Nascimento na família
Pavie. A família do Sr. Le Prevost. Essas amizades e afeições familiares, ele
as vive em Deus; cuida para que “se purifiquem nEle”. Simplicidade e humildade
das pequenas obras de S. V. de P. que estão bem “no espírito cristão.”
Paris,
23 de maio de 1843
Meu querido Victor,
Fico sabendo por Gavard que uma nova alegria é concedida à sua casa e que você
é agora pai de três filhinhos. (Me perdoe o grande Maurice107 por falar
dele de modo tão livre). Não preciso, caro amigo, dizer-lhe como estou feliz de
sua felicidade. Não perdi o costume de me envolver em tudo o que lhe interessa
e até onde sua terna intimidade mo permite. Quase tinha vontade de repreendê-lo
um pouco por não me ter escrito você mesmo; mas, caro amigo, confio em você
para me determinar a parte que me deve caber. Não esqueça, quando me responder,
de me dizer que sua querida mulher vai bem, que com os que a cercam ela é ainda
mais amável, se é possível, e mais querida por você.
Você quer, caro Victor, que, em compensação de suas efusões, eu lhe fale também
do que me toca. Não sou tão rico como você. A Providência que mede seus dons,
segundo sua sabedoria, me traçou uma via, que devo seguir bendizendo, por já ter
feito tanto por mim que mereço menos. Minha mulher vai bastante bem, embora
sofrendo um pouco cada dia. Ela pinta e trabalha com gosto. Logo ela irá
descansar algum tempo no campo que, há alguns anos, dá resultados maravilhosos
para ela.
Não sei se você está ao par de que, nesta última Quaresma, estive na Normandia
para buscar minha sobrinha, que está numa pensão a partir de então, nas Dames
de Saint-Maur, perto de casa. É uma grande moça de 16 anos, meiga e dócil como
um cordeiro, muito bem educada por sua mãe e bastante instruída, levando em
conta os recursos que se tinha ao alcance. Aqui ela trabalha com ardor e dá
satisfação a todo o mundo; ela será, espero, uma excelente pessoa. É piedosa e
pura como um anjo. Seu irmão tem 13 anos; está numa instituição eclesiástica em Yvetot. Ele também vai
muito bem. Minha boa mãe que você ama ternamente é admirável; está muito bem.
Ela não vive senão para o bom Deus, para os pobres e seus filhos. Minha irmã
está junto dela e a guarda como um tesouro. Possa o Senhor não tirá-la tão já
do nosso convívio. Não somos bastante fortes para passar sem esse apoio. É
nosso laço mais querido no mundo; se fosse quebrado, nossa vida seria dura
demais. Deus, que sabe disso, providenciará.
Eis aí o que está em mim, caro amigo, quanto ao resto, você já está sabendo.
Vivo também um pouco em Deus e ficaria feliz se fosse cada dia mais, a
fim de que todos os meus pensamentos e minhas afeições fossem purificar-se
nele. Acompanho sempre um pouco nossas pequenas obras de São Vicente, sabendo
bem que são humildes, esparsas, muitas vezes pouco apreciáveis, mas
reconhecendo ao mesmo tempo que, por isso mesmo, elas são talvez de modo melhor
no espírito cristão. Adeus, caro amigo, coloco-me pelo pensamento em alguma
amável cena de família, como se faz ao seu redor cada dia, e me uno às puras
alegrias de seu coração de filho, de marido e de pai, e também de bom e fiel
amigo. Adeus mais uma vez a você, ternamente abençoado como sempre.
Le Prevost
P.S. Mil lembranças à sua querida amiga e ao
bom pai. Um beijo para os pequenos.
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