Detalhes sobre o
estado de saúde de sua mãe moribunda. Afeição paternal para com seu filho
predileto. Conselhos sobre as obras a fazer durante sua ausência. Cuidar de bem
“harmonizar” as disposições de uns e outros.
Duclair,
17 de novembro de 1845
Deixe, querido amigo, que lhe fale um pouco de minha pobre mãe e, em seguida, o
admoestarei ternamente, bem ou mal, pois nossa querida doente, dez vezes por
minuto, me chama e reclama meus cuidados. Essa boa mãe, caro amigo, não está de
jeito nenhum em melhor estado. Longe disso, suas forças se apagam, ela usa os
restos de uma constituição vigorosa, mas sem que nada alimente o foco de vida,
já que rejeita toda comida com repugnância e desgosto. Ontem, se sentia tão
esgotada, tão abatida que não podia ficar um momento sem apoio: precisava que,
alternativamente e muitas vezes ambos ao mesmo tempo, minha irmã e eu,
ficássemos perto dela para sustentá-la; ela apoiava, como você faz, caro filho,
sua cabeça em meu ombro, em seguida apertava nossas mãos de um modo tão triste
que ficava com o coração desolado. Chorei uma parte do dia, vendo bem
claramente que toda esperança de um restabelecimento era vão e não podendo me
resignar a uma separação por demais dolorosa. Esta noite, ela esteve mais calma
e a encontro, esta manhã, um pouco menos desanimada. Suas disposições de
coração continuam sempre excelentes; de vez em quando, chama Deus e a Santa
Virgem para socorrê-la e oferece seus sofrimentos em expiação de uma vida,
porém, bem boa, com muito trabalho e uma retidão constante bem rara hoje. Não se
canse, caro filho, de rezar com o bom irmão Myionnet por esta pobre criatura
que o Senhor submete, penso eu, às derradeiras provações. Eu amava seu bom pai,
amo sua mãe, tenha, você também, um pouco de terna caridade por minha excelente
mãe.
Você está um pouco aflito, caro filho, por não ter tido as primeiras linhas que
escrevi aqui e o confessa com ingenuidade, não sabendo muito bem se é
contra você que está irritado ou contra mim. Agradeço, pobre filho, sua
franqueza que sempre me encanta, você sabe, e que salvará nossa afeição de todo
mal-entendido desagradável. Fale em toda ocasião, com o mesmo abandono, deixe
seu velho pai pôr a mão na ferida e tenha certeza de que ele nunca falhará em curá-la. Você
se entristeceu sem motivo, caro filho, o irmão Myionnet teve minha primeira
carta, mas você teve meu primeiro pensamento, minhas primeiras, minhas mais
caras lembranças. Você quereria trocar sua parte com a dele? Conte comigo,
amigo, a respeito do cuidado de fazer-lhe sua porção em minha afeição e se você
me ama de verdade, como creio, cuide que minha ternura por você, facilmente
demais parcial e exclusiva, fique numa sábia medida que não ofenda nem a Deus,
nem aos homens, nem a meus deveres. Da minha parte, empenho-me em vista disso
constantemente, mas sinto bem que a inclinação natural e a queda do coração me
conduzem ainda demasiadas vezes. Caro filho, seja generoso e longe de me
arrastar para o sentido errado, ajude-me a permanecer firme no bom. É somente a
esse preço que minha terna predileção por você lhe ficará fiel e continuará
sendo, para você como para mim, uma doce, íntima e preciosa consolação. Quando
estou por demais dolorosamente aflito, aqui, quem você acha que chamo no fundo
do coração para consolar-me e suavizar minhas penas?
Recebi aqui muitas cartas, qual, você acha, filho, que esperei com mais
impaciência? Qual é também aquela da qual cada palavra, cada pensamento caiu
gota a gota como um fresco orvalho no fundo do meu coração? Qual é, enfim,
aquela que eu não quis ler senão uma vez só, para sacrificar a Deus a alegria
por demais doce que teria achado ao lê-la de novo? Como se faz, caro filho, que
você não sabe tudo isso? Como o pobre pai é obrigado a informá-lo disso, um
pouco acanhado com sua fraqueza e triste também por não ser melhor
compreendido? Retome, caro filho, sua serenidade; seu doce rosto não fica bem
quando se envolve de uma nuvem de saudade e de tristeza; o velho pai disse-lhe
um pouco, somente um pouco de todas as suas ternuras para com você. Coloque
isso sobre sua ferida e seja curado.
Escrevo duas palavras que coloco neste envelope para o Sr. Dufresne. Não tenho
recomendações a fazer-lhe nem para a conferência, nem para a Santa Família:
vocês todos levam demais a sério a manutenção dessas queridas obras para não
reunirem todos os seus esforços a fim de sustentá-las e fazê-las caminhar. Peço
somente a vocês para não se fiarem uns nos outros a respeito dos cuidados a
tomar; fariam bem em reunir-se, em combinar direitinho as disposições que
acharem as melhores e, em seguida, pôr mãos à obra, cada um para a parte que
tiver aceito. Eu ficaria muito triste se o pequeno edifício que temos
construído tão lentamente se abalasse por uma simples mudança tão pouco notável
na sua construção; não acontecerá assim, mas você, caro filho, e todos com
você, trabalharão o melhor possível e o Senhor a quem oferecerão seus cuidados
se dignará de apóiá-los e abençoá-los. Desejaria que o Sr. Roudé visse o Pe.
Milleriot, para avisá-lo de minha ausência e pedir-lhe suas orações; seria bom
também que o Sr. Taillandier tivesse a bondade de prevenir o Sr. Pároco de que
a reunião da Santa Família realizar-se-á domingo e oferecer-lhe ao mesmo tempo
minhas lembranças respeitosas; solicito também para minha mãe as orações de
nosso bem-amado Pastor. Para a reunião, o Sr. Lamache, espero, não se recusará
a falar. Na falta dele, o Sr. de St Chéron, se lhe escrevessem sem
demora, o faria de bom grado; este último presidiria bem a reunião se, contra o
meu desejo, o Sr. Dufresne ou algum outro não quisesse se encarregar disso. A
senhorita Barbe tem, disse-me, uma carta interessante de um missionário;
poderiam pedir-lhe a carta e ver se convém lê-la. O Sr. Pároco de Saint Merry
tinha prometido falar, poderiam pensar nisso para esta vez ou para uma outra. O
Sr. de Lambel140 não está em Paris, creio. Em resumo, vocês têm
elementos para fazer uma boa reunião, não lhes falta nem zelo nem vontade,
conduzirão tudo para o bem, tenho confiança. Terça-feira, na hora da reunião, me
coloquei diante de Deus em união de coração com vocês; domingo, eu farei isso
com toda a minha alma igualmente. Abrace o irmão Myionnet de todo o coração por
mim; ele escreveu-me uma boa carta, a qual lhe agradecerei eu mesmo daqui a
pouco. Peço-lhe para solicitar vales e visitar por mim minhas famílias das
Missões: Louise Brunet, 12 rua Traverse, que rezará muito por minha mãe (1 pão,
1 carne) a viúva Lecoeur, 16, rua Traverse (2 pães e 20 centavos que devolverei
ao irmão), Stalberger, 9, Saint Placide, 3 pães cada quinze dias; é preciso
visitá-lo logo.
Resta-me recomendar-lhe, caro filho, a distribuição dos livros, na quarta-feira
à noite, aos homens na biblioteca; veja para que seja feita exatamente; é
essencial. O Sr. Taillandier dará a nota para os doentes a recomendar e mandará
a tempo suas cartas de convite.
Recomende ao Sr. Tulasnes o jovem Laurent que se prepara para sua Primeira
Comunhão no Natal.
Adeus, caro filho, aperto-o fortemente, bem fortemente contra meu coração e sou
ternamente seu velho e afeiçoado pai.
Le Prevost
|