Amizade real, mas sem
afinidade com Théodore, irmão de V. Pavie. O Sr. Le Prevost pensa que não tem
mais nem influência nem ação junto aos seus amigos. Morte de seu amigo Guépin;
deixa falar seu coração e sua fé. Como vão seus amigos angevinos de Paris. Que
V. Pavie seja paciente com a Providência: ela velará sobre seu primeiro filho.
18 de maio
de 1836
Em primeiro lugar, caro amigo, e antes mesmo de
todo agradecimento por sua bondosa e fraterna carta, devo fazer justiça,
desculpar Théodore que você acusa injustamente e sobre o qual me terei também
expressado inexatamente. Não tenho motivo algum de me queixar dele, longe
disso. Em toda ocasião me mostrou plena confiança e amizade, expansão em toda a
medida em que ela é possível nele, procura tanto quanto se concilia com seus
trabalhos e costumes. O que quis dizer, caro amigo, e que repito, é que toda
influência sobre ele da minha parte é impossível, porque a afinidade falta, não
às nossas almas, mas às nossas naturezas. Você mesmo caro, caríssimo Victor,
com sua vida movimentada a remoinhar, ter-me-ia completamente deixado fora de
você mesmo, se não sei que canto fraco e terno em você não me tivesse detido e
ligado intimamente. Fora disso ainda, você não sabe, por experiência, o que
precisa de força corporal, além da do coração, para cultivar as afeições? É com
o suor de sua fronte que se ganha seu pão também nessa ordem de sentimento;
precisa-se de mil cuidados, mil corridas, mil assiduidades e, quanto a mim,
minhas pernas falham mais ainda do que minha caridade. Moro longe, a menor
corrida me esgota; por desânimo, deixo tudo escapar, os laços afrouxam ou
deixam de se formar. Sinto-o, lamento-o, mas o que fazer? A alma vai, e o corpo
fica; então trago de volta a alma também. Rezo um pouco e me consolo, pensando
que a oração é um laço também, invisível talvez na terra, mas poderoso no alto
e que nos religa ao seio de Deus. Eis aí a minha história, caro amigo; de um
dia para outro, meu espaço vai diminuindo. Atenuo-me, apago-me de influência e
ação. Não saberia ter nenhuma. Théodore, Godard, Maillard e nossos caros amigos
de Angers, tudo isso vive, corre, espalha-se, anda para o bem, espero,
mas sem que eu faça nada ou nada possa.
A alma de nosso pobre Edouard semivacilante, já acima de seu corpo esgotado,
era a única verdadeiramente unida à minha, mas não era por afeição humana; por
isso, quase não o tenho segurado. Pedia mais dias ainda somente na medida em
que contariam para a salvação. Completada a medida, bendigo a Deus, que a
retomou e libertou. Tinha chorado Edouard aqui, porque o via sofrer muito e
porque a parte sensível em mim se emocionava por isso. Mas depois, quase com
calma, olhava de longe essa maravilhosa libertação do espírito que se depura e
levanta vôo. Enquanto vivia, havia pacto entre nós, orávamos um pelo outro,
agora o acordo ainda dura, oro aqui, ele lá em cima.
Vi Bruneau uma só vez.
Essa surdez me desconcerta mais do que saberia dizer. Jerôme que não vejo, que
somente encontro, é feliz, acho. Ele e alguns amigos vivem em comunidade
cristã, quase monástica. Se isso se firmar, será para seu bem. Marziou não vai
para frente. Godard sempre gira ao redor de si mesmo. Gavard imagina e
desatina. Léon argumenta e discute. Maillard se esconde e foge sempre.
Você, sozinho, meu caro amigo, podia amassar todos esses elementos, fundi-los,
com eles fazer um só conjunto; eu, mesmo separadamente, não saberia controlar
nenhum deles.
Não pode ser com seriedade, caro Victor, que já esteja
ralhando, porque vocês são somente dois ainda em casa. Aguardem,
então, um pouco, a Providência prepara lentamente, e com amor, a alma de seu
filho. Não perturbem sua obra por sua impaciência. Rezem os dois juntos com
calma, com confiança e vontade resignada. Deus ama sua família, quase ouso
assegurá-lo, e quer abençoá-los ainda em seus filhos. Tenho uma Vida de Tobie,
pequena brochura, em alemão, com algumas vinhetas. Essa história é tão
comovente, tão bem apropriada a toda família cristã que a mando a vocês,
apesar de seu parco mérito. Tinha-a comprado para vocês, realizem-na pensando em
mim; encontram-se ali admiráveis e ternos conselhos para sua situação.
Seu excelente pai ficou aqui muito tempo, e, no entanto, quase só o entrevi.
Era impossível achá-lo. Amo-o todavia assim; ele me lembra as corridas
extenuantes de você, suas visitas ofegantes. Pensava que ele corria assim para
alcançá-lo mais depressa e o entendia bem; no lugar dele, eu, seu irmão,
correria certamente também. Adeus, caro amigo, fale sempre de mim com sua
querida mulher; amem-me, vocês dois. Ser casado é amar a dois, em vez de amar
sozinho.
Seu devotado amigo
Le Prevost
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