O Sr. Le Prevost o incita a deixar a
presidência da Sociedade. Mal-estar na Sociedade.
Paris, 5 de janeiro de [1844]
Sr. e amigo,
Não pude me decidir a falar, ontem à noite, por falta de força talvez, mas
sobretudo por medo de agravar o que a situação podia ter de penoso para você.
No entanto, no interesse de nossa querida Sociedade, e no seu, que não separo
daquele, me acho na obrigação de lhe dizer que meu parecer não difere do de
todos os demais membros do Conselho. Estamos num estado de mal-estar, de
desconfiança, de desânimo, que enfraquece os laços já tão frágeis de nossa
unidade e que não pode deixar de trazer logo tristes dilacerações.
Não seria muito lastimável que, com ou sem razão, uma tal aflição pudesse lhe
ser imputada, e não seria comprometer todo o bem que você fez?
Deixando a tempo a direção da Sociedade de São Vicente de Paulo, você levará
agora o pesar de todos os seus membros e a consciência de tê-la generosamente
servido. Mais tarde, após discussões deploráveis que se deve temer,
menosprezarão talvez os méritos bem reais de uma longa carreira de boas obras e
você mesmo chegará a duvidar delas. Ouso conjurá-lo, Sr. e amigo, a guardar
intacto um bem adquirido por preço tão elevado, e de permanecer, aos olhos de
Deus e aos dos homens, o benfeitor de nossa Sociedade.
Entregando um fardo que só aumenta suas penas, você adquirirá aliás mais
liberdade de coração e de espírito; seus negócios terão então todos os seus
cuidados e sua perseverança tão corajosa devolverá à sua família, com o
descanso, o estado melhor que você ambicionava para ela.
Desejo bem ardentemente, Sr. e amigo, que estas poucas palavras não
tenham nada que o aflijam e que você veja em minhas instâncias o que elas são
realmente: um novo testemunho de meu apego sincero e de meu respeitoso
devotamento.
Le Prevost
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