Um
livro para os leigos, recomendado outrora pelo padre de Malet. É preciso levar
a cruz das provações cotidianas.
Vaugirard, 23 de maio de 1873
Senhora Marquesa,
Fiquei muito comovido pela amável exatidão com que
quis bondosamente cumprir a promessa de me dar notícias suas e da Senhora sua
mãe, quinze dias ao máximo após sua saída. Estive duplamente feliz, pois seus
caros filhos tinham também chegado em Saint Laurent. Fiquei
sabendo, na mesma ocasião, que a Senhora e os que compõem o círculo íntimo de
sua mais querida família, agora reunidos ao seu redor, estão todos gozando de
uma saúde satisfatória e que estão entrevendo, após seus longos cansaços,
alguns dias de paz e da alegria de coração. Bendito seja Deus e possa Ele
prolongá-los numa duração indefinida!
Não ouso dizer que me apresso em responder à sua cara
missiva, sendo que já chegou em minhas mãos há uma semana, mas aguardava essas
poucas palavras que me anunciava sobre a solução das ofertas para a locação da
fazenda. Entendo que esse negócio, qualquer que seja o sentido para o qual se
orientar, é muito importante no tempo particularmente crítico em que nos
encontramos. Estarei muito satisfeito por aprender que toda preocupação é
tirada nesse ponto para a Senhora Marquesa e para os seus. Conto sempre que vai
querer bondosamente me enviar as poucas linhas prometidas especialmente para
esse interessante assunto.
Procurei atentamente, em nossa biblioteca de
Vaugirard, o livro de que lhe falara: Conseils (acho) à une dame
vivant dans le monde : todas as minhas buscas ficaram sem resultado. Mas,
na falta das informações que me teria fornecido sobre o endereço do editor,
conseguirei, espero, achá-lo de outra maneira. Muito me alegrará enviá-lo à
Senhora. Guardei dele, através da distância de vários anos, uma excelente
lembrança. Aliás, me tinha sido indicado pelo padre Comte de Malet, homem tão
piedoso quanto esclarecido, cujo juízo era de um grandíssimo peso. Não quer
dizer, Senhora, que esteja esquecendo da experiência própria que já lhe é
adquirida, mas, mesmo com um grande conhecimento do mundo e um espírito muito
judicioso, se pode, em muitos casos, ficar indeciso sobre os meios de conciliar
com o espírito cristão as exigências da posição, as concessões a fazer às
afeições, o suporte dos abusos que se hesita em reprimir. Um conselho
autorizado pode então se constituir em um grande socorro. Parece que o livro em
questão pode concorrer a isso. Por isso, ficarei feliz se puder achá-lo de
novo.
Deve ter reencontrado com alegria sua cara residência
de Saint Laurent que deve, neste momento, estar resplandecente de todas as
maravilhas da primavera. A Senhora d’Hurbal, em particular, que trata dos canteiros,
deve admirar as primeiras flores, com as promessas mais lindas ainda da estação
de verão. É verdade que, nas mais amáveis moradas e nas mais satisfatórias
condições, não se está isento de penas e de provações. Mas, além de que o ano
não parece se apresentar à Senhora Marquesa sob aspectos inquietantes, seu
coração cristão sabe bem todo o partido que se pode tirar espiritualmente
dessas provações quotidianas. Mudam-se para nós, fazem-nos como que uma
gloriosa coroa pela união com a do Salvador e a santa conformidade à vontade de
nosso Pai Celeste. Tudo me deixa pensar que, cada vez mais, aceitará tudo nesse
espírito de perfeição. O Sr. de Caulaincourt está aqui há alguns dias, como
representante de Lille em grandes assembléias caridosas. Veio me visitar em
Chaville no dia aniversário do falecimento da Senhora de Caulaincourt, querendo
falar dela com alguém que a tivesse amado e apreciado.
Peço-lhe, se quiser, Senhora Marquesa, endereçar suas
cartas para Chaville. Na minha ausência, em Vaugirard, correriam o risco de
serem abertas, porque dei essa autorização para as cartas que se suspeita serem
de negócios.
Queira aceitar, para a Senhora d’Hurbal e para si
mesma, Senhora, os sentimentos de respeito e de devotamento de
Seu humilde e todo apegado servo em N.S.
Le Prevost