Agradecimentos pela
afeição que lhe testemunhou por ocasião do falecimento de sua mãe. Abandonar-se
à vontade de Deus para o presente e para o futuro.
Duclair,
11 de dezembro de 1845
Caro, caríssimo filho, sua voz suave e terna chega até mim com cada uma de suas
palavras e vai diretamente ao fundo do coração de seu velho pai, para
consolá-lo e devolver a serenidade à sua alma. Agradeço-lhe mais uma vez, caro
amigo, tudo o que seu bom coraçãozinho de filho achou de criativo e de amável
durante esse longo mês de sofrimento para suavizar sua amargura; agradeço
sobretudo a Deus por isso, ele que, tendo formado esse coração com tanta
bondade, dignou-se de me dá-lo como compensação de tantos outros afagos de que
minha vida está desprovida. Estimo tanto esse doce tesouro, caro filho, para não
me queixar da parte que me é feita e sinto em mim nesta hora unicamente
sentimentos de amor e de gratidão. Você tem razão, caro filho, suas cartas são
bem melhores que as minhas, mas o que podia eu tirar de um pobre coração, em
que o Senhor só derramava dia e noite aflições e dor. Tudo o que
teria sabido fazer teria sido associá-lo mais intimamente às minhas tristezas,
mas, não sei se esta disposição me é particular ou se a partilho com todos,
é-me impossível encontrar expansão numa tristeza viva e profunda, parece-me que
isso é uma coisa grave e sagrada que não suporta o emprego das palavras. Pouco
a pouco as tristes imagens enfraquecerão, as impressões e lembranças serão
menos vivas e a calma habitual voltará; mas deve-se deixar esta obra ao tempo e
não tocar muito nela até lá. Segunda-feira foi-me preciso levar sozinho, com
alguns amigos de minha irmã, bem pouco conhecidos por mim, minha bem-amada mãe
à sua última morada; depois, empenhei-me em fazer observar com precisão sua
localização, em cercá-la e orná-la um pouco; amanhã, cuidarei de terminar
alguns negócios que interessam minha irmã e seus filhos, e depois de amanhã,
sábado, livre desses grandes deveres, partirei para me reunir a você, caro
filho, ao irmão e aos nossos amigos. Este mês que acabo de passar esteve cheio
de penas e de cuidados dolorosos, mas impregnado também constantemente de paz e
de consolação interior, porque sentia claramente que eu estava onde me queria a
vontade do Senhor, que eu andava em sua presença, cumprindo as coisas para as
quais ele me chamara. Meu único desejo seria que o resto da minha vida fosse
assim, e, se tenho certa inquietação sobre o futuro, provém unicamente do medo
de não enxergar bastante nitidamente o que o Senhor pede a seu pobre servo. Mas
esse medo é mau e anuncia um coração por demais desconfiado das misericórdias e
do terno amor de Deus. Não apraz ao divino Pai dizer, com tanto tempo de
antecedência, a seus filhos o que ele entende prescrever-lhes, mas, se eles
querem se abandonar à sua conduta, dia a dia, ele lhes distribui, com o pão que
os nutre, a luz que os esclarece e os conduz; eu me entrego em suas mãos, sem
nada querer, sem pensar, sem prever; o sopro de meu Deus me levará ao lugar que
será melhor para mim. Não tenho intenção nenhuma, caro filho, de começar um
retiro na minha chegada, nem, sobretudo, de afastar meu filho querido de quem
sinto, ao contrário, uma grande necessidade; utilizarei, para rezar e para
procurar com o Sr. Beaussier a vontade de Deus, alguns dias após minha chegada,
e vou abster-me de retomar parte até o fim do mês em nossos trabalhos
caridosos, mas adiarei o retiro propriamente dito para um outro tempo que seria
determinado em conjunto com o irmão Myionnet, se a Deus aprouver.
Sábado, caro filho,
farei uma parada em Rouen, para ver meu sobrinho em sua pensão e só chegarei em
Paris, pela estrada de ferro, por volta das 6 horas da noite. Tinha bem
pensado em dizer-lhe que precisava vir ali para me encontrar; mas, por reflexão
e por diversas razões que lhe explicarei, prefiro que você venha me encontrar
pelas 8 horas em casa para passar comigo o resto da noite. Tenha a bondade,
caro filho, de livrar-se de seus negócios da loteria, a fim de estar
inteiramente disponível. Você fará bem, talvez, em falar de minha chegada somente
ao irmão; pelas 9 horas e trinta iremos vê-lo e dizer com ele a oração; será o
modo de recomeçar bem nossa vida. Gostaria também que pedisse ao meu porteiro
para avisar Dona Malenie de minha volta, a fim de que me prepare o jantar para
as 7 horas.
Adeus, caro filho, continue a rezar por minha boa mãe. Agradeço a você, assim
como ao irmão e aos nossos amigos sua diligência em mandar dizer uma missa.
Ponhamos assim sempre em comum nossas afeições, caro filho, tristes ou felizes:
elas são pesadas demais para um só coração; Deus o previu, quando ele manda às
pobres almas cargas tão pesadas, ele as mede, não para uma sozinha, mas para
várias ligadas juntas e ternamente unidas; meu doce filho, que a sua e a minha
resultem em uma só e que outras ainda conosco se fundam em uma santa e pura
união com Deus, por Deus e para Deus.
Seu com ternura em J. e M.
Le Prevost
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