Conselhos
nas dificuldades da vida de família.
Chaville, 26 de novembro de 1873
Senhora
Marquesa,
Noto
claramente, com a Senhora, que as provações e contrariedades se sucedem neste
mundo e que, para a Senhora em particular, estão longe de poupá-la e, muitas
vezes, como hoje, nos objetos que lhe são mais caros, os mais intimamente
unidos, seus bem-amados filhos. Mas acho que, na circunstância que a ocupa e a
entristece presentemente, o sofrimento e os mal-entendidos são apenas
acidentais. A convicção sendo bem estabelecida, para sua boa mãe e para a
Senhora, que seu jovem casal deseja cuidar exclusivamente da educação das duas
pequenas filhas e não gosta nem dos avisos, nem das observações, recuperarão
certamente, desse lado, a calma e a paz, abstendo-se e deixando ao tempo e à
experiência o cuidado de trazer seus úteis conselhos. Esses são os mais eficazes
e os melhor recebidos. São, às vezes, tardios e custam um pouco caro, mas ainda
são preciosos quando são aproveitados. O bom espírito de seus caros filhos lhes
assegura que será assim para eles. O difícil será, para a Senhora d’Hurbal e
para a Senhora, dominarem esse primeiro movimento que nos leva a procurar o bem
ou a prevenir o mal que parece ameaçar, mas conseguirão, se a resolução for,
uma vez, bem tomada. Toda influência salutar não lhes será proibida: mesmo
nesse caso, seus caros filhos, deixados a sua plena liberdade, recorrerão por
si próprios, às vezes, à sua ajuda que estarão felizes em reencontrar. A
juventude é assim feita, disposta à confiança em si, e muito ávida de
liberdade. Mas, nas almas bem dispostas como é o caso aqui, o abuso sério não é
de se temer. Em todo o caso, uma resistência aberta só acabaria em tristes
dissensões e em uma separação que seria deplorável para ambas as partes. Seus
caros filhos, numa morada separada, estariam um pouco sozinhos e não
encontrariam, sem despesa notável, o lindo apanágio do castelo Saint Laurent.
De seu lado, a Senhora sua mãe e a Senhora não teriam mais sociedade íntima e
habitual. O melhor, portanto, é viverem juntos, fazendo muitas concessões. Não
serão iguais, talvez, mas a bondade tão ordinária aqui nas duas mães e sua
condescendência cristã restabelecerão o equilíbrio. Estou bem persuadido de que
ai está o melhor partido, em qualquer situação, enquanto uma decisão contrária
não poderia ser tomada sem tentativas prolongadas e maduras reflexões.
A Senhora
Marquesa me perdoará dizer tão precisa e longamente meu parecer, mas a Senhora
me encorajou a isso, tomei a licença ao pé da letra. Para chegar até o fim,
acrescentarei que o divino Senhor, provando-a com tanta persistência,
testemunha o bastante quanto Ele a quer toda Sua. Ele a desapega das coisas da
terra, para preparar na Senhora um amor maior dos bens espirituais. A luta é
rude e penosa para a natureza, mas a vitória será bem meritória e terá doces
consolações. Deus é tão bom e nos ama tão fortemente que, se não temos a
coragem de nos doarmos, Ele quer, bondosamente, Ele mesmo nos tomar. Deixemos
somente que Ele o faça e consintamos na sua paterna ação.
Não me
esqueço dos bons tios. Sua idade quer que não sejam perdidos de vista diante do
Senhor e, já que estão, parece, confiados por ele à sua guarda, velemos e
oremos. Ponho-me humildemente com a Senhora, nessa santa obra, na qual quis
bondosamente me dar uma parte. Farei o possível para concorrer para tanto da
melhor forma possível447.
Ofereço à
Senhora d’Hurbal minhas profundas homenagens e lhe peço, Senhora Marquesa, para
aceitar meus mais respeitosos sentimentos em Jesus e Maria.
Le Prevost