Para assegurar a
solidez da obra nascente, o que importa em primeiro lugar não é o número, mas o
espírito de sacrifício e de renúncia, que, só, torna capaz de se dar a
Deus sem retorno. Impaciência contida do coração do Sr. Le Prevost.
Paris, 14
de novembro de 1844
Meu querido irmão,
Nós esperávamos, com viva impaciência, é verdade, sua carta, pois se seu
coração se volta para nós, o nosso vai ao seu encontro, asseguro-lhe, e faz
amplamente a metade do caminho. Possa o Senhor, meu caríssimo irmão,
aplainar logo os obstáculos e reunir-nos para a sua glória e a santificação de
nossas almas. Acabo de escrever a Monsenhor o bispo de Angers, para
agradecer-lhe de novo o interesse tão benevolente que se dignou dar-nos e
pedir-lhe mais particularmente o socorro de suas luzes para a execução de nosso
querido projeto. Se este venerável Prelado consentir em guiar-nos pelos
conselhos de sua experiência, prometer-nos sobretudo suas preces e suas
bênçãos, haveremos de sentir-nos mais fortes e talvez tenhamos os meios para
dar os primeiros passos.
O importante não é,
aliás, serem bem numerosos para começar; duas ou três almas verdadeiramente
firmes e dedicadas bastariam, se sentissem em si a voz interior que chama, e à
qual não se resiste; se fossem animadas pelo espírito de sacrifício e de
renúncia, para tudo deixar e se entregar a Jesus Cristo sem pesar, sem
inquietude, com amor e inteiro abandono. Se aqueles que tomarão a iniciativa
estiverem plenamente unidos, de coração e de alma, num só pensamento, serão
fortes, terão a vida, não apenas para subsistir, mas para assimilar também
todos os elementos semelhantes que se encontrarão ao seu redor. A perda de
nossa querida obra, logo nos seus primeiros passos, seria um zelo medíocre, uma
vontade tímida, que se dê pela metade, faça reservas e não ouse confiar em Deus. Não sei,
caro confrade, se me engano, mas parece-me que nada se funda com tão pouca
generosidade e chama. Parece-me que, ao deixar o mundo, deve-se deixá-lo
absolutamente, que, abraçando a Deus, é preciso tudo abandonar para abraçá-lo e
perder-se unicamente nele. Ouso esperar que algumas almas desta têmpera estejam
no meio de nós e poderiam tornar-se, na mão de Deus, instrumentos fortes e
dóceis a um tempo, para a execução de seus desígnios.
Continuemos, então, rezando, meu caríssimo irmão, aguardando o sinal; se nosso
bom Senhor de Angers, que a Providência parece nos indicar como primeiro guia e
como apoio de nossa fraqueza, consentir em prestar-nos assistência, sentiremos,
por isso, uma profunda gratidão e lhe demonstraremos tanta deferência quanto
terno respeito.
Peça-lhe, caro irmão, conosco, toda a sua benevolência, e você terá já merecido
muito por parte de nossa pequena obra.
Sua última carta me fizera esperar que sua saída não seria muito adiada e que
logo o veríamos aqui, mas concordo plenamente com os sábios motivos que o
retêm. Monsenhor o Bispo de Angers, tocado por sua submissão e nela vendo um
novo indício de sua vocação, talvez o deixe livre logo para juntar-se a nós;
senão, tudo estará bem ainda, pois sua voz deve conduzi-lo e o Senhor o confiou
a ele.
Por favor, não me deixe aguardar demais sua resposta, caro irmão; nossos
corações começaram a se entender e cada uma de suas cartas me faz melhor
confiar no porvir de nossa obra; conceda-nos também algumas boas lembranças
diante de Deus; você nos será também presente, acredite-o, e nossas almas se
encontrarão nele.
Seu todo devotado irmão em
Nosso Senhor
Le Prevost
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