A seu amigo que acaba
de perder o filho, exprime compaixão, em termos impregnados de
elevação cristã e de afetuosa delicadeza. Devoção à Virgem Negra, consoladora
dos aflitos.
Paris, 9 de
setembro de 1843
Meu querido irmão e amigo,
Não é para consolá-lo que escrevo, mas para compartilhar com toda a minha alma
seu sofrimento e dizer-lhe quanto todos aqui estamos profundamente
tocados..
Não tenho lembrança de que nenhum acontecimento me tenha emocionado e afligido
mais que este110, pois conhecendo tão intimamente você e sua querida
esposa, no próprio instante desci ao coração de vocês e vi o quanto sua
ferida devia ser dolorosa.
O que dizer-lhe então, caríssimo amigo, e que palavras achar? Nenhuma, senão
que Deus é bom, que ele os ama, que ele o quis assim, que é preciso bendizer
seu santo nome. Mais tarde, ele lhe dirá por quê. Agora é a hora de sofrer;
incline, então sua cabeça e chore sem murmurar.
Foi ontem, dia da Natividade de Nossa Senhora, que recebi esta triste notícia.
Logo fui à capela de São Tomás de Villeneuve111 e supliquei com
insistência à consoladora dos aflitos que não o abandonasse numa tão grande
angústia. Ela só, caro amigo, conhecendo por si mesma semelhante dor, poderá
consolá-lo e tocar seu pobre coração, sem magoá-lo. Lembrem-se, neste momento
de sua terna confiança para com ela e abandonem-se, ambos, nas suas mãos. Oh!
Se sua bondade, entreabrindo-lhes o céu, lhes fizesse ver as regiões de
delícias em que repousa a caríssima alma que partiu, talvez, caro amigo, você
não tivesse a coragem de chamá-la de volta para nosso triste exílio! Aspire
então, ao contrário, à hora em que você mesmo se reunirá de novo com ele; cabe
ao mais feliz atrair os outros para si!
A parte dele é a melhor: irá preparar a sua, no meio dos Anjos e dos Santos. Se
tivesse ido mais adiante na vida, teria conhecido suas amarguras e também suas
faltas, e agora que ele lhes é tirado, não ousaria você pensar nele sem
inquietação. Mas ficou na inocência do Batismo: doce e puro espírito, está com
as Virgens, seguindo o Cordeiro; você pode contemplá-lo pela fé, invocá-lo e
unir sua alma à dele no seio do divino amor.
Oh! Mantenha assim seus olhos para o alto, caro amigo, e não mais irá chorar,
vá para onde esta doce voz o chama e você esquecerá as dores desta terra.
As vias do Senhor são maravilhosas. Os pais aqui embaixo sustentam os passos de
seus filhos recém-nascidos; mas, no céu, onde a inocência é a única potência,
as crianças guiam seus pais e lhes abrem o caminho. Sua alma tão piedosa e tão
ternamente amorosa, caro amigo, voltava-se - freqüentemente às coisas do alto.
Agora imagino que todos os seus pensamentos e suas aspirações dirigir-se-ão
para lá; e se este estado tornar-se habitual, se sua vida continuar assim com
Deus e com os anjos, será que você poderia queixar-se ainda, pois seu anjo
querido está lá também e você dele não se afastará?
Eis aqui os votos que meu coração de irmão e de amigo formula por você, e eis
aquilo que vou pedir todos os dias a Jesus e Maria, filho e mãe também, que se
separaram aqui na terra, mas cujas almas ficaram incessantemente unidas no seio
de Deus.
Adeus, caríssimo amigo, um abraço bem forte.
Seu bem devotado em N.S.
Le Prevost
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