Estada
nas Dames de la Retraite,
na rua du Regard. Vantagens espirituais a tirar dessa estada em Paris.
Vaugirard, 28 de dezembro de 1871
Senhora Marquesa,
Apresso-me em desejar-lhe, assim como à Senhora sua
mãe, as boas-vindas a esse Paris, tão verdadeiramente mau e ao qual, no
entanto, se volta, pois não é todo inteiro pervertido. A casa que escolheu como
morada lhe fará ver Paris, aliás, pelo lado bom. Alegro-me muito, da minha
parte, pela escolha que fez. Desejo muito que se sinta à vontade ali. Até
agora, ainda não me foi dado me encontrar tão perto da Sra, e com tanta
facilidade para encontrar a Senhora e a Senhora d’Hurbal.
Em alguns minutos, com efeito, se gostar de dispor de
alguma folga para respirar o ar do campo, a estação da estrada de ferro, quase
à sua porta, lhes dará a mais perfeita comodidade. Se acontecer também que eu
possa ser-lhes de alguma utilidade, chegarei sem dificuldade e prontamente a
vocês, porque o percurso da estação até a rua du Regard [Dames de la Retraite] não é longo
demais para minhas forças. O ônibus que vai a Vaugirard está igualmente
(rua de Sèvres) bem perto de vocês. Todavia, não terei de usá-lo tantas vezes,
porque venho a Vaugirard somente na sexta-feira de manhã, para sair daí no
sábado à tarde. De sexta-feira, fico retido em casa, para que possa, um dia,
ser encontrado. De verdade, não recebo ninguém, não tendo mais relações, mas,
para o caso de acomodar alguém, reservo ao menos essa possibilidade, se às
vezes alguém devesse usá-la.
Tenho a confiança que vai, Senhora, encontrar um pouco
de calma e de repouso em seu bairro Saint Germain, após tantas emoções e
preocupações. Estas, no entanto, não a deixam absolutamente tranqüila, já que,
sossegada sobre o futuro de seu caro filho, permanece em atenção sobre a
segunda mãe, que deve doravante dividir, para com ele, suas afeições e seus
cuidados. Mas a idade tão pouco avançada da Senhora de Saint Maur deixa ainda
muita esperança, muitas almas piedosas e devotadas rezam para que o Senhor a
deixe a seu apego. Guardemos, então, boa esperança, e não dupliquemos a pena
por tristes previsões.
Quantos auxílios espirituais não vai encontrar, tanto
nos preciosos recursos de sua casa, quanto na linda e cristã paróquia de Saint
Sulpice, e nas mil capelas e piedosos santuários que a cercam. Como é visível
aqui o cuidado tão terno da Providência. Não era tanto de repouso físico que
tinham necessidade, mas de um pouco de vida espiritual, para refazerem suas
almas cansadas e quebradas por excesso de cansaço moral e de dura contenção.
Nosso Senhor lhe diz, como a seus apóstolos após suas corridas apostólicas:
“Venham aqui, em lugar afastado, e descansem um pouco.” Ele as leva à solidão e
lhes falará no fundo do coração. É essa palavra que aquece, refaz e consola.
Possa, Senhora, com sua bem-amada mãe, sentir-lhe os benfazejos efeitos e
haurir assim força necessária para prosseguir sua carreira com os apoios novos
que a graça lhe tiver preparado.
Vou pedi-lo bem insistentemente ao Senhor.
Dignar-se-á, espero, acolher minhas humildes instâncias.
Queira aceitar, Senhora, e partilhar com a Senhora
d’Hurbal, todos os meus sentimentos de respeito e de devotamento em N.S.
Seu humilde servo e amigo
Le Prevost
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