Busca
de uma pensão em
Paris. Dificuldades da vida de família. Novo impulso da
França cristã em 1872. Proteção de Deus sobre nossas obras.
Chaville, 4 de dezembro de 1872
Senhora
Marquesa,
Fica muito
mal para mim deixar vários dias sem resposta a boa e confiante carta que me fez
a honra de me escrever no fim do mês passado (não quero procurar a data, por
medo de confusão para mim). Não é que me tenha faltado o bom desejo de ser
diligente, mas o andar é tão lento na minha idade que se chega atrasado muitas
vezes. Confio em sua indulgência, Senhora, sempre tão amável para comigo.
Acolho com
grande alegria a esperança de revê-la neste inverno em Paris, assim como a
Senhora sua mãe e seus três filhos. Desejo especialmente ser apresentado à
Senhorita Marie de Houdetot, ficarei muito lisonjeado se obtiver algum de seus
graciosos sorrisos.
Já procurei
em diversas direções alguma morada digna onde possa encontrar repouso e, ao
mesmo tempo, um pouco de sociedade aceitável. A coisa não me parece sem
dificuldade, no ponto de vista, sobretudo, da companhia, bem raramente
escolhida como se desejaria numa casa mais ou menos acessível a cada um. As
casas religiosas são as mais dignas e as mais convenientes, mas são, ou
afastadas do centro das relações, ou reservadas às damas que tomam ali uma
residência constante como pensionistas ou inquilinos. Todavia, Paris tem tantos
recursos em todo tipo de coisas que sempre se tem chance de encontrar o que se
deseja. Continuarei minhas buscas. A solidão em que a deixam a ausência de seus
caros filhos e o afastamento da Senhora de Saint Maur seria um pouco severa e
monótona, se fosse se prolongar muito. O campo não é muito agradável no inverno
sem uma companhia de família um pouco numerosa. Mesmo assim, é preciso que seja
íntima e simpática. Logo que há constrangimento, reserva, cerimônia, cessam o
desembaraço e a expansão, a sociedade se torna um embaraço, um verdadeiro
fardo. A civilidade, o hábito do mundo, o respeito humano dão força para se
controlar, mas não é sem sofrimento e sem gemido. Seria melhor, sem dúvida,
tomar apoio num sentimento puramente cristão: paciência, submissão, penitência,
caridade. A alma encontraria nisso doçura e consolação ao mesmo tempo que
amargura, e esta última se tornaria pouco sensível. Mas uma virtude tão elevada
não se adquire em um dia, não devemos, portanto, estranhar nem desanimar quando
ainda não estamos no cume. Tendamos somente a isso, entendendo que o lindo, o
perfeito aí está e, com a ajuda da graça, chegaremos lá por fim. Confiança,
perseverança, oração, tudo se obtém assim.
Como a
Senhora, tenho boa esperança. Vendo que nossa França volta a rezar, a rezar em
grandes assembléias, como convém nas calamidades públicas. Quando todos
pecaram, é preciso que todo o mundo expie e se humilhe e, já que o escândalo
foi geral, a reparação deve também se fazer a céu aberto. É o mérito e o sentido
das peregrinações. Por isso, instintivamente ou, antes, por inspiração da graça
e apelo da Santa Virgem, as populações comovidas se puseram a caminhar para os
santuários abençoados de Deus, para cantarem seus louvores, professarem
altamente sua fé e pedirem misericórdia. A misericórdia responderá, sofreremos
ainda talvez, mas, após a provação, a consolação virá.
Agradeço-lhe
por sua bondosa lembrança para com nossas obras. Deus digna-se abençoá-las
sempre, mantiveram-se no meio das dificuldades e tendem a aumentar em vez de
diminuir. Há, em todas as épocas, misérias a aliviar, fraquezas a apoiar,
ignorâncias a iluminar. Deus fornece sempre meios, recursos para essas
necessidades, Ele os confia à sua Igreja que, sob formas diversas, os aplica em
seu nome. Esses socorros nunca se esgotarão, enquanto houver cristãos a gritar
para o Céu: Pai Nosso, que estais nos Céus. Por que não se entende sempre esse
poder da oração para tudo obter, a força da fé para unir as almas, a doçura da
caridade que abranda os males e torna a dar a confiança? Bendigo a Deus com a
Senhora, Ele que deu abundantemente esses bens preciosos à Senhora, à sua boa
mãe, quase a todos os outros. Rezo com a Sra. fielmente pelos menos adiantados.
Sua hora virá, esperemos, já que, neles, o coração já está do bom lado.
Queira,
Senhora Marquesa, aceitar com a Senhora sua mãe todos os meus sentimentos de
profundo respeito e de devotamento em Nosso Senhor.
Le Prevost
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