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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1 - 100 (1827 - 1843)
    • 67 - ao Sr. Levassor
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67 - ao Sr. Levassor

O Sr. Le Prevost encoraja seu amigo a responder ao apelo do Senhor. Transmite-lhe os conselhos de seu próprio diretor espiritual, o padre Malet. A Conferência de São Vicente de Paulo se desenvolve. Nomeação do Sr. Le Prevost como presidente da seção Saint-Sulpice. A pequena casa dos órfãos. Pedido de orações por sua esposa.

 

Paris, 24 de dezembro de 1836

 

            Sua boa e longa carta, meu caro amigo, me consolou da espera, demais prolongada a meu gosto, que a precedera; não estava, é verdade, absolutamente sem notícia sobre sua situação; de diversos lados, havia recolhido, aqui umas palavras, ali mais outras, e o conjunto era o bastante para me tranqüilizar, mas eu tinha necessidade de comunicações mais diretas para penetrar no que o toca, tão intimamente como o quer meu coração. Sua carta preenche plenamente esse voto, você colocou nela sua alma toda inteira, e pude ler nela em liberdade. Apresso-me em dizer-lhe isso, meu caro amigo, a impressão que fica dela para mim, de livro fechado, é de satisfação e de alegria perfeita. Deus continua sua obra em você com a mesma bondade e a mesma misericórdia. Do seu lado, você o deixa fazer sem resistência, tudo bem; Ele o despoja, tira-lhe, uma a uma, todas as coisas que você acredita suas; bendiga-o, esse ladrão sublime, como ousa chamá-lo Bossuet; quando tiver tomado tudo, que você estiver bem à sua mercê, do fundo de sua pobreza, você o verá regressar com as mãos cheias, trazendo tudo de volta, mas mudado, purificado, santificado: , amor, esperança, fervor, força e luz; sua alma ficará saciada e gritará: Senhor, basta!

 

            Se, portanto, a provação continua, se sua miséria ainda aumenta, fique em paz, sorria docemente para si mesmo e diga: meu Deus, compreendo-vos, escondeis-vos em vão, eu bem sei, vós não estais longe.

 

            Essas palavras tranqüilizadoras, não sou eu, meu caro irmão, que lhas dou, é um piedoso e sábio eclesiástico78 consumado no estudo das consciências, que mas confia para você. A provaçãodiz-lhe ele expressamente, é a medida das graças que Deus quer dar em seguida e o indício também da grandeza de suas intenções sobre uma alma; quando uma árvore deve crescer alta e estender para longe seus ramos, o vento a sacode para todos as direções a fim de que as raízes penetrem fundo na terra; é o sinal de predestinação, os santos todos passaram por isso. Sua carta que comuniquei a esse homem venerável, confirmou-o em seu pensamento. Ele quer que você siga tranqüilamente seu caminho como se tudo o que acontece em você não lhe concernisse. Se os abalos se tornassem fortes demais, ele o aconselharia recorrer aos Sagrados Corações, tão venerados por você, e a São José todo poderoso contra as penas interiores. As ladainhas desse Santo durante nove dias, mas somente se isso é possível e lhe convém, pois, repito, quanto ao presente, tudo lhe agrada e lhe parece perfeito. Não tenho nada a acrescentar a esses excelentes conselhos. Eu, pobre ignorante, sem título nem missão, só poderia extraviá-lo. Tenho unicamente minhas orações a lhe oferecer, e em  nenhum dia deixo de dirigir alguma ao Senhor por você; possa ele me ouvir e guardá-lo sempre entre seus filhos mais amados!

 

            Vou ser obrigado, meu caro amigo, a parar bruscamente agora, porque meus trabalhos me apertam nesta estação em que os dias são tão breves; acrescento somente uma palavra em resposta a suas perguntas. Nossos amigos Estève, Lambert, L. estão em Saint-Sulpice, felizes e satisfeitos; a saúde do Sr. Lambert sofre um pouco, aí está a provação dele; o Sr. de Galambert está nos Jesuítas, feliz também; o Sr. de Montrond casado, feliz em sua via, as provações virão, ele pode contar com isso. O catecismo de Mannat prospera. Nossa pequena conferência vive sempre e conta com 5 seções, fala-se de uma sexta para Saint-Roch. Ela tende a tornar-se, cada vez mais, paroquial, e, ficando leiga, a  colocar-se, cada vez mais, sob a mão dos párocos. Le Roule e Bonne-Nouvelle se reúnem na casa paroquial, Saint-Merry na sacristia, Saint-Sulpice num local dependente da igreja, local cômodo e definitivamente adquirido que nos concedeu o Pároco. A presidência desta última seção79 me foi confiada, após tentativas para fazer melhor, que não tiveram êxito; leve para vários outros, essa tarefa é um peso para mim. Peço-lhe expressamente orar a fim de que eu encontre nela ocasião de fazer algum bem aos nossos irmãos e a mim, e que isso seja para a glória de Deus. Nossa pequena casa vai bem, graças à dedicação do Sr. de Kerguelen80, e há nela 12 e logo 13 crianças.

 

            Suas pobres senhoras vão mais ou menos, meus confrades e eu visitamos às vezes Dona Delatre. Os aluguéis vão conhecer o déficit, e não vejo nenhum meio de cumulá-lo. Dona Delatre deseja que não se recorra a Manille, ela teme que os leves socorros que ele lhe obtém, por não estarem destinados ao aluguel, aumentem na mesma proporção sua miséria já tão grande e tão dura de suportar. De outro lado, o Sr. Daubigny vai deixar Paris; vai para o Sul, na extremidade da França; vi-o, desde o próximo vencimento, não se deverá mais contar com ele. Desta vez, terei ainda, no total, 33 francos, mas no próximo vencimento, só sobrará 18 francos. Lamento vivamente que seus encargos aumentem assim; infelizmente, não vejo como aliviá-los.

 

            Vi ontem, em seu nome, a família Courbe; Emile não estava; tomam-se muitas providências cujo resultado está sendo esperado; o Sr. Bailly me prometeu fazer todo o possível junto às pessoas que conhece; o êxito, porém, fica duvidoso. Adeus, meu querido irmão, conserve lembrança de mim diante de Deus e escreva algumas vezes. Aí estão, doravante, os únicos recursos de que possa dispor nossa amizade, são amplos ainda, se os utilizamos bem e repetidamente.

 

            Seu irmão em J.C.

 

                                                Le Prevost

 

Terça-feira, termino uma novena iniciada na intenção de minha mulher. Esta carta chegará a você a tempo para que una, ao menos uma vez, seus votos aos meus. Você sabe quão preciosa me seria a graça que peço; reze, portanto, por nós com um desejo ardente.

 

 





78 “Pelos anos 1835-1836, uma leitura atenta da correspondência do Sr. LP. assinala uma mudança notável no estilo de suas cartas: parece que a religiosidade se apaga e cede o lugar à doutrina espiritual mais sólida”. (M. Maignen). O Sr. LP. tinha encontrado um guia experimentado nas provações da vida e esclarecido sobre a direção das almas: o padre conde de Malet. Oficial sob Napoléon, ferido em 1807 numa escaramuça com os Cosacos que o feriram no rosto, (o Sr. LP. falava muitas vezes da “cicatriz gloriosa” de seu diretor espiritual), casou-se, mas, pouco depois, perdeu e sua esposa e seu único filho (1816). Ordenado padre, fundou em 1824 uma comunidade de religiosas, as Irmãs de Santa Maria de Loreto, que instalou em Paris, no n. 16 da rua du Regard. Grande conhecedor da espiritualidade salesiana, foi ele que fez o Sr. LP. saborear os escritos de São Francisco de Sales. O Sr. LP. sabia o que lhe devia: “Foi ele que me fixou na via da confiança em Deus.” Morre, no dia 16 de agosto de 1843, antes da fundação do Instituto.



79 Na assembléia do dia 8 de dezembro de 1835, as seções se tornaram Conferências: St Etienne-du-Mont (presidida por Ozanam), St Sulpice (por Chaurand). E pela primeira vez nas atas, fala-se da “Sociedade de São Vicente de Paulo” da qual Bailly é presidente e o Sr. Le Prevost vice-presidente. Mas era difícil para as Conferências guardar por muito tempo seus presidentes: terminados seus estudos, esses jovens universitários retornavam para sua cidade de origem. No dia 11 de dezembro de 1836, é, portanto, decidido que o Sr. LP. assumirá a presidência de St Sulpice. Ficará nela até o dia 24 de abril de 1849.



80 Arsène de Kerguelen, (1804-1887), membro da Conferência em 1834, neto do almirante que deu seu nome às ilhas que descobrira nos mares austrais. Esse confrade tinha sido encarregado de ensinar a aritmética a alguns aprendizes-órfãos assumidos pela Sociedade de São Vicente de Paulo, em 1836.

                A Obra se instalou na rua Copeau, (hoje rua Lacépède), perto de St Etienne-du-Mont. O Sr. de Kerguelen se torna seu diretor e vai habitar com os aprendizes. O Sr. LP. colaborou nesta pequena obra. Redigia as atas do Conselho da Obra, visitava os órfãos todas as noites, apesar de seu cansaço e suas enfermidades, e sobretudo cuidava deles espiritualmente. O Sr. de Kerguelen devendo voltar para a Bretanha no fim de 1838, o Sr. LP. aceitou substitui-lo. No decorrer de seu mandato, o Sr. LP. anunciou, não sem orgulho, à assembléia geral de julho de 1839 a realização de um projeto que o interessava muito, a publicação da Vie de Saint Vincent de Paul, par Abelly, cuja impressão (6000 exemplares) tinha sido confiada aos aprendizes-órfãos. Em 1841, a Obra foi confiada aos Irmãos das Escolas Cristãs que cuidarão dela até o ano 1845. A Sociedade de São Vicente de Paulo conservando ainda o patronato externo dos aprendizes, era para continuar essa pequena obra dos órfãos-aprendizes que o Instituto ia dar seus primeiros cuidados (cf. in fine, P.V. do Conselho dos órfãos-aprendizes, no dia 1o de março de 1845).





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