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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 101 - 200 (1843 - 1850)
    • 101 - ao Sr. Montrond
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101 - ao Sr. Montrond

A seu amigo que acaba de perder o filhoexprime  compaixão, em termos impregnados de elevação cristã e de afetuosa delicadeza. Devoção à Virgem Negra, consoladora dos aflitos.

 

Paris, 9 de setembro de 1843

            Meu querido irmão e amigo,

 

            Não é para consolá-lo que escrevo, mas para compartilhar com toda a minha alma seu sofrimento e dizer-lhe  quanto todos aqui estamos profundamente tocados..

 

            Não tenho lembrança de que nenhum acontecimento me tenha emocionado e afligido mais que este110, pois conhecendo tão intimamente você e sua querida esposa,  no próprio instante desci ao coração de vocês e vi o quanto sua ferida devia ser dolorosa.

 

            O que dizer-lhe então, caríssimo amigo, e que palavras achar? Nenhuma, senão que Deus é bom, que ele os ama, que ele o quis assim, que é preciso bendizer seu santo nome. Mais tarde, ele lhe dirá por quê. Agora é a hora de sofrer; incline, então sua cabeça e chore sem murmurar.

 

            Foi ontem, dia da Natividade de Nossa Senhora, que recebi esta triste notícia. Logo fui à capela de São Tomás de Villeneuve111supliquei com insistência à consoladora dos aflitos que não o abandonasse numa tão grande angústia. Ela só, caro amigo, conhecendo por si mesma semelhante dor, poderá consolá-lo e tocar seu pobre coração, sem magoá-lo. Lembrem-se, neste momento de sua terna confiança para com ela e abandonem-se, ambos, nas suas mãos. Oh! Se sua bondade, entreabrindo-lhes o céu, lhes fizesse ver as regiões de delícias em que repousa a caríssima alma que partiu, talvez, caro amigo, você não tivesse a coragem de chamá-la de volta para nosso triste exílio! Aspire então, ao contrário, à hora em que você mesmo se reunirá de novo com ele; cabe ao mais feliz atrair os outros para si!

 

            A parte dele é a melhor: irá preparar a sua, no meio dos Anjos e dos Santos. Se tivesse ido mais adiante na vida, teria conhecido suas amarguras e também suas faltas, e agora que ele lhes é tirado, não ousaria você pensar nele sem inquietação. Mas ficou na inocência do Batismo: doce e puro espírito, está com as Virgens, seguindo o Cordeiro; você pode contemplá-lo pela , invocá-lo e unir sua alma à dele no seio do divino amor.

 

            Oh! Mantenha assim seus olhos para o alto, caro amigo, e não mais irá chorar, para onde esta doce voz o chama e você esquecerá as dores desta terra.

 

            As vias do Senhor são maravilhosas. Os pais aqui embaixo sustentam os passos de seus filhos recém-nascidos; mas, no céu, onde a inocência é a única potência, as crianças guiam seus pais e lhes abrem o caminho. Sua alma tão piedosa e tão ternamente amorosa, caro amigo, voltava-se - freqüentemente às coisas do alto. Agora imagino que todos os seus pensamentos e suas aspirações dirigir-se-ão para lá; e se este estado tornar-se habitual, se sua vida continuar assim com Deus e com os anjos, será que você poderia queixar-se ainda, pois seu anjo querido está lá também e você dele não se afastará?

 

            Eis aqui os votos que meu coração de irmão e de amigo formula por você, e eis aquilo que vou pedir todos os dias a Jesus e Maria, filho e mãe também, que se separaram aqui na terra, mas cujas almas ficaram incessantemente unidas no seio de Deus.

 

            Adeus, caríssimo amigo, um abraço bem forte.

 

            Seu bem devotado em N.S.

                                               Le Prevost

 





110 O Sr. de Montrond acaba de perder seu primeiro filho. Coincidência na infelicidade: é também nessa época que, no dia 4 de setembro de 1843, na Normandia, o barco que transporta, entre Villequier e Caudebec-en-Caux, a filha de Victor Hugo, Léopoldine, e seu marido, soçobra bruscamente, afogando os dois jovens. Hugo fica sabendo da notícia no dia 9, quando o Sr. LP. escreve sua linda carta ao Sr. Montrond.

 



111 O Convento da Comunidade das Filles de S. Thomas-de-Villeneuve (hoje em Neuilly-sur-Seine) estava então situado nos números 25-27 da rua de Sèvres, perto da rua do Cherche-Midi. A capela desse convento era o santuário privilegiado do Sr. LP. Gostava de rezar diante da célebre Vierge Noire, que, sabe-se, tinha concedido a São Francisco de Sales uma graça que lhe fez recobrar a paz do coração.





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