Sua saúde se mantém,
mas sua alma está desorientada. A Conferência São Sulpício esmorece um pouco;
uma seção foi constituída no Bairro St-Germain. Lacordaire pregou em Notre-Dame
de Paris em favor dos órfãos da cólera. Os Jesuítas de Place e de Ravignan
começam a se dar a conhecer. A vocação de seu amigo está entre as mãos da
Providência.
6 de
janeiro de 1836
Meu muito querido amigo, não é, dou-lhe a certeza disso, por represálias que
minha resposta lhe chega tão tarde. É por simples e pura insuficiência de minha
pobre cabeça que, durante esses dias nebulosos, sobretudo, não concebe nem
produz nada, nem mesmo o ato mais fácil e mais doce, senão com pena, devagar e
com grandes intervalos. Não sofro, minha saúde é até mais ou menos, mas minha
vida é tão ruim, tão pobre, que é uma lástima; é como um pequenino fio de água
correndo sobre os grãos de areia: mais um pouco, se perderia
completamente. Com isso, a quem refrescar ou dessedentar? Um passarinho ou uma
formiga, mas gente do seu tipo, amigo, eles não teriam, juntando tudo, o
necessário para um só desjejum. Falo aqui, claro, da vida espiritual e moral.
Quanto à vida das pernas nada pára sua atividade triunfante, sempre correndo,
sempre apressado, só falta a esse respeito uma coisa, saber aonde vou, por que
corro, qual a vantagem para mim, ou para outros. Eis aí minha história em
quatro palavras: corpo e alma.
Você está vendo que não havia pressa para lha
contar. Quanto ao resto, não sei se, como na icterícia, vejo tudo amarelo, mas
nada ao meu redor me parece merecer atenção, fora de um só fato que talvez seja
velho para você. Alguns dias após a Festa de Todos os Santos, nosso amigo, o
Sr. Estève, nos fez seus adeuses e entrou no Seminário de Issy; ele se encontra
ali às mil maravilhas e não quer sair, a não ser para entrar no ano que vem no
Seminário Maior de Paris. Devo ir visitá-lo daqui a pouco com o amigo de
Montrond75 que parece, ele, dirigir-se definitivamente para uma
carreira diferente. Nossa pequena sociedade subsiste, mas não aumenta; há,
neste momento, um pouco de hesitação, uma seção se formou no bairro Saint
Germain, ela tem dificuldade em tomar vida, temos grande necessidade da
ajuda de Deus e dos nossos santos padroeiros, grande necessidade também das
orações dos nossos amigos; ore portanto por nós, você que nos ama.
Consegui reunir, ainda desta vez, alguns fundos para seus aluguéis; terei ao
todo 38 francos. Faltar-me-ão, por conseguinte, 37 francos que adiantarei. O
Sr. de Persan deseja não pagar-lhe aqui os 15 francos que lhe deve, disse-me
ter escrito ao padre Teissier (acho) para que esse dinheiro lhe fosse entregue
em Chartres.
Suas pobres protegidas estão sempre no mesmo estado, espiritualmente muito bem,
tenho confiança, temporalmente muito provadas pelo bom Deus. Ele mesmo cuida,
aliás, de consolá-las. Dona Delatre comungou em casa esses últimos dias.
O Sr. Lacordaire pregou recentemente em Notre-Dame em favor dos órfãos da
cólera.Não foi feliz, seu discurso pareceu geralmente ruim; ele se reerguerá;
aliás, a Providência tomou isso como bom, o objetivo foi atingido, recolheram
na coleta muito dinheiro.
Um jovem Jesuíta, Sr. de Place, começa a se fazer aqui uma grande reputação, ao
meu ver, bem merecida; um outro, o Sr. de Ravignan, ex-procurador do Rei,
inicia, dizem, com um brilho extraordinário.Na Quaresma, você poderá ouvi-lo;
este último deve pregar em
Saint Roch.
Você deixa, caro amigo, sua vocação definir-se
pouco a pouco, e faz bem, creio; a Providência, se você se deixar
conduzir, levá-lo-á onde ela quer. Rezo por isso sem pular um só dia;
quanto a você, conserve de mim uma piedosa lembrança junto ao nosso divino
Mestre; minha situação é bastante calma, mas você sabe, enquanto esta paz não
tiver como alicerce, de ambos os lados, a fé, a caridade, não se pode contar
muito com ela.
Associar-me-ei com toda minha alma às orações
por seu irmão; diga-me, por favor, o endereço do príncipe de Hohenlohe, talvez
eu recorra a ele em favor de nosso pobre Guépin cuja existência, por
miserável e doentia que seja, é um primeiro milagre. Li recentemente uma obra
do príncipe de Hohenlohe precedida de uma notícia escrita por ele mesmo sobre
sua vida. A obra é nula, mas se encontra nela fé, piedade fervorosa, é o
bastante. Procure adquirir a Douloureuse Passion de Jésus-Christ por Irmã
Emmerich, é uma obra maravilhosa.
Tudo seu em Jesus Cristo
Le Prevost
Recomendo-me instantemente às orações do Sr.
Lecomte, sobretudo pela conversão de quem você sabe.
|