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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1701 - 1806 (1872 - 1874)
    • 1770 - ao Sr. Maignen
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1770 - ao Sr. Maignen

Conselhos e encorajamentos a respeito do Moniteur des Jeunes Ouvriers, redigido pelo Sr. Maignen. O Sr. Le Prevost desenvolve seu ponto de vista sobre a filosofia do operário.

 

15 de dezembro de 1873

 

Meu caro amigo e filho em N.S.,

 

Não me parece que haja qualquer censura a fazer ao Moniteur de lOuvrier. Sua composição é conveniente e sua redação é também boa. Tem razão ao querer dar-lhe sua utilidade e sua cor próprias. Tem razão também ao dar muito valor ao gênero que é seu e aos recursos que Deus pôs em sua pessoa. É por ali que valerá e produzirá o bem. Siga por esse caminho franca e resolutamente, bem persuadido de que estará na verdade, na única via que lhe convém tomar.

 

Não sei se tem de se queixar por não ter bastantes leitores e por não encontrar simpatia suficiente. Se fosse assim, precisaria, para seu trabalho, como para tantos outros escritos de valor real, atribuir isso à multidão cada vez mais exuberante das publicações com que se fica inundado, invadido de todos os lados e que produzem, com o tempo, o desgosto, a indiferença nos espíritos, com uma diminuição bem mais triste ainda do senso da verdade, do gosto pelo bem e da potência da vontade. Essas são palavras bem empoladas a respeito do modesto e sábio Moniteur de lOuvrier, mas o descaramento do pensamento, da palavra, da imprensa me parece ser o flagelo de nossa época. Transborda sobre tudo, grande e pequeno, e ameaça engolir tudo. É, em particular, o inimigo de sua publicação.

 

A conseqüência não é, para mim, que se deva calar e abster-se do bem, mas reprimir em tudo o excesso, favorecer sabiamente o que é bom e amordaçar absolutamente o que é pernicioso (tudo isso aqui é para consolá-lo, se não tem tanto êxito quanto teria direito de esperar.)

 

Acho que tornará muito interessante a leitura do Moniteur todas as vezes que puder pôr em ação os conselhos e ensinos morais que quer dar a seus jovens. Tem o talento próprio para os quadros de gênero. Os estudos de costumes, as cenas de família lhe convêm, você capta bem o que há de amável, de comovedor, ou de cômico e de jocoso nos fatos, nos caracteres. Aí está um precioso dom, que vem do coração e do espírito juntamente. Você, muitas vezes, tirou um excelente partido disso, desenvolva-o cada vez mais, é um filão bem rico que pode servir muito para atrair para o bem e inspirar o horror ao mal. Não é esse todo o seu objetivo? Pode, assim, mostrar o operário sob todos os aspectos, em todas as idades, em todas as lutas, em todas as vitórias. Quereria (você também quer) que tomasse o operário como sua tarefa, seu estudo, sua obra única; que a vida do operário, sua carreira, seus deveres, suas penas, suas alegrias fossem como uma grande epopéia de que se apoderaria para destacá-la, iluminá-la, vivificá-la, enobrecê-la. O quadro é amplo, mas, com um plano bem concebido, prosseguido com perseverança, ora sob uma forma, ora sob outra, se pode fazer um trabalho lindo, útil, salutar. A obra, no seu conjunto, deveria ser: A filosofia do operário. Tenderia a popularizar, a espalhar nos espíritos, entre as classes operárias, usando ficções cativantes e bem tratadas, os grandes pontos de vista dos Lacordaire, de Mermillod, Félix, Matignon, etc.etc. Alguns ensaios nesse gênero foram feitos: Emile Souvestre (que não li), a primeira obra do Sr. Lamothe (esqueço o nome): um condenado que, pelo trabalho, se reergue e se reabilita, o Pedreiro, do Sr. Maçon (acho), e outros: H. Conscience, Bourdon. Mas a mina está apenas aberta, fica para explorá-la mais amplamente, mais a fundo sobretudo.

 

Repete-se sem cessar que as idéias governam o mundo. Nada mais verídico, mas as idéiasentram no espírito do povo na medida em que têm uma forma acessível para ele, tocam sua alma, sua imaginação, suas paixões. É por ali que o prendem, no sentido pior, tantos autores que o extraviam. Sirvamo-nos desses meios para o bem.

 

Talvez lhe parecesse temerário empreender sozinho essa tarefa; por que, então, não tentaria associar a essa idéia alguns escritores de bom espírito e de talento, como se faz para toda publicação que exige continuidade e forças reunidas? Se se apresentasse com um plano, um programa bem concebido, encontraria, acho, resposta a seu apelo.

 

Em todo o caso, se, gostando pouco desse projeto de Sociedade, quisesse limitar-se unicamente a seus recursos, infelizmente muito restritos por causa do pouco tempo de calma e de liberdade de que dispõe, não insistiria menos para que tentasse, com reflexão e plano premeditado, popularizar, em composições atraentes, as idéias, as verdades que podem e devem entrar no espírito do povo operário. Se pudesse juntar a seu redor alguns homens capazes e práticos, mesmo que fossem apenas dois ou três, para assisti-lo, conseguiria também formar um Círculo, uma Associação de industriais e comerciantes cristãos que lhe seriam, para seus jovens, de um grande apoio e que duplicariam a importância de sua obra. Seu isolamento, junto com seus encargos pesados demais, paralisa sua ação. Recorramos muito e com perseverança a Deus, seu socorro virá enfim. É sempre a esse recurso supremo que é preciso voltar.

 

Adeus, meu caro filho em N.S. Pena que eu não seja jovem, válido e de valor sério! Como me seria agradável trabalhar com você que me deu seus mais lindos anos e toda a flor de sua alma. Infelizmente, em suas necessidades, hoje, tenho somente conselhos para lhe oferecer, inúteis talvez, e votos, não direi estéreis, porque os colocarei ardentemente no mais íntimo do Coração divino do Senhor nosso Deus!

 

Seu amigo e Pai em Jesus e Maria

 

                                               Le Prevost

 

Nem precisa dizer que, em toda hipótese, o Moniteur conservaria suas notas, avisos, comunicações que estabelecem a união entre as obras que o escolheram como ponto central de seus relacionamentos.

 

O R.P. Matignon trata, creio, neste ano em Notre-Dame: Dos relacionamentos do operário com o patrão. Dei uma olhada em algum trecho, faz-me pensar que o Moniteur tomaria dele, talvez, algumas boas idéias.

 

Talvez se representasse útil e justamente o estado atual de nossa sociedade pelo interior de uma família onde tudo está fora da ordem. O pai de família, cuja autoridade é desconhecida, como a do próprio Deus, se retirou e mora à distância; a mãe geme, intervém em vão; os filhos, em desacordo, brigam entre si, querelam-se para a predominância e para os destroços de uma fortuna em desorganização completa; uma jovem irmã, vítima involuntária dessas discórdias, sofre e reza. Enfim, um raio do céu cai sobre esse lar de divisões e de anarquia; ilumina pouco a pouco os espíritos e aquece os corações, a luz surge, a ordem reaparece, a família reencontra, com a e o dever, o acordo, a paz, a felicidade. Aleluia!

 

 

 

 

 

 

 

 




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