Após seu encontro
providencial, o Sr. Le Prevost lhe expõe os meios de que dispõe para fundar uma
congregação a serviço dos pobres. Ele o incita a se decidir, ele que está livre
para se movimentar. Esperar a hora de Deus, na “oração e a prática das obras
santas”.
Paris, 15
de outubro de 1844
Meu querido confrade,
Esperava com uma viva impaciência sua boa e afetuosa carta do dia 8 deste
mês121; mas contava com sua palavra e estava certo de que ela me
chegaria, tão logo o retorno do Senhor Bispo de Angers lhe permitisse
escrevê-la. Entrei logo em intimidade com você e talvez você tenha ficado um
pouco surpreso com isso, mas em certas disposições do coração, as pessoas se
entendem e se penetram plenamente em pouco tempo. Pareceu-me, meu caro irmão,
quando nos encontramos à saída da igreja dos Lazaristas, que nossas almas eram
assim abertas, e me deixei levar com toda confiança a você. De seu lado, você
também me falou sem reserva, e nossa união se formou: ou muito me engano ou
isso é do agrado de nosso divino Senhor e está nas previsões do seu amor.
Nestes últimos dias, recebi de Monsenhor o Bispo de Angers uma carta curta
demais pelo meu gosto, mas cheia de coisas excelentes e de pontos de vista
perfeitos sobre nossa querida obra. Não duvido, não mais do que você, que sua
caridade e sua experiência nos poderiam ser de grande valia, e esse
pensamento, meu caro irmão, duplica meu desejo de vê-lo entre nós. Com efeito,
ao mesmo tempo em que você uniria suas orações e seus esforços aos nossos, para
preparar a realização de nossos projetos, seria nosso intermediário natural
entre o Senhor Bispo e nós. Mantê-lo-ia a par, regularmente, de nossas
esperanças, de nossos votos, consultá-lo-ia sobre as nossas menores diligências
e nos transmitiria seus pareceres, e, espero também, suas bênçãos. Se
Monsenhor, a quem acabo de responder em toda simplicidade de coração e depois
de ter muito orado, como ele havia-me recomendado, houver por bem abrir-lhe a
porta, venha a nós, meu caríssimo confrade, e tarde o menos possível.
Já lhe disse em que
estado e em que ponto estamos. Quero repeti-lo, para que não exagere nem nossos
meios, nem nosso valor. Nosso pequeno cenáculo reúne 9 pessoas, incluindo você;
4 estariam livres desde agora e se dariam a Deus logo que ele quisesse
aceitá-los; três outros ainda se acham retidos por obrigações que, para um
deles ao menos, não poderiam ser eliminadas. Os dois últimos, embora livres,
ainda estão retidos por um fio que se romperia depressa, se algum começo fosse
dado à obra; é um pouco de incerteza e de timidez na vontade. De resto, sem temeridade,
creio poder dizer que membros não faltariam à obra, se ela se estabelecesse. O
importante é que seja iniciada.
Mas aqui, meu caro confrade, a escuridão é grande para nós. Deus é cioso na
execução de seus desígnios e não quer que a gente o preceda. Por isso, de
costume, ele só nos mostra seus planos por uma pequena luz, fracamente
sensível, e só dá o pleno clarão gradualmente e quando chega a hora. Para
nós, neste momento, a aurora começa a despontar e aguardamos o dia.122
Veja bem, caro irmão, se essa espera não será demasiadamente penosa para você.
Não somos donos de nada, somos como a nave que aguarda o vento no porto para
içar a vela; a impaciência não serve para nada, enquanto a brisa não sopra, é
preciso ter paciência e ficar. O tempo, aliás, não seria perdido aqui para
você. Com os conselhos de Monsenhor e os de um sábio diretor, você há de
modelar em si o homem interior a partir do exemplar divino, juntará na
oração e na prática das obras santas o ardor, as forças e a dedicação de que se
tem tanta necessidade, quando se quer cavar os alicerces de uma instituição
caritativa. Eis aí meu pensamento, meu caro irmão, eis aí meus votos; possam
eles estar conformes aos seus e aos de Monsenhor; então uma carta, muito
próxima, me anunciaria sua chegada. Em todo o caso, escreva-me logo;
ser-me-á doce entreter-me com você e espero que nosso relacionamento
servirá à nossa edificação recíproca.
O tempo me falta hoje para escrever ao Sr. Renier.123 Agradeça-lhe com
viva efusão a carta, que me fez um grande bem; partilho com ele os sentimentos
de confiança e de afeição que você lhe devotou e conto com o futuro para nos
aproximarmos cada vez mais intimamente.
Adeus, meu caríssimo irmão; reze muito por nós. De meu lado, rezo por você
todos os dias.
Seu de coração em J. e M.
Le Prevost
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