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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 101 - 200 (1843 - 1850)
    • 133 - ao Sr. Maignen
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133 - ao Sr. Maignen

Os últimos instantes de sua mãe.Tranqüiliza-o a respeito do futuro da pequena comunidade nascente. Anuncia-lhe o falecimento de sua mãe, que aconteceu em 6 de dezembro.

 

Duclair, 5 de dezembro de 1845

            Já achava, querido filho, que sua pequena epístola tardava muito a vir; o correio chegando de manhã, peço informações a cada dia, na volta da missa, para saber se algo veio para mim e, quando espero uma carta do filho querido, é com uma diligência toda particular que cuido disso. As doces palavras de meu filho bem-amado são, com efeito, após a consolação que Deus diretamente, meu mais precioso alívio. Essa distração, caro amigo, continua sendo bem necessária para mim, pois, a situação de minha pobre mãe se estabilizou aparentemente, há oito dias, em um ponto em que não parece habitualmente possível estacionar, quer dizer o extremo e quase imperceptível limite que separa a vida da morte.

 

            Durante todo esse tempo, não tomou absolutamente nada, o que se pode fazer passar de água açucarada entre seus lábios não chegando a equivaler a algumas gotas por dia; ela fica quase constantemente adormecida, o que, sem dúvida, impede o resto de substância que está nela de se consumir depressa demais e prolonga, contra toda expectativa, sua existência. Há já 5 dias que o médico havia julgado que não lhe restavam 24 horas para viver; no entanto, Deus que mede o tempo e o sopro para suas criaturas não ratificou essa sentença de uma boca humana, a alma fica amarrada a esse pobre corpo esgotado e emagrecido e a impressão de não poder se separar dele. Assim são nossas afeições: à força de cuidados, de vigilância, impedimos esse frágil invólucro de se quebrar e não encontramos a coragem de devolvê-lo à terra que deve regenerá-lo e no-lo devolver belo e transfigurado no grande dia da ressurreição. Faz 5 noites que passamos juntos, minha irmã e eu, perto de nossa pobre mãe, descansando um pouco alternativamente, mas, na verdade, quase sempre em vigília e na expectativa de algum triste acontecimento. Após esses cinco dias e essas cinco noites passados, não percebemos mudança bem notável no estado de nossa pobre doente, e às vezes um clarão de esperança atravessa nosso espírito; mas é por ilusão, sem dúvida: a não ser por uma espécie de milagre, a saúde, o vigor,  a vida (quer dizer, tudo) não poderiam ser devolvidos a esse corpo esgotado. Durante os primeiros dias que seguiram minha chegada, nossa querida doente, tendo experimentado uma melhora bastante sensível, dizia, feliz: sinto-me sarar, são as preces de meu filho que me ressuscitam; pobre mãe, logo perdeu sua confiança, resignou-se de novo, viu que, se as preces tão ardentes que fiz por ela deviam, como espero, ser-lhe úteis, não era para o tempo, mas para a eternidade. Que a santa vontade do Senhor se cumpra, não disse outra coisa, é uma palavra com dupla finalidade que o divino mestre aplicará em um sentido ou noutro, conforme quiser sua sabedoria.

 

            Seguraria você o dia todo, se descuidasse, caro filho, na triste cabeceira de nossa pobre doente, mas, caro amigo, seria abusar de sua terna compaixão, você que vem tão amavelmente a mim, associando-se aos meus pensamentos, às minhas dores. Você merece certamente que eu faça algum esforço para ir também a você e me recolocar no mundo ativo e vivo onde você respira.     Não tenho, caro filho, as inquietudes que você supõe sobre nossas pequenas obras, sei que estão em boas mãos, considero-as protegidas e sustentadas por Deus sobretudo, ele que se dignou de suscitá-las, e não tenho solicitude penosa no tocante a elas. Prevendo somente que um triste acontecimento poderia, por algum tempo, afastar delas meu espírito, achei oportuno lembrar, em duas palavras, ao nosso caro Dufresne o que estava para ser feito desde já, convidando-o a não esperar por minha volta para pôr mãos à obra, eis aí todo o motivo de minha carta. Você acha, amigo, que seu velho pai adia para bem longe a época provável de sua reunião com seus amigos; ele não podia, você entende, dizer nada de preciso a esse respeito, mas era-lhe fácil ver que, de qualquer jeito, mesmo se voltasse a Paris numa data bastante próxima, como é de se pensar, ele não poderia, no entanto, convenientemente e com liberdade de coração, reassumir tão depressa a atividade das obras caridosas. Como o pai transborda sem reserva seus mínimos pensamentos para o coração de seu filho, ele acrescenta, para ele sozinho, que deseja conseguir para si alguns dias de recolhimento, a fim de examinar com o Sr. Beaussier qual posição deve assumir definitivamente no mundo e em que decisão deve se fixar para seu futuro. A saída precipitada que me afastou de Paris, meu bem-amado filho, veio bem providencialmente para me dar condições de seguir a orientação do Sr. Beaussier que me dissera: espere e reze. Desde minha chegada aqui, sentindo-me fortemente atormentado a esse respeito, escrevi uma longa carta a esse excelente Padre, para recolocar sob seus olhos os detalhes de minha situação e pedir-lhe examinar com folga diante de Deus, qual via teria de seguir, assegurando-lhe que, vendo em sua decisão a ordem do Senhor em pessoa, a adotaria cegamente. Desde esse momento, as orações do bom Padre, e as de meu caro filho, acredito também, foram ouvidas sem dúvida, pois, reencontrei desse lado uma calma e um abandono perfeito.

            Esta carta interrompidadois dias,  só está sendo retomada, caro filho,  com um redobramento de dores. O sacrifício tão doloroso que nos pedia o Senhor está enfim consumado, minha pobre mãe cessou de existir ontem às 10 horas e quinze da noite. Não tenho a força de dizer-lhe agora mais nada; quando estiver um pouco restabelecido de uma tão dura provação, escrever-lhe-ei com mais calma, se puder; hojesei chorar e dizer-lhe: ame a mim, caro filho, reze por ela e por mim. Voltarei, acho, pelo fim da semana; dir-lhe-ei isso mais precisamente a fim de vê-lo mais cedo; terei grande necessidade de seu coração, que já me foi tão terno e tão amável desde minha saída e que fará ainda meu repouso e minha consolação.

 

            Seu pai e amigo

 

                                               Le Prevost

 

            P.S. Pedir para minha pobre mãe as orações da Conferência. Selar a carta do Sr. de Montrond (83 Rua de Sèvres) e entregá-la no seu endereço. Entregar também a do irmão Myionnet.

 




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