As
provações providenciais da vida. A peregrinação ao Mont St Michel e o despertar
da fé.
Chaville, 7 de outubro de 1873
Senhora
Marquesa,
Lendo sua
amável e honrada carta, notei, mais uma vez, o quanto sua vida aqui em baixo é
repleta de revezes e de acidentes. Em muito pouco tempo, conto, pela narrativa
que quis bondosamente me fazer, todo um conjunto de fatos que marcam uma
existência, partidas numerosas para esse mundo que ninguém conhece e para o
qual todos andamos. Felizes aqueles cuja fé ilumina os passos! A Senhora de St
Maur, a Senhora de Mirville, seus bons pais ou vizinhos estão nesse número.
Quantos outros são mal ou não preparados! Deus nos preserve de uma tal
infelicidade! Além disso, sua cara cunhada [Sra. de la Bouteresse] tão boa, às
portas da morte; algumas inquietações (exageradas, sem dúvida, ouso responder
por isso) sobre a saúde de seu caríssimo filho; enfim, dores espirituais do
lado de Vendôme onde, até agora, orações e tentativas de tantos tipos continuam
sem resultado aparente; eis aí muitas causas de emoções e de penas, sem contar
os cuidados prolongados por um grande interesse temporal. Por que, então,
tantas provações, tantos abalos altamente deflagráveis? A razão veria nisso
apenas dores, tristezas desanimadoras. Mas, como, pela luz de cima, tudo se
ilumina em sentido melhor! Será que se deve chorar amargamente aqueles a quem a
idade ou enfermidades graves tornavam a vida bem pesada, ou outros mais jovens
que escapam assim, talvez, a muitas aflições? Vão encontrar o descanso e essa
paz em Deus que supera todo sentimento. Os doentes curados serão mais
fervorosos, mais desapegados do que antes; enfim, se a conversão do pobre
impenitente é lenta para vir, será conseguida enfim, mais deslumbrante e mais
segura, pela perseverança das orações e das boas obras. Dupla glória para Deus,
na volta generosa do pobre extraviado e na fervorosa caridade das almas zelosas
que a tiverem obtido. A tudo isso, não me esqueço de acrescentar, para que o
Senhor seja bendito, esse pouco de calma e de paz espiritual de que começa
novamente a gozar, Senhora, e de que sente tanto mais o preço que a privação
havia sido penosamente sentida pela Senhora. É o sol depois do tempo sombrio.
Como ilumina e como aquece! Mas as nuvens tornarão a voltar, por essas alternativas
que terão fim somente no Céu. Que venha, então, esse Céu. Caminhemos
corajosamente para atingi-lo, e que importa um pouco de sofrimento, se deve ser
suportado, para chegar até lá?
Lamento
muito com a Senhora Marquesa que não tenha conseguido tomar parte na
peregrinação do Mont Saint Michel. Algumas pessoas de minha vizinhança que aí
estavam ficaram muito edificadas. A beleza admirável do local acrescenta, dizem
elas, às piedosas emoções das cerimônias religiosas. O sentimento unânime que
enche todas as almas, nessas multidões inumeráveis de cristãos fervorosos, é,
aliás, de um efeito irresistível: é o Espírito de Deus que sopra e que os faz
vibrar até em seus fundamentos.
Vou
aguardar uma próxima carta sua, Senhora, se me permitir, para ter notícias da
Senhora sua mãe, que me diz estar sofrendo um pouco. Nunca a separo da Senhora
em meus pensamentos, em minhas orações sobretudo. Preciso saber ambas em boa
saúde de corpo, em paz para o espírito, em terna união com Deus para a alma.
Vou Lhe pedir que esta carta a encontre nesse feliz estado, e que Ele o faça
durar tanto quanto o desejo.
Queira
aceitar, Senhora Marquesa, os novos protestos do respeitoso apego com o qual
sou
Seu humilde
servo e amigo em N.S.
Le Prevost
Junto aqui
a carta que quis bondosamente me comunicar. Entendo a pena que lhe causou.