O Sr. Le Prevost dá graças pela felicidade de que goza seu amigo. Ele
se vê como um “pobre vaso quebrado”. Notícias de Montalembert e de Lamennais.
8 de
outubro de 1835
Deixar quinze dias inteiros sem responder a uma carta
tão terna, tão afetuosa como a sua, caro amigo, é me mostrar bem pouco digno
dela; mas não é mal, neste sentido, que minha insuficiência testemunha assim
contra os exageros de sua amizade e me traz de volta ao meu verdadeiro lugar:
ganharemos com isso nós dois, você, vendo mais exatamente, eu, sendo avaliado
como valho. Faço reserva, claro, para sua confiança em minha dedicação a você e
aos seus; nesse ponto, caro Victor, pode dar largas a seus sentimentos, há
espaço; vá para frente sempre e mais ainda, não vai chegar ao fim.
Senti isso, sobretudo nesses últimos tempos, a respeito da felicidade que lhe
aconteceu de tantos lados ao mesmo tempo. Provei essa felicidade como minha.
Saboreei-a aqui em paz, e o eco desse sentimento73 de sua vida, essa
influência de sua estrela sobre a minha não mudou; possa esse paralelismo durar
até o fim, o mistério da reversibilidade não terá sido sem frutos para mim.
Você me parece bem consciente, caro amigo, do grande dom que o Céu lhe fez.
Graças lhe sejam dadas por isso. Era meu grande, meu mais caro desejo nessa hora
solene, que ela fosse abençoada por Deus e que ele o mantivesse sob sua mão;
passada essa prova, pode-se dizer com confiança, sua vida inteira terá sido
unificada, você a trará de volta sem brecha nem racha ao Soberano Criador. A
linda obra, amigo, é uma vida assim cheia; como invejo a sua, ou antes, como
amo a meu Deus por tê-la assim feito para você! Como as obras de arte e as
maravilhas do gênio são pálidas e frágeis perto desta radiosa criação! E você
quer que eu o aconselhe, caro amigo, eu, pobre vaso quebrado, em pedaços e
fragmentos. Compare, amigo, e tire você mesmo o conselho. Que o fim corresponda
ao início. Tudo será bem, nobre e belo! Deus será satisfeito!
Continue, querido Victor, a me fazer um pequeno lugar em seu lar, a pôr às
vezes minha lembrança entre sua Louise e você, sinto-me tão feliz assim; você é
rico, seja hospitaleiro; como o pobre, assim eu, ao receber essa esmola, direi:
Deus lhe pague! Que lho retribua, sim, em doce paz, em amor por sua Louise, em
amor por aqueles que nascerem dela, em amor por todos, os de perto e os de
longe; só isso é necessário e bom, isso só é digno de você. Não se apavore
demais com alguns desgostos inevitáveis numa união íntima e constante, isso
passa. O fundo permanece quando é bom, os ímpetos demasiadamente salientes se
apagam com o tempo, e mesmo o trabalho por isso ocasionado é valorizado.
Tenho poucas notícias a dar-lhe de nossos amigos. O Sr. de Montalembert ainda
está viajando até o inverno. Ele sonha muito em se casar; tem uma grande
carreira a correr, ele o conseguirá, espero. A vontade anda nele com um ardor
um pouco exagerado, é riqueza exuberante e acho que não há nada a recear.
O Sr. Lacordaire deixou seu retiro da Visitação para estudo mais livre, dizem,
lamento isso. Havia tanta calma e paz nesse convento de pobres religiosas, seu
desapego era de um tão bom conselho, mas o Sr. Lacordaire terá feito para o
mellhor. Ele é sempre piedoso e humilde, como você sabe. Na quaresma retomará
sua cátedra. Ouvi-lo-emos de novo.
Eis tudo o que sei: as coisas andam e acontecem por aqui; mas providencialmente
e sem que os homens pareçam ter grande parte nelas; é tanto mais lindo, só que
se nota menos. É como um tipo de parábola viva, os que têm ouvidos ouvem, os
outros, não!
Mil ternuras ao pobre Edouard, eu lhe escrevi há pouco tempo. Tentava
timidamente voltar seus olhos para seu verdadeiro futuro. Tive medo de ter
feito demais ou demasiadamente pouco; de longe e estando ausente, essas coisas
se efetuam mal. Acompanhe-o, até o fim.
Lembrança também a M.
Ele vai indo bem, se não é para já, ao menos daqui um certo tempo, ele será dos
nossos; sua afeição por você lhe é um grande apoio. Seu nome pronunciado lhe
ergue o moral bem alto. Isso me dá esperança.
Não sei qual expressão assaz respeitosa e assaz terna encontrar para sua
bem-amada mulher. Procure por mim, amigo e fale, pronuncio palavra por palavra
após você.
Adeus. Seu irmão e amigo
Le Prevost
Seu bom, ótimo pai e Théodore também: não me esqueça perto deles. Recomendo-lhe
um lindíssimo livro: La douloureuse Passsion de N.S. J.C. traduzido do alemão
pelo Sr. Cazalès.
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