A fé e suas riquezas.
As pequenas obras de caridade não desgostam V. Pavie. Mérito dessas humildes e
pequenas obras. A amizade segundo o exemplo do Cristo.
6 de
janeiro de 1840
Meu caro Victor,
Você me escrevia no dia de Natal, respondo-lhe no dia da Epifania, estamos
quites. Pois, se o Natal é a flor, a Epifania é o fruto. Como me é doce, meu
caro Victor, que todos estes bons e piedosos pensamentos, inspirados à sua excelente
alma pelo grande mistério de nossa fé, se derramem bem naturalmente em minha
direção. Não que eu fique orgulhoso por isso e que me acredite digno, mas
porque me prova sempre cada vez mais que a união dos nossos corações, fundada
sobre uma tal base, é para sempre assegurada, enquanto a mesma base não tiver
oscilado. Ora, quem de nós não espera, apesar de sua fraqueza permanente,
permanecer até o fim sobre esta pedra da fé. Devemos-lhe nossas mais puras
alegrias e sabemos que, fora disso, não haveria mais para nós alegrias
verdadeiras doravante, porque quem saboreou aquelas tem o coração grande demais
para as outras. Alegro-me também bem vivamente por causa de você em particular. Suas
últimas cartas são cheias de um ardor fervoroso que me prova que sua alma vai
se exaltando cada vez mais; que nem os negócios deste mundo, nem as alegrias do
lar, causas demasiadamente ordinárias do enfraquecimento das nobres
inspirações, o seguram: a chama tende para o alto e supera todo obstáculo;
assim faz o arrebatamento sublime de seu coração. Bendigo a Deus por isso e
peço-lhe que me faça semelhante graça, para que andemos lado a lado e atinjamos
juntos o objetivo. Nossas pequenas obras de caridade terão influência
para nos ajudar reciprocamente. Meu coração pulou de alegria, confesso a você,
quando percebi que a simplicidade desses pequenos trabalhos não o
enfastiavam. Deus me mostrou que Ele tem imensas graças para aqueles que, em
seu nome, aceitam humildes e pequenos empreendimentos e consideram-nos grandes,
porque feitos por causa dEle.
Persevere, meu querido amigo, nossa afeição já grande crescerá ainda mais assim
e não será o menor dos frutos felizes que dela decorrerão. Não,
certamente, nosso bem-amado Mestre não baniu os suaves e ternos sentimentos
para as almas que são suas: Ele usava de carícias para com as criancinhas, de
vivas efusões para com seus amigos e de predileções íntimas com alguns. Ele
quer que O amemos antes de tudo , e é de direito, mas que, por causa dEle,
amemos também todos os outros, não uniformemente, mas em ordem e graus, de
acordo com a afinidade de nossas almas. Essas devem nos ser as mais caras, que
mais nos atraem89. Deus colocou nelas aquilo de que precisamos, que
deve sustentar-nos, elevar-nos acima de nós mesmos e duplicar nossas forças
para avançar na sua direção. Isso, o achei em você desde o primeiro contato,
caro amigo, e nesta hora, ainda o acho. São João apoiava-se assim no peito do
Mestre bem-amado; como lhe agradeço recordar essa amável lembrança. São João é
meu padroeiro. Quantas vezes pedi-lhe para animar-me e me conduzir ele mesmo
até o coração de nosso divino amigo! Eu lia numa Vie de Ste Thérèse (pelo Sr. Leboucher, pároco de St Merry, que
você lerá logo, se acreditar em mim, junto com uma outra vida, mais rara, do
mesmo autor, a Vie de la Bienheureuse Marie
de l’Incarnation, fundadora
do Carmelo na França) lia isto: ela rezava por uma alma reta, mas, no entanto,
extraviada, e, num impulso de sublime familiaridade, ela dizia: “Atraia-o para
você, ó meu Jesus, você está vendo, ele seria digno de ser dos nossos amigos!”
É assim que devemos tratar com Ele e, consequentemente, também com aqueles que
Ele nos deu. Vamos neste caminho, caro amigo, por aí andarei a grandes passos,
asseguro-lhe, pois acreditarei seguir assim o exemplo e a vontade de nosso
Deus.
Diga bem à sua doce amiga que estará de parceria em tudo isso. Estimo-a também,
como você, bem querida por Deus e bem digna dele.
Mil coisas afetuosas a todos os nossos amigos, a Bruneau em particular, que me
acusa, tenho medo, de negligência, embora não haja verdadeiramente
nenhuma em mim para com ele. Afeição também a todos os outros, a Adrien,
a Godard e àqueles ainda que têm a bondade de se lembrar de mim.
Obrigado por seu zelo para a venda de St
Vincent.Ficar-lhe-ei agradecido por me
fazer receber logo que puder o dinheiro obtido. (5f por exemplar somente).
Adeus ainda, caro amigo, unamos nossas orações, nossos
atos e toda a nossa vida; os melhores como você pagarão pelos outros e todos
juntos chegaremos ao objetivo.
Seu devotado irmão em J.C.
Le Prevost
P.S. Terno
respeito a seu bom pai.
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