O Sr. Le Prevost
reconforta seu amigo na provação que atinge sua família. Exortação à esperança.
“Deus não apaga a não ser para escrever e não retoma senão para dar ainda
mais.” Comunhão dos santos.
Paris, 10
de março de 1837
Meu muito querido amigo,
Fico sabendo, por meio de nosso amigo Courbe, que uma grande causa de
inquietação e de tristeza é dada à sua família, que uma perda dolorosa o ameaça
e que os cuidados e os votos de seus amigos lhe são desejáveis. Quero ser entre
os mais diligentes e testemunhar-lhe, sem demora alguma, a viva e terna
simpatia que sinto em mim por ocasião dessa nova aflição. Talvez seja ainda
apenas um aviso, um apelo enviado pela divina misericórdia para conciliar-se
decididamente um coração que, sem isso, definharia ainda muito tempo em sua
triste incerteza; você sabe, meu caro amigo, esse meio é habitual ao nosso Pai
Celeste. Ele golpeia, e muito forte às vezes. O homem é derrubado e se acha
perdido, mas logo que ele grita: piedade! a mão do Senhor o levanta,
concede-lhe dias e conduz à perfeição a obra de sua conversão.
Alegro-me em pensar que tal é, neste momento, a provação sofrida pelo seu bom
pai, e que a consolação de possuí-lo lhe será deixada ainda; mas se fosse de
outro jeito, conservarei, no entanto, viva e firme confiança. O bom Sr. Lecomte
prometeu-lhe que seu sacrifício seria bênção para sua casa; era em nome de Deus
que falava, Deus não o desmentirá; aconteça o que acontecer, a graça da
salvação parece-me adquirida para seu bom pai e, se fosse do agrado do Mestre
abreviar os tempos, ouso esperar do seu amor infinito que não haveria prejuízo
nenhum para a alma do seu servo. Ele ajuntaria as graças, Ele as derramaria de
mãos cheias, e, num instante talvez, faria a obra de muitos anos. Procure, meu
caro amigo, colocar profundamente em seu coração essa esperança; além de
consolá-lo em todo evento, ela será, se ouso dizê-lo, uma obrigação a mais para
o nosso bom Mestre dar-lhe satisfação; Ele não quereria, para destruir essa
esperança, dilacerar uma alma tão confiante em sua bondade, Ele far-lhe-á
segundo aquilo em que tiver acreditado, e sua fé exercerá violência sobre sua
vontade divina. Relembrando em minha memória o que sei de sua família, digo a
mim mesmo que não é sem intenções de misericórdia que o Senhor já a atingiu
dolorosamente. Seu pobre pai já não chorou dois de seus filhos, que lhe foram
tirados, um para o céu, o outro para a casa de Deus? Não está ele também
abalado, privado de saúde, de descanso, de alegria há muitos anos? Haverá para
isso compensação nas justiças eternas. Deus não apaga senão para escrever e não
retira também senão para dar ainda mais. Rezemos, no entanto, assim como você
está pedindo, meu caro amigo, rezemos instantemente; nossas orações, apesar de
imperfeitas e miseráveis, devem ter peso em sua balança. Felizes de nós se
contribuirmos para incliná-la para o lado da misericórdia. Um dia, também isso
nos será devolvido; outros, por sua vez, pedirão graça por nós; pois é
assim que tudo se liga e se encadeia na santa comunhão das almas!
Estarei muito solícito em aprender a seqüência da provação em que estão
engajados neste momento, você e os que lhe são caros; procure me manter informado
sobre isso, se alguma folga lhe sobra; disponha, aliás, de mim para tudo o que
acharia dever empreender diante de Deus. Cooperarei, segundo minha fraqueza,
com suas orações e suas obras a fim de ser, verdadeiramente, como gosto de
dizer isso a mim mesmo
Seu irmão em J.C.
Le Prevost
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