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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1701 - 1806 (1872 - 1874)
    • 1711 - à Sra. Marquesa de Houdetot
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1711 - à Sra. Marquesa de Houdetot

Estado de saúde do Sr. Le Prevost. A provação não poupa ninguém e nos acompanha em todo o lugar. O segredo da paz.

 

Chaville, 30 de julho de 1872

 

Senhora Marquesa,

 

Demorei muito para responder à carta, porém tão íntima e tão interessante, que fez a honra de me escrever, há perto de três semanas. Tenho vergonha de dizê-lo e estou confuso sobretudo por esse aparente descuido. Todavia, não estou sem desculpa. Os grandes calores dos últimos tempos, ultrapassando minhas forças, me causaram um tremor nervoso que me impedia de segurar a pena, e também uma contenção de cabeça muito penosa. Há dois dias somente, se começa a respirar um pouco. Paris, e mesmo seus arredores, pareciam com falta de ar vital. A vizinhança do mar a terá certamente preservado, Senhora, com seu caro mundo, desses inconvenientes. Isso me alegra, tanto mais que, após uma longa estada aqui, sua saúde reclamava um repouso prolongado e essa paz que os grandes centros do movimento e do barulho não saberiam nunca proporcionar.

 

Mas, é mesmo verdade que o campo lhe tenha dado plenamente essas preciosas vantagens? Não seria assim, se acredito nos detalhes que contém sua carta. Não se diz com razão que Deus reserva provações e preocupações dolorosas para todas as condições deste mundo? Qual estado em aparência mais feliz do que o seu, Senhora? Dons de fortuna, residência encantadora, família de elite, companhia na medida do desejável, cultura do espírito, dons do coração mais preciosos ainda, nada lhe foi recusado, e, no entanto, um grande gemido escapa de seu peito como para lhe dar alívio. Pobre alma humana, de que precisas, então, para ficar satisfeita? És, então, insaciável, ou tens aspirações que nada nesta terra satisfaz? Sim, aí está o segredo de tantos sofrimentos, de tantas queixas e de tanto desânimo. Os bens deste mundo, por grandes que sejam, têm pontos defeituosos que enganam nossa espera e trazem o desgosto. Hoje, nesta mesma manhã, lia este singular comentário feito pelo Pe. Olivaint, de santa memória, sobre estas palavras do Senhor ao bom ladrão crucificado com ele: “Hoje, tu serás comigo no Paraíso”.

 

“Sim, hoje mesmo, será a liberdade, a paz, a alegria do Paraíso em meu coração, se hoje entrego meu coração, todo o meu coração a Jesus crucificado”.

 

Quem nos dará essa ciência dos santos, essa maravilhosa paciência que transforma as amarguras em doçuras, que torna tudo em proveito e, como o diz tão amavelmente, Senhora, faz dinheiro de tudo para o Céu? A graça de Deus, se nos humilhamos diante dele em nossa fraqueza, se pedimos com constância sua misericórdia e seu apoio. Não preciso lhe ensinar essas coisas, Senhora, e não é minha pretensão. Sua carta as exprime e seu coração as sente vivamente em sua . Portanto, tenho boa confiança de que a oração fiel e a união santa com o Salvador no banquete sagrado lhe darão capacidade e vontade para responder a tudo. Rezo muito, sempre, com a Senhora nessa intenção. Virá a hora em que terá essa paz tão esperada, é Jesus que a trouxe na terra: “Dou-vos a paz, deixo-vos a minha paz, mas não como o mundo a 441.” Não a peçamos, então, ao mundo, mas ao Deus Salvador, já que está unicamente nele. A palavra do Pe. Olivaint não passa de um eco dessa palavra do divino Mestre; é quase a última que Ele tenha pronunciado nesta terra.

 

Perdoe-me, por favor, Senhora Marquesa, essas citações mais ou menos oportunas, mas o mundo de Chaville tem bem poucos fatos notáveis, não acho nenhum que mereça sua atenção. O Paris bem circunscrito aonde vou cada semana não me fornece também nada de interessante.

 

Acho que seu caro tio está perto da Senhora atualmente. Anunciava-me, nestes últimos dias, que ia visitá-la e lhe tirar por algum tempo a Senhora dHurbal que encantará e consolará sua solidão no Jardim. Seus caros filhos lhe ficarão, ficará ainda muito rica. Bendito seja Deus por tê-la amado tanto!

 

Ficarei muito feliz, Senhora, se tiver a bondade de me apresentar à memória do Sr. Richard e de oferecer também minhas homenagens respeitosas à Senhora sua nora como ao resto de sua cara companhia. Queira aceitar também, Senhora Marquesa, todos os meus sentimentos de muito respeitoso devotamento.

 

Seu humilde servo em N.S.

 

                                               Le Prevost

 

 





441 Jo 14,27.





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