Alegra-se pelo futuro
nascimento na família Pavie. A criança, dom de Deus. O Sr. Le Prevost não teve
essa felicidade familiar. Aceitação desse sacrifício. Procura trabalho para
seus pequenos órfãos.
Paris, 12
de novembro de 1838
Meu querido Victor,
Você será pai, bendisse a Deus no mais profundo de minha alma. Sim, Deus devia
à sua própria bondade não lhe deixar a felicidade imperfeita. Ele tinha de
acrescentar um último favor a todos aqueles que já lhe fizera, a fim de que
você não possa dizer que de todos os dons que sua mão de pai pode derramar, só lhe
tenha faltado um. Casa, lar, família, círculo numeroso de amigos, saúde, rica
abastança, dons do espírito, dons do coração e, acima de tudo, dom da fé,
alegria de conhecer o autor de tantos bens, de amá-lo com cordial amor, de tudo
lhe atribuir, de lhe fazer homenagem de tudo, sim de tudo, de você mesmo e mais
do que você mesmo, de sua bem-amada mulher e do filho que ela concebeu. Oh!
Sim, você será feliz, meu caríssimo Victor, e Deus é imensamente bom, e quero
que você e eu o amemos por causa de tudo isso ainda mais. Veja também que graça
toda amável Ele colocou no seu jeito de proceder com vocês. Deixou-os desejar
por um tempo este favor para que fosse melhor apreciado, melhor pedido também
por vocês. Ele procurou-lhes assim, a felicidade de rezar, de rezar juntos e
com lágrimas, de obter enfim por votos, peregrinações, santas promessas feitas
por vocês dois diante dele, seu Pai, diante da Virgem santa, sua Mãe, o que
vieram a considerar como o maior bem do mundo. De outro jeito, este filho
nascendo naturalmente, vocês tê-lo-iam considerado como sua obra. Mas Deus
permitiu-lhes ver que era Ele que dava a vida e não vocês, e ele imprime também
profundamente na sua mente esta santa verdade de que este filho lhe pertence,
que a partir do dia de seu nascimento, ele deve ser consagrado e oferecido não
somente como seu primogênito, mas ainda como o filho dado por Deus, fruto das
entranhas da divina misericórdia.
Não tenho a intenção, meu caríssimo Victor, acredite-o, de lembrar-lhe tudo
isso. Meu coração me diz que tudo isso estava no seu, e o acredito firmemente
por esta terna e íntima simpatia que me faz entrar em você, como você entra em mim. Assim sua alegria,
digo-lhe, está aqui muito bem entendida, bem partilhada. Gozo, por minha viva
afeição, a felicidade que não aprouve a Deus me dar diretamente. É uma espécie
de adoção para a criança que nascer: Raquel, na antiga lei, era tida como mãe
das crianças nascidas de uma mulher de sua escolha; que seja assim entre nós.
Terei assim uma posteridade e minha esterilidade será consolada. Admirei,
aliás, sua delicada bondade, que lhe faz quase me pedir perdão por uma
felicidade que aumenta ainda sua superioridade sobre mim. Esteja em paz, caro
amigo, minha alma não foi nem um instante perturbada, minha alegria foi pura e
desinteressada. Quando o Senhor exige um sacrifício, Ele ajuda também a
consumi-lo; Ele me deu a força de amar e adorar sua santa vontade.
Ainda não vi Théodore. Sem dúvida, ele ainda não está aqui, eu o espero com
dupla impaciência: por ele a quem amo cordialmente e pelas notícias suas de
todos vocês que ele me trará. Até lá adeus, meu caríssimo amigo, mil afeições
bem dedicadas à sua querida amiga, ao seu pai e a todos. A Adrien em
particular.
Seu amigo e irmão,
Le Prevost
O agradeço pelo seu zelo em colocar as litografias para os nossos pequenos
órfãos. Não sei se lhe disseram que alguns entre eles estão ocupados em fundir
caracteres na gráfica do Sr. Baillly: faltam às vezes de trabalho, isso nos
entristece. Desejaria portanto que você tomasse, se é possível, sem prejuízo de
qualquer compromisso, seus caracteres nessa fundição; se isso lhe parece
praticável, diga-o. Eu lhe faria chegar o espécime de todos os caracteres que
poderíamos lhe fornecer. Não preciso dizer-lhe que esses meninos são apenas os
ajudantes de hábeis operários e que os produtos têm toda a perfeição que se
pode desejar.
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