Conselhos
e encorajamentos a respeito do Moniteur des Jeunes
Ouvriers, redigido pelo Sr. Maignen. O Sr. Le Prevost desenvolve seu ponto
de vista sobre a filosofia do operário.
15 de dezembro de 1873
Meu caro
amigo e filho em N.S.,
Não me
parece que haja qualquer censura a fazer ao Moniteur de l’Ouvrier. Sua
composição é conveniente e sua redação é também boa. Tem razão ao querer
dar-lhe sua utilidade e sua cor próprias. Tem razão também ao dar muito valor ao
gênero que é seu e aos recursos que Deus pôs em sua pessoa. É por ali que
valerá e produzirá o bem. Siga por esse caminho franca e resolutamente, bem
persuadido de que estará na verdade, na única via que lhe convém tomar.
Não sei se
tem de se queixar por não ter bastantes leitores e por não encontrar simpatia
suficiente. Se fosse assim, precisaria, para seu trabalho, como para tantos
outros escritos de valor real, atribuir isso à multidão cada vez mais
exuberante das publicações com que se fica inundado, invadido de todos os lados
e que produzem, com o tempo, o desgosto, a indiferença nos espíritos, com uma
diminuição bem mais triste ainda do senso da verdade, do gosto pelo bem e da
potência da vontade. Essas são palavras bem empoladas a respeito do modesto e
sábio Moniteur de l’Ouvrier, mas o descaramento do pensamento, da
palavra, da imprensa me parece ser o flagelo de nossa época. Transborda sobre
tudo, grande e pequeno, e ameaça engolir tudo. É, em particular, o inimigo de
sua publicação.
A conseqüência
não é, para mim, que se deva calar e abster-se do bem, mas reprimir em tudo o
excesso, favorecer sabiamente o que é bom e amordaçar absolutamente o que é
pernicioso (tudo isso aqui é para consolá-lo, se não tem tanto êxito quanto
teria direito de esperar.)
Acho que
tornará muito interessante a leitura do Moniteur todas as vezes que
puder pôr em ação os conselhos e ensinos morais que quer dar a seus jovens. Tem
o talento próprio para os quadros de gênero. Os estudos de costumes, as cenas
de família lhe convêm, você capta bem o que há de amável, de comovedor, ou de
cômico e de jocoso nos fatos, nos caracteres. Aí está um precioso dom, que vem
do coração e do espírito juntamente. Você, muitas vezes, tirou um excelente
partido disso, desenvolva-o cada vez mais, é um filão bem rico que pode servir
muito para atrair para o bem e inspirar o horror ao mal. Não é esse todo o seu
objetivo? Pode, assim, mostrar o operário sob todos os aspectos, em todas as
idades, em todas as lutas, em todas as vitórias. Quereria (você também quer)
que tomasse o operário como sua tarefa, seu estudo, sua obra única; que a vida
do operário, sua carreira, seus deveres, suas penas, suas alegrias fossem como
uma grande epopéia de que se apoderaria para destacá-la, iluminá-la, vivificá-la,
enobrecê-la. O quadro é amplo, mas, com um plano bem concebido, prosseguido com
perseverança, ora sob uma forma, ora sob outra, se pode fazer um trabalho
lindo, útil, salutar. A obra, no seu conjunto, deveria ser: A filosofia do
operário. Tenderia a popularizar, a espalhar nos espíritos, entre as
classes operárias, usando ficções cativantes e bem tratadas, os grandes pontos
de vista dos Lacordaire, de Mermillod, Félix, Matignon, etc.etc. Alguns ensaios
nesse gênero foram feitos: Emile Souvestre (que não li), a primeira obra do Sr.
Lamothe (esqueço o nome): um condenado que, pelo trabalho, se reergue e se
reabilita, o Pedreiro, do Sr. Maçon (acho), e outros: H. Conscience, Bourdon.
Mas a mina está apenas aberta, fica para explorá-la mais amplamente, mais a
fundo sobretudo.
Repete-se
sem cessar que as idéias governam o mundo. Nada mais verídico, mas as idéias só
entram no espírito do povo na medida em que têm uma forma acessível para ele,
tocam sua alma, sua imaginação, suas paixões. É por ali que o prendem, no
sentido pior, tantos autores que o extraviam. Sirvamo-nos desses meios para o
bem.
Talvez lhe
parecesse temerário empreender sozinho essa tarefa; por que, então, não
tentaria associar a essa idéia alguns escritores de bom espírito e de talento,
como se faz para toda publicação que exige continuidade e forças reunidas? Se
se apresentasse com um plano, um programa bem concebido, encontraria, acho,
resposta a seu apelo.
Em todo o
caso, se, gostando pouco desse projeto de Sociedade, quisesse limitar-se
unicamente a seus recursos, infelizmente muito restritos por causa do pouco
tempo de calma e de liberdade de que dispõe, não insistiria menos para que
tentasse, com reflexão e plano premeditado, popularizar, em composições
atraentes, as idéias, as verdades que podem e devem entrar no espírito do povo
operário. Se pudesse juntar a seu redor alguns homens capazes e práticos, mesmo
que fossem apenas dois ou três, para assisti-lo, conseguiria também formar um
Círculo, uma Associação de industriais e comerciantes cristãos que lhe seriam,
para seus jovens, de um grande apoio e que duplicariam a importância de sua
obra. Seu isolamento, junto com seus encargos pesados demais, paralisa sua
ação. Recorramos muito e com perseverança a Deus, seu socorro virá enfim. É
sempre a esse recurso supremo que é preciso voltar.
Adeus, meu
caro filho em N.S. Pena que eu não seja jovem, válido e de
valor sério! Como me seria agradável trabalhar com você que me deu seus mais
lindos anos e toda a flor de sua alma. Infelizmente, em suas necessidades,
hoje, tenho somente conselhos para lhe oferecer, inúteis talvez, e votos, não
direi estéreis, porque os colocarei ardentemente no mais íntimo do Coração
divino do Senhor nosso Deus!
Seu amigo e
Pai em Jesus e Maria
Le Prevost
Nem precisa
dizer que, em toda hipótese, o Moniteur conservaria suas notas, avisos,
comunicações que estabelecem a união entre as obras que o escolheram como ponto
central de seus relacionamentos.
O R.P.
Matignon trata, creio, neste ano em Notre-Dame: Dos relacionamentos do operário
com o patrão. Dei uma olhada em algum trecho, faz-me pensar que o Moniteur
tomaria dele, talvez, algumas boas idéias.
Talvez se
representasse útil e justamente o estado atual de nossa sociedade pelo interior
de uma família onde tudo está fora da ordem. O pai de família, cuja autoridade
é desconhecida, como a do próprio Deus, se retirou e mora à distância; a mãe
geme, intervém em vão; os filhos, em desacordo, brigam entre si, querelam-se
para a predominância e para os destroços de uma fortuna em desorganização
completa; uma jovem irmã, vítima involuntária dessas discórdias, sofre e reza.
Enfim, um raio do céu cai sobre esse lar de divisões e de anarquia; ilumina
pouco a pouco os espíritos e aquece os corações, a luz surge, a ordem
reaparece, a família reencontra, com a fé e o dever, o acordo, a paz, a
felicidade. Aleluia!