Como
suportar as provações da vida. Estado de fraqueza do Sr. Le Prevost.
Chaville, 2 de agosto de 1874
Senhora
Marquesa,
A Senhora
permite que, para lhe escrever, use de uma mão estrangeira. Com muito pesar,
recorro a esse meio, pois a enfermidade de minhas próprias mãos torna minhas
letras absolutamente ilegíveis. Mas o enfraquecimento sempre crescente de minha
saúde não influi em nada sobre meus sentimentos devotados para com a Senhora e
os seus, bem particularmente para com a Senhora sua mãe e seus caros filhos.
Entendo bem a situação penosa que me descreve, a terna afeição que une sua
família não impede esses poucos dissentimentos que, sem atingir o coração,
exercem os caracteres, prejudicam a paz das almas. Pode-se sofrer muito,
sobretudo sendo impressionável e sensível. A senhora o experimenta duramente às
vezes, vejo, mas que fazer? E que remédio apresentar? Não conheço muitos.
Controlar-se, dominar-se, é fácil de se dizer, mas que esforços são necessários
para consegui-lo! Como permanecer calmo e não sofrer em presença de fatos que
parecem contrários à razão e ferem todos os nossos sentimentos? Um olhar para o
Céu, um apelo interior para o Deus de toda sabedoria, Deus paciente, indulgente
e misericordioso: eis aí o único caminho que traz de volta a calma em nosso
espírito, lembrando-nos de que ter paciência é nosso quinhão na terra e nosso
mais seguro mérito diante do Senhor. Tenha certeza de que rezo com a Senhora,
para que inspiração e fortaleza lhe sejam dadas, a fim de alcançar essa
generosa vitória.
Essas
provações não são as únicas que lhe são impostas: o estado de saúde moral e
físico de seus caros tios lhe causa grandes preocupações [Sr. de Bailleul e o
General d’Hurbal], para aquele que está perto de você particularmente. Mas não
cansemos de esperar e de rezar, lembremo-nos destas palavras dirigidas a Santa
Mônica: “A pessoa por quem tanto se rezou e se chorou não poderia perecer”.
Como estou
comovido por seus amáveis convites para a viagem na Normandia e a visita aos
caros castelães de Saint Laurent. Essa doce satisfação não me será concedida no
momento atual, segundo toda aparência. Minha fraqueza, já grande no momento de
sua saída, aumentou singularmente depois, a tal ponto que andar, agir um pouco
ativamente, se tornou impossível para mim. O sono e o apetite me fazem falta.
Parece que minha vida se extingue e não pode mais durar muito. Mas, se é assim,
guardarei para os que foram para mim de uma tão amável bondade uma viva e
profunda gratidão, usando para com eles essa força que conserva a oração, mesmo
após ter ultrapassado o limite que separa nosso mundo do mundo melhor.
Seu caro
tio, Sr. de Caulaincourt, veio me visitar em Chaville nestes últimos dias.
Poderá dizer-lhe, na ocasião, que seria bem incapaz para a menor viagem. Possa,
ao menos, se Deus se dignasse me chamar, cumprir bem aquela viagem que leva a
Ele.
Muito
obrigado mil vezes, Senhora Marquesa, por suas oferendas tão bondosas para o
vinho. O que me deu ainda não acabou, bebo somente um pouco dele no fim da refeição.
A riqueza de suas qualidades me é preciosa, torna-o, neste momento, forte
demais para fazer dele um uso constante.
Terá sido
informada de que o Sr. de Loisy, um momento bastante gravemente doente em
Paris, pôde voltar para casa quase completamente refeito.
Queira,
Senhora Marquesa, fazer aceitar minhas respeitosas lembranças à Senhora sua
mãe, e receber, pessoalmente, minhas profundas homenagens de respeito e de
devotamento em N.S.
Le Prevost
P.S. Falo
baixo, meu secretário não pôde me ouvir perfeitamente.