Uma obra de aprendizes
é assumida pela Sociedade de São Vicente de Paulo. É um sinal providencial para
aqueles que, como o Sr. Myionnet, querem se consagrar a Deus.
Paris, 14
de dezembro de 1844
Meu caríssimo confrade,
Adiei de propósito minha resposta à sua última carta, na espera de uma solução
a respeito de alguns assuntos interessantes de que se ocupa neste momento nossa
Sociedade em Paris, e que pareceriam abrir-nos um caminho para começar na
sombra nossa obra tão desejada. Mas como todos os arranjos não estão ainda
acertados, prefiro escrever-lhe algumas palavras sem esperar mais, com a
ressalva de falar-lhe logo desse assunto de maneira mais explícita.
A Sociedade de São Vicente de Paulo tinha até agora, com a ajuda dos Irmãos das
escolas cristãs, organizado uma obra de aprendizagem para os jovens operários
que colocamos junto a artesãos honestos onde os acompanhamos, e os melhores
resultados se podem esperar dela. Mas infelizmente, ou providencialmente
talvez, o Superior Geral dos Irmãos julga que esta obra foge ao espírito
do Instituto do Sr. de la Salle
e, com muito pesar, recusa-se a autorizar seus irmãos a dirigirem-na. A
Sociedade de São Vicente procura alguns homens dedicados para se
encarregarem dela, e pensamos aqui que isso pode convir àqueles dos nossos
amigos que desejam consagrar-se inteiramente a Deus. Encontrariam, com efeito,
uma ocasião e um pretexto para se reunirem sem espantar a ninguém. Aliás,
a obra dos aprendizes não é muito trabalhosa, de maneira a deixar
muito tempo àqueles que cuidariam dela, e nossos caros irmãos teriam todo o
tempo livre de que precisariam para preparar-se no recolhimento e no retiro às
santas coisas que o Senhor pode pedir mais tarde. Sua posição seria, aliás,
inteiramente independente, e nenhum embaraço ser-lhes-ia imposto; a vida que
teriam no interior ficaria toda escondida, pois as crianças só voltam à casa
central aos domingos.
Não insisto, de resto, aqui, sobre os pormenores destas disposições. Voltarei
ao assunto logo, se tudo se concluir como pensamos. Mesmo contando com você,
caro irmão, o núcleo precioso que seria como a semente da obra seria, como o
grão de mostarda do Evangelho, a mais pequenina de todas as sementes, mas nos
alegramos com isso, bem persuadidos que toda obra de Deus começa assim. Temos a
confiança de que nosso bom Senhor de Angers não se recusará a autorizá-lo a se
unir a nós, pois, se somos bem fracos reunindo nossas forças, o seríamos
verdadeiramente demais dividindo-as.
Não consigo explicar como minha carta a Monsenhor não chegou a ele, já que saiu
ao mesmo tempo que a que você me confirma ter recebido. Esgoto-me em
conjecturas sobre as causas que puderam desviá-la de seu destino. Repararei
este acidente, escrevendo logo a seu venerável Prelado, cujos conselhos e apoio
se tornarão para nós mais do que nunca indispensáveis.
Não passo um só dia, caro irmão, sem colocá-lo bem intimamente nos Corações de
J. e de M. Espero que, de seu lado, você tenha algumas boas lembranças para
nós.
Desculpe-me pela precipitação demais evidente nestas poucas linhas. Desejei que
chegassem a você sem mais tardar.
A você bem afetuosamente em N.S.
Le Prevost
Lembranças bem devotadas ao Sr. Renier
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