Conselhos
para a vida de família. O fogo da alma: pedir a Deus para “aumentá-lo e
transformá-lo em verdadeira e doce caridade”. Provações de saúde.
Chaville, 29 de junho de 1874
Senhora
Marquesa,
Se não
estivesse acostumado à sua tão amável indulgência, não ousaria lhe escrever,
pois a debilidade de minhas mãos trêmulas não me permite conduzir minha pena,
ela se arrasta no papel, levada por seu capricho, sem que possa lhe dar uma
direção. Peço emprestada uma mão estrangeira para escrever aos indiferentes,
mas como usar um semelhante recurso para conversar com a Senhora? Mais vale
fazer sofrer sua paciência por uns rabiscos ilegíveis. A benevolência, de sua
parte, suprirá a imperfeição de meus sinais e adivinhará, quando não puder mais
ver.
De meu
lado, entendi bem, mesmo antes de ter recebido sua cara epístola, que os
embaraços não deviam ter-lhe faltado na chegada, para sua reinstalação em Saint Laurent e para
a recepção dos hóspedes e parentes, que sua presença atrai logo que se sabe que
a Sra. está no campo. Poderia, sem dúvida, tornar esses cuidados menos
numerosos se sua acolhida fosse menos cordial e menos amável, mas o calor do
coração atrai como o de fora no inverno. Cada um quer se aquecer onde sabe que
o fogo crepita e brilha. E esse fogo da alma, como apagá-lo? Não é Deus que o
acende? Longe de lá, é preciso pedir-Lhe para entretê-lo e aumentá-lo, para
purificá-lo, para transformá-lo em verdadeira e doce caridade. Quantas ocasiões
neste mundo de se servir dele! Na família, em particular, a Senhora o
experimenta bem neste momento. Deve velar sobre a saúde do Sr. seu filho, ainda
mal restabelecida, sobre a de sua excelente mãe que sua ferida da perna prova
penosamente há muitas semanas, e as queridas netas, e os veneráveis tios, mais
do que todos os outros aqueles, já que o tempo é, para eles, mais incerto.
Quantos objetos de atenções, quantos sujeitos para exercer sua afetuosa
caridade! Não é demais, já que sabe ainda se estender a outros que recebem seu
favor gratuitamente e sem nenhum título. Aqui, minha mão recusa seu serviço e
me obriga a parar...
30 de junho.
Tento continuar. Esperava um pouco, fracamente, quando de sua saída, que minhas
forças poderiam se firmar. Aconteceu diferentemente, diminuíram, ao contrário,
sensivelmente, a ponto de me tornar quase incapaz de movimento. Fico no quarto
o dia todo, chegando somente à capela de manhã para minha missa, que tenho a
consolação de celebrar até agora. Guardo, por conseguinte, as piedosas
intenções que a Senhora sua mãe e a própria Senhora me recomendaram. É-me bem
doce, com certeza, celebrar essas missas. Atualmente, só ouso olhar de longe, e
pelo pensamento, a cara capela de Saint Laurent onde, graças a seu amável
convite, tinha a perspectiva de rezar por toda a sua família, mas meu estado de
saúde não está, talvez, sem remédio e, com alguma volta de forças, uma viagem
deixaria de me ser impossível. Essa espera me ajudará a almejar viver ainda um
pouco, para rever a Normandia, respirar o ar natal e, acima de tudo, usufruir
suas caras presenças. De outra forma, queira ter a certeza de que, pela
lembrança e diante de Deus, me unirei fielmente à Sra. e a tudo o que lhe é
caro.
Seu humilde
e bem respeitoso servo
Le Prevost