O Sr. Le Prevost
encoraja seu amigo a responder ao apelo do Senhor. Transmite-lhe os conselhos
de seu próprio diretor espiritual, o padre Malet. A Conferência de São Vicente
de Paulo se desenvolve. Nomeação do Sr. Le Prevost como presidente da seção
Saint-Sulpice. A pequena casa dos órfãos. Pedido de orações por sua esposa.
Paris, 24
de dezembro de 1836
Sua boa e longa carta, meu caro amigo, me consolou da espera, demais prolongada
a meu gosto, que a precedera; não estava, é verdade, absolutamente sem notícia
sobre sua situação; de diversos lados, havia recolhido, aqui umas palavras, ali
mais outras, e o conjunto era o bastante para me tranqüilizar, mas eu tinha
necessidade de comunicações mais diretas para penetrar no que o toca, tão intimamente
como o quer meu coração. Sua carta preenche plenamente esse voto, você colocou
nela sua alma toda inteira, e pude ler nela em liberdade. Apresso-me
em dizer-lhe isso, meu caro amigo, a impressão que fica dela para mim, de livro
fechado, é de satisfação e de alegria perfeita. Deus continua sua obra em você
com a mesma bondade e a mesma misericórdia. Do seu lado, você o deixa fazer sem
resistência, tudo bem; Ele o despoja, tira-lhe, uma a uma, todas as coisas que
você acredita suas; bendiga-o, esse ladrão sublime, como ousa chamá-lo
Bossuet; quando tiver tomado tudo, que você estiver bem à sua mercê, do fundo
de sua pobreza, você o verá regressar com as mãos cheias, trazendo tudo de
volta, mas mudado, purificado, santificado: fé, amor, esperança, fervor, força
e luz; sua alma ficará saciada e gritará: Senhor, basta!
Se, portanto, a provação continua, se sua miséria ainda aumenta, fique em paz,
sorria docemente para si mesmo e diga: meu Deus, compreendo-vos, escondeis-vos
em vão, eu bem sei, vós não estais longe.
Essas palavras tranqüilizadoras, não sou eu, meu caro irmão, que lhas dou, é um
piedoso e sábio eclesiástico78 consumado no estudo das consciências,
que mas confia para você. A provação, diz-lhe ele expressamente, é a
medida das graças que Deus quer dar em seguida e o indício também da grandeza
de suas intenções sobre uma alma; quando uma árvore deve crescer alta e
estender para longe seus ramos, o vento a sacode para todos as direções a fim
de que as raízes penetrem fundo na terra; é o sinal de predestinação, os santos
todos passaram por isso. Sua carta que comuniquei a esse homem venerável,
confirmou-o em seu pensamento. Ele quer que você siga tranqüilamente seu
caminho como se tudo o que acontece em você não lhe concernisse. Se os abalos
se tornassem fortes demais, ele o aconselharia recorrer aos Sagrados Corações,
tão venerados por você, e a São José todo poderoso contra as penas interiores.
As ladainhas desse Santo durante nove dias, mas somente se isso é possível e
lhe convém, pois, repito, quanto ao presente, tudo lhe agrada e lhe parece
perfeito. Não tenho nada a acrescentar a esses excelentes conselhos. Eu, pobre
ignorante, sem título nem missão, só poderia extraviá-lo. Tenho unicamente
minhas orações a lhe oferecer, e em nenhum dia deixo de dirigir alguma ao
Senhor por você; possa ele me ouvir e guardá-lo sempre entre seus filhos mais
amados!
Vou ser obrigado, meu caro amigo, a parar bruscamente agora, porque meus
trabalhos me apertam nesta estação em que os dias são tão breves; acrescento
somente uma palavra em resposta a suas perguntas. Nossos amigos Estève,
Lambert, L. estão em Saint-Sulpice, felizes e satisfeitos; a saúde do Sr.
Lambert sofre um pouco, aí está a provação dele; o Sr. de Galambert está nos
Jesuítas, feliz também; o Sr. de Montrond casado, feliz em sua via, as
provações virão, ele pode contar com isso. O catecismo de Mannat prospera.
Nossa pequena conferência vive sempre e conta com 5 seções, fala-se de uma
sexta para Saint-Roch. Ela tende a tornar-se, cada vez mais, paroquial, e,
ficando leiga, a colocar-se, cada vez mais, sob a mão dos párocos. Le
Roule e Bonne-Nouvelle se reúnem na casa paroquial, Saint-Merry na sacristia,
Saint-Sulpice num local dependente da igreja, local cômodo e definitivamente
adquirido que nos concedeu o Pároco. A presidência desta última seção79
me foi confiada, após tentativas para fazer melhor, que não tiveram êxito; leve
para vários outros, essa tarefa é um peso para mim. Peço-lhe expressamente
orar a fim de que eu encontre nela ocasião de fazer algum bem aos nossos irmãos
e a mim, e que isso seja para a glória de Deus. Nossa pequena casa vai bem,
graças à dedicação do Sr. de Kerguelen80, e há nela 12 e logo 13
crianças.
Suas pobres senhoras vão mais ou menos, meus confrades e eu visitamos às vezes
Dona Delatre. Os aluguéis vão conhecer o déficit, e não vejo nenhum meio de
cumulá-lo. Dona Delatre deseja que não se recorra a Manille, ela teme que os
leves socorros que ele lhe obtém, por não estarem destinados ao aluguel,
aumentem na mesma proporção sua miséria já tão grande e tão dura de suportar.
De outro lado, o Sr. Daubigny vai deixar Paris; vai para o Sul, na extremidade
da França; vi-o, desde o próximo vencimento, não se deverá mais contar com ele.
Desta vez, terei ainda, no total, 33 francos, mas no próximo vencimento, só
sobrará 18 francos. Lamento vivamente que seus encargos aumentem assim;
infelizmente, não vejo como aliviá-los.
Vi ontem, em seu nome, a família Courbe; Emile não estava; tomam-se muitas
providências cujo resultado está sendo esperado; o Sr. Bailly me prometeu fazer
todo o possível junto às pessoas que conhece; o êxito, porém, fica duvidoso.
Adeus, meu querido irmão, conserve lembrança de mim diante de Deus e escreva
algumas vezes. Aí estão, doravante, os únicos recursos de que possa dispor
nossa amizade, são amplos ainda, se os utilizamos bem e repetidamente.
Seu irmão em J.C.
Le Prevost
Terça-feira,
termino uma novena iniciada na intenção de minha mulher. Esta carta chegará a
você a tempo para que una, ao menos uma vez, seus votos aos meus. Você sabe
quão preciosa me seria a graça que peço; reze, portanto, por nós com um desejo
ardente.
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