gentil e a mim tão doce, tudo o que você é nesta hora, corpo e alma, amor
e pensamento. Tenho, sobre tudo isso, direitos de amigo, quase de pai; você tem
que me prestar conta, filho. Conte-me, bem por extenso, tudo o que o ocupa e o
agrada, seus lazeres, suas horas favoritas, sua vida enfim, para que eu me mire
nisso como num sonho e redescubra, nessas efusões, algum traço confuso de meu
passado. O que terei para dar-lhe em compensação, caro amigo, infelizmente, não
saberia dizer! Uma terna simpatia e muita afeição é tudo o que me resta; você
pegará, caro amigo, tanto quanto precisar e até conta quitada; jamais direi: é
demais!
Você se lembrou, caro Adrien, de alguns livros que devia ler em memória de mim:
de Maistre ( Soirées)72, Lamennais, ou melhor se se sentir inspirado.
Faço questão, se ainda não foi feito, vá depressa, caro amigo, a fim de que
tenhamos um assunto de conversa a mais à sua volta. Teria gostado tanto, meu
Deus! que a linda e larga via onde outros entram somente em desvio, se abrisse
reta diante de você! Mil e mil quase não têm como escolher; quando vinte anos
soam para eles, pobres desgarrados, já estão tão longe. O passado os precipita
e os empurra; mas para você, a escolha ainda é livre; oh! amigo, desejo-lhe uma
só coisa, é olhar bem antes de escolher.
Adeus, caro filho, perdoe-me: falei demais sobre mim, sem querer. Adeus,
ame-me, escreva-me, em seguida volte logo. Um abraço para Victor, Théodore,
Edouard, Léon, a todos os nossos amigos, Godard, Cosnier, Nerbonne e outros
ainda, o mais possível. Amo por aí, em sua região, muitos amigos.
Seu devotado de coração
Le
Prevost
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