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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 1 - 100 (1827 - 1843)
    • 75.3 - ao Sr. Levassor
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75.3 - ao Sr. Levassor

Separar-se do mundo não ocasiona a ruptura dos laços de caridade. Felicitações a seu amigo pela fidelidade à sua vocação, apesar das provações. Obstáculos que se encontram no mundo. Afirmar com São Francisco de Sales: “Nossas imperfeições são instrumentos de salvação”. Casamento de um confrade de São Vicente de Paulo, Le Taillandier.

 

[maio de 1838]

 

Meu caro amigo e irmão em J.C.,

 

Estou tanto mais sensível às repreensões de sua amizade que não saberia encontrar refúgio em minha consciência: encontraria nela um juiz ainda mais severo para censurar minha preguiça e minha negligência. Digo, portanto, humildemente, mea culpa e me entrego à sua indulgente caridade, para me descobrir alguma boa desculpa. Todavia, teria para alegar o seguinte: você está doravante em lugar tão santo, sob custódia tão boa, que minha afeição tranqüilizada pode abandonar toda solicitude. Mas isso não desculpa: existe asilo tão santo que nossa fraqueza não se deixe surpreender nele, existe custódia tão vigilante que o demônio, cúmplice conosco, não saiba eludir? Aliás, por estar fora do mundo, você não rompeu com ele os laços de caridade; como os santos continuam querendo bem no céu aqueles que amaram nesta terra, em seu piedoso retiro você ainda se lembra de nós, você reza por nós, você nos deseja no bom caminho, você chora com nossas penas e se alegra com nossas alegrias. Oh! que eu evite a todo custo, meu caro amigo, interromper relações tão preciosas; necessito demais delas, e se um dia minha moleza as negligenciasse, repreenda e ralhe, a caridade o exige, entre numa santa cólera e Deus o abençoará por isso.

 

Fiquei singularmente edificado, meu caro amigo, pela nobre firmeza com a qual me respondeu quando eu manifestava alguns temores sobre as conseqüências, para sua vocação, dos acontecimentos vividos em sua família. O sacrifício não foi feito pela metade: Deus lhe pareceu definitivamente a melhor parte, você a escolheu e não quer deixá-la escapar. Deste modo, confirma-se cada vez mais pela provação e pelos fatos a sua vocação. Oh! sim, Deus é a melhor parte, e felizes aqueles que podem abraçá-la unicamente! No mundo, qualquer coisa que se faça, estendendo os braços para o Senhor, abraça-se antes dele tudo o que se acha atravessando, e se, num ardor santo, quisermos afastar estes obstáculos importunos, não temos o direito de fazê-lo. Todos gritam e reclamam, pela carne, pelo sangue, pelo sentimento, pela conveniência, todos têm direito de propriedade sobre você; é preciso afrouxarsubmeter-se. Só através disso podemos, em raros momentos e bem imperfeitamente, penetrar até Deus. Assim, caro amigo, acontece comigo. Outros fazem melhor, eu sei, e alegro-me para a glória de nosso divino Mestre; mas o grande número é como eu: o mundo os oprime, não poderiam vencê-lo nem desenredar-se dele.

 

É triste, caro amigo, andar sempre sem jamais avançar, e percebendo muitas vezes que depois de muitos dias temos recuado, que estamos mais longe do objetivo! Mas a quem então vou fazer tais lamentações? Você não o sabe também, caro amigo, você não passou por essas provações no passado? E mesmo hoje, (por que não confessar?)  você não tem  suas lutas também? Oh! sim; em vão faço de conta que o perfeito repouso é para os que lhe são parecidos, o perfeito repouso só se encontra no céu. Em  todo lugar, o Espírito Santo o disse, a vida do homem é , em todo lugar, exceto no seio do Senhor, do Pai que está nos céus, do Mestre divino que nos quer recolher a todos, lá em cima, debaixo de suas asas. Oh! Desapagar-se para correr mais rápido, já é muito, é tudo o que nos é permitido, é isso que você fez, é isso que eu não tive a coragem de fazer; eis por que o invejo e llhe digo: Feliz!. Eis por que, quando você se queixa, eu o acho injusto e digo: “Deus não tem, então, nenhuma criatura sem queixas nem choros, que o bendiga sempre, contente com a parte que lhe foi feita. Murmuro aqui e me aflijo com a minha miséria. Em outro lugar, é a mesma coisa: somente os mais santos comprimem sua dor e gemem no coração de Jesus! Armemo-nos com coragem, meu amigo, guardemos nossas fraquezas, façamos até que sirvam ao nosso proveito, humilhando-nos, aceitando nossa abjeção e digamos com São Francisco de Sales: “Oh! felizes e caras imperfeições, vocês me serão instrumentos de salvação”.

 

Suas contas, caro amigo, são fáceis a resolver para o passado e para o presente. Sobre os 60f que recebitrês meses, dei 30f à Sra. Houdan e 30f a mim; quanto aos 60f que sua carta me anuncia, ainda não vi nem a eles nem ao parente que devia trazê-los.

 

Tudo aqui está como sempre, os santos perseveram, outros definham e eu sou um deles; nossas pequenas obras se mantêm. Nosso amigo Le Taillandier se casa no fim do mês85; ele vai ao Mans e se encarrega de um estabelecimento industrial (fábrica de açúcar). Esqueço talvez outras notícias parecidas, mas se assim for, você corrigirá a conta na sua passagen por aqui. Procure que seja quanto antes. Adeus, meu querido irmão, reze por nós, pobres pecadores, suplique a nossa Mãe querida e seu divino Filho; eu também os suplicarei da melhor forma possível por você.

 

Lembranças de veneração para o bom Sr. Lecomte e a você terna afeição.

 

            Seu irmão em J.C.

 

                                               Le Prevost

 

            Esquecia de lhe dizer, para o Sr. Lecomte, que o início do Sr. Joseph de Mirebeau, seu aluno, foi muito brilhante. Ele não pregou (explico-me) fora, mas somente diante de sua Comunidade. Os juízes severos que o cercavam ficaram maravilhados. Aliás, sua regularidade, sua piedade fervorosa são igualmente edificantes, ele é visto como um homem  de grande esperança.

 





85 O casamento realizar-se-á no dia 7 de junho. O que necessita atrasar de um ano a carta 70 datada inicialmente do mês de maio de 1837. Cf. nota 81.





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