Confiança em Deus. A vocação do Sr. Le
Prevost é juntar-se ao Sr. Myionnet, mediante consentimento de sua mulher. Que
Deus lhe obtenha “luz e bênção”.
Paris,
[abril] 1845
Monsenhor,
Quantas graças devemos dar ao Senhor, cuja bondade se dignou
proporcionar à nossa pequena obra nascente a proteção, os conselhos, a sábia
direção de um de seus Pontífices, e dar a um tão pequeno começo uma tão grande
bênção!
Sem seu apoio, Monsenhor, talvez tivéssemos perdido ânimo, depois das
provações que, uma após a outra, nos atingiram. Mas, vendo Sua Grandeza tão
cheia de confiança no futuro da pobre Comunidade, recebendo suas palavras tão
ardentes e tão afetuosas ao mesmo tempo, sentimos que o divino Mestre não
estava longe e ficamos firmes em nossa esperança. De vez em quando ainda,
quando medimos a grandeza da tarefa e a fraqueza de nossos meios, sentimos um
pouco de pavor, mas essas falhas duram pouco, nos lembramos de que as vias de
Deus são misteriosas e seus fins sempre sem proporção com nossos meios; nos
recordamos sobretudo de seus favores e das graças que nos tem feito e nos
abandonamos em paz à sua direção e a seu amor.
Digo “nos”, e Sua
Grandeza me perdoará isso, espero, não porque eu entenda assim me associar
inteiramente aos méritos do irmão Myionnet, mas porque uma viva simpatia e a
mais terna caridade me unem a seus trabalhos e a seus esforços. Esforcei-me
também em partilhar seus exercícios, na medida em que minhas outras obrigações
me permitem, a fim de suprir os que faltam e de dar-lhe ao menos a sombra da
vida comum, enquanto se aguarda a realidade. Todos os nossos confrades de São
Vicente lhe mostram, por sua vez, uma sincera benevolência e se apressaram,
após o nosso apelo, em prestar-lhe auxílio para a obra dos aprendizes. Os
começos se vislumbram bem, já se pode constatar alguns progressos e, segundo
toda aparência, ele terá logo ganhado o coração de todas as suas crianças. Esse
bom Irmão é tranqüilo e confiante e não duvida de que o Divino Senhor lhe
envie mais tarde irmãos dedicados para auxiliá-lo.
Guardo a esse respeito, Monsenhor, o sentimento que pus com tanta felicidade em
seu coração, no dia de sua partida e, se Deus se dignar de me dar vocação,
responderei, espero, ao seu apelo. Consultei o Sr. Beaussier131, assim
como Sua Grandeza havia julgado necessário, e o encontrei assim como Monsenhor,
favoravelmente disposto. Ele julgou somente, com Sua Grandeza, que um
consentimento bem preciso e bem nítido devia me ser dado para me liberar do
laço que ainda me amarra, mesmo que fracamente.
Já preparei um pouco as vias a esse respeito e não percebi nada que me
pressagie uma resistência. Todavia, não poderia prever o desfecho enquanto a
prova definitiva não foi feita. Se isso lhe agradasse, Monsenhor, após ter bem
rezado e ter-me entregue nas mãos de Deus, daria o passo decisivo. Admitindo-se
que, desde o início, eu obtivesse um consentimento inteiro e perfeito, ficaria
ainda para mim, para regularizar minha posição sob outros aspectos, muitas
diligências e providências que me levariam sem dúvida para além do prazo de
três meses que Sua Grandeza me prescreveu. Permanecerei, portanto, fielmente no
limite que me traçou. Se desse seu assentimento, Monsenhor, a essa disposição,
ousaria solicitar uma grande graça: seria que o dia em que deverei falar me
fosse designado de antemão por Sua Grandeza e que, neste mesmo dia, tivesse a
extrema caridade de dizer a Santa missa para obter-me, da parte de Deus, luz e
bênção. Apesar de qualquer coisa que acontecesse depois, me sentirei tranqüilo,
bem assegurado de que estou segundo o bel-prazer divino. Aguardarei, portanto,
Monsenhor, a resposta de Sua Grandeza e não irei mais longe sem ter recebido seu
aviso e sua direção.
Acreditei até agora não dever dizer nada ao bom Sr. Myionnet, por medo de ter
em seguida que retirar minhas palavras, se provasse algum obstáculo
insuperável. Pareceu-me bom, aliás, que pudesse me ver de perto e bem intimamente
para julgar, com conhecimento de causa, se pode verdadeiramente encontrar em
mim um companheiro e um irmão que partilhe seus trabalhos e se una a ele no
Coração de Jesus Cristo.
Guardo, enquanto fico esperando, a lembrança de seus conselhos paternais,
Monsenhor, torno a ler os dizeres de seus caros santinhos, saboreio-os e
medito, esforçando-me por bem captar seu espírito. Confiança em Maria,
humildade, espírito interior, eis aí o que me aconselhou; tenderei a isso com
todas as minhas forças. Mas minha vida será demasiadamente curta para um
objetivo tão elevado, a não ser que suas orações aplainem e abreviem o caminho.
Solicito-as, portanto, bem ardentemente e ousarei, pobre como sou, oferecer ao
Senhor em retribuição a expressão de minha terna gratidão e de meus votos bem
ardentes por Sua Grandeza.
Queira ter a certeza disso, Monsenhor, e aceitar o humilde respeito com o qual
sou
Seu muito obediente e muito devotado servo em N.S.
Le Prevost
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