Tempo de reflexão e de
oração nos Irmãos de São João de Deus.
Paris,
2 de janeiro de 1846
Monsenhor,
Tomei para mim parte dos excelentes conselhos que Monsenhor se dignou dirigir
em minha ausência ao Sr. Myionnet e que ele me deu a conhecer ao meu retorno.
Cada uma de suas cartas contém para nós preciosos ensinamentos, que
evitaremos, com todo o cuidado, negligenciar, e pelos quais temos, desde
este momento, uma bem viva gratidão.
Com nosso profundo pesar aliás, ainda não
podemos fazer uma aplicação prática deles, já que ainda vivemos separados, e
não vemos até agora o tempo exato em que poderemos nos reunir. Meus negócios
pessoais, resolvidos em um primeiro ponto essencial, ainda continuam não
decididos em um outro: o de minha aposentadoria. Aguardando que esse obstáculo
seja tirado, me alojei nos irmãos de São João de Deus cujo estabelecimento, que
já existe aqui há três anos, se firma de um dia para outro e parece geralmente
estimado.
O Sr. Beaussier julgou que eu não podia achar uma residência mais conveniente,
e que me pusesse melhor em condições de ver de perto, e de estudar atentamente
a vida religiosa. Acompanho, com efeito, em todos os momentos em que meus
deveres não me chamam para fora, os exercícios dos bons irmãos; informo-me
exatamente de todas as circunstâncias de sua vida; tomarei conhecimento de suas
regras, se consentem me comunicá-las, e procurarei penetrar-lhes o espírito. Um
tal estudo só poderia me ser proveitoso, e o exemplo, sobretudo, dos hábitos de
simplicidade, de trabalho, de pobreza e de plena submissão destes bom irmãos me
será um grande meio de edificação.
O Sr. Myionnet deseja certamente vir se juntar a mim e passar também algum
tempo nesta casa a fim de gozar das mesmas vantagens, mas, neste momento, o
estabelecimento, que recebe doentes, está completamente lotado, e somos
forçados a aguardar um pouco. Receamos, aliás, chamar a atenção cedo demais
sobre nós e definir com demasiada precisão nossa posição que ainda exige grande
circunspeção. Este tempo de espera e de paciência é longo, sem dúvida, mas faz
parte dos desígnios de Deus que não quer que a porta se abra antes que se tenha
batido a ela várias vezes; sua bondade se dignará, enfim, admitir-nos,
esperamos, e esta graça tão desejada será tanto mais preciosa por isso aos
nossos olhos.
O ano que acaba de terminar me deixa uma triste e dolorosa lembrança porque
perdi bem recentemente a mais terna e a melhor das mães; mas não devo
esquecer-me, de outro lado, que a bondade divina dignou-se me conceder
grandes e poderosas consolações; coloco em primeiro lugar, Monsenhor, as
circunstâncias felizes que me permitiram aproximar-me de Sua Grandeza,
receber seus excelentes conselhos com o testemunho de uma benevolência toda
paternal. Agradeço do fundo do coração o Pai das misericórdias por isso e
peço-lhe, Monsenhor, para lhe retribuir ao cêntuplo o bem que faz a nós e a
tudo o que o cerca.
O Sr. Beaussier, cujo espírito continua sempre unido ao seu, Monsenhor, me
encarrega de lhe oferecer também a expressão de seus votos os mais sinceros.
Queira aceitá-los, Monsenhor, e acreditar no profundo respeito com o qual sou
em N.S.
Seu muito humilde servo e filho
Le Prevost
|