O
Sr. Le Prevost pede ao deputado Emile Keller para intervir em favor de seu
sobrinho, acusado de ser partidário da Comuna (Rascunho do Sr. Le Prevost
escrito pelo Sr. Chaverot).
Agosto 1871
Meu caríssimo amigo,
Meu sobrinho, Emile Salva, por ocasião da tomada de Paris,
no fim do mês de maio último, foi preso como partidário da Comuna. Desde então,
está detido no navio do Estado le Tourville, em Cherbourg. É perfeitamente
inocente de toda cumplicidade e participação nos atos que entristeceram nossa
pobre França. Posso atestá-lo com toda a segurança. Por isso, redigi nesse
sentido uma nota destinada a esclarecer seus juízes.
Venho pedir-lhe para ter a bondade de fazê-la chegar,
seja ao general Appert, seja a todo outro chefe militar a cuja competência
pertencem as causas desses presos, e para apoiá-la, ao mesmo tempo, com sua
recomendação fundada na segurança positiva que tenho da não-culpabilidade de
meu sobrinho.
Conto com sua bondosa amizade para me prestar esse bom
ofício que será, ao mesmo tempo, um ato de justiça.
Permita-me aproveitar dessa circunstância para
felicitá-lo por sua corajosa intervenção em favor do Santo Padre. Bendigo a
Deus que lhe conserva servos tão firmes e tão devotados.
Peço-lhe...
O Sr. Emile SALVA, nascido em Duclair, Sena-Inferior,
com 42 anos de idade, alferes de um regimento de marcha, foi preso no fim do
mês de maio em Paris, como partidário da Comuna e, desde então, transferido a
Cherbourg, onde ainda está detido presentemente no navio do Estado le
Tourville.
Antes da guerra estrangeira, o Sr. Salga pertencia a
uma administração civil. Desempenhava ali sua função com exatidão. Seus
costumes eram de um homem amigo da ordem. Ninguém estava mais afastado do que
ele desses detestáveis excessos da Comuna.
Quando a guerra com a Prússia começou, chamado para
defender seu país nas fileiras da guarda nacional, desempenhou corajosamente,
durante toda a campanha, as obrigações a ele impostas por sua patente de
alferes.
Logo que a guerra civil sucedeu à invasão prussiana,
resolveu escapar da pressão exercida sobre a guarda nacional e, doravante,
somente sonhou em fugir de Paris. Não conseguiu, mas, até o último momento, foi
seu pensamento, como testemunharam suas reclamações repetidas e como o atesta
também a veste civil com que estava revestido no momento de sua detenção.
O abaixo-assinado, Superior do Orfanato de São Vicente
de Paulo em Vaugirard, tio do Sr. Emile Salva, pode afirmar sobre sua
consciência a perfeita exatidão do que precede e declara que seu sobrinho, por
suas convicções e seus atos, ficou fora de toda participação nas desordens dos
revoltosos, que as reprova, ao contrário, como todos os homens de princípios e
de honra. Há três meses, no entanto, sofre uma detenção severa e é confundido
com criminosos.
O abaixo-assinado espera que, levando em conta as
informações produzidas por ele e das quais numerosas testemunhas poderão
constatar a exatidão, a administração militar queira bondosamente examinar a
causa do Sr. Salva e ordenar sua libertação.
[Le Prevost]
[Padre]