Sua amizade se
sustenta pela correspondência. O Sr. Le Prevost tem dificuldade para se
deslocar. Notícias de Th. Pavie e de Gavard. Nostalgia dos encontros de
outrora.
Paris, 28 de outubro de 1843
Caro amigo,
Adrien, que retorna para sua cidade de Angers, aceita de bom grado
encarregar-se destas duas linhas que lhe traço apressadamente, para não perder
esta boa ocasião. Você terá, assim, notícias minhas e minha carta solicitará
uma resposta sua, que me será muito preciosa, caro amigo. Pois há muito tempo
você não me diz nada. Após um tão longo silêncio, parece-me que não se deve
interrompê-lo a não ser por um caso importante e espera-se sempre. Peço-lhe,
caro Victor, não aguarde de jeito nenhum; as coisas mais simples serão de um
alto interesse para mim se o tocarem e me falarem de você e de seus íntimos.
Conservei em minha mesa sua última carta, porque contém os nomes de seus
três filhinhos com algumas palavras de detalhe sobre cada um. Quando minha
memória falha, recorro a ela e reencontro a pequena genealogia. Isso me
encanta, caro amigo, e me representa estes três pequenos anjos com sua mãe e
você; faço disso um quadro delicioso e tomo o cuidado de nele organizar para
mim também, num cantinho, algum lugar.
Parece-me que, no fim, virão momentos favoráveis, em que poderei com menos
dificuldade dar uma escapadinha e ir vê-lo com um pouco de folga. Até agora,
nada de semelhante se apresenta, pois estou tão acorrentado e mesmo minha boa
mãe me chama a cada ano, sem que possa acorrer como meu coração quereria.
Enquanto isso, você que tem o pé mais lesto, que está com menos embaraços
também, venha, caro Victor. Você está sendo esperado, me dizem, para janeiro.
Será um lindo começo de ano e alegrar-me-ei muito, neste tempo, em abraçar, em
apertar forte e cordialmente um irmão ternamente amado.
Não tornei a ver Théodore desde sua volta; faltam as ocasiões de
aproximação entre nós. Mas, sinto em mim a mesma afeição por ele, sem
nada deixar dela, nem ao tempo, nem ao caminho. Conto com ele também e assim
conservo o coração em
forma. Poderia dizer outro tanto a respeito do nosso bom e
sempre bom Gavard. Percebo-o, mais que o vejo. Damo-nos um aperto de mão, a
ponto de gritar sob as arcadas de Rivoli. Às vezes chegamos a atravessar juntos
as Tuileries, mas os belos passeios de outrora, ocupando horário nobre de
longos dias, não voltam mais, apenas sobra uma gostosa lembrança.
Caro amigo, fale-me de tudo isso com um pouco de pesar. Gosto de pensar que
você também recorda esses passeios em sua memória e que seus velhos amigos
daquela época lhe fazem falta como a nós às vezes.
Faça mil carinhos respeitosos a seu bom pai, afeições bem devotadas à sua
querida amiga e algumas carícias aos pequenos. Tudo isso para mim, que ama este
querido mundo de todo o meu coração.
Seu irmão e amigo
Le Prevost
P.S. Sem esquecer os Vicentinos.
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