O que representa para
o Sr. Le Prevost uma verdadeira amizade fraterna. Que o Sr. Maignen “pegue sua
vontade com as duas mãos” e dê prova de simplicidade e de confiança.
Duclair,
23 de agosto de 1846
Escrevo hoje pela
primeira vez desde minha chegada aqui. Estive sempre adoentado; chovia, o céu
estava cinzento e meu espírito também. Eis o sol hoje, por isso faço esta
pequena carta para você, com o propósito de fazer-lhe uma maior, quando estiver
um pouco melhor. Enquanto isso, escreva-me bem depressa, pois preciso receber
uma carta sua; parece-me também que você precisa me escrever. Observe bem e
você verá, caro amigo, que não me engano; há no seu coração toda sorte de
cantos e recantos, onde permaneço ainda: você não saberia penetrar ali sem me
encontrar em todos os lados. Pegue sua vontade com as duas mãos, caro amigo,
supere as dificuldades inevitáveis em toda afeição e depois de um pouco de
tempo, apoiando-se num amigo terno e fiel, você se congratulará pelos seus
esforços e gozará da sólida afeição que terá dignamente adquirido para si. Falo
assim, caro amigo, porque apesar de sua doce bondade por mim, eu sentia ainda
um pouco de luta e de constrangimento em seus relacionamentos comigo. Apague
essas últimas impressões, volte a ser simples, confiante, abandonado; você
estará em paz consigo mesmo, somente com esta condição. Não há meia-afeição
possível entre nós; desde o início a concebemos como ambos a podemos entender:
inteira, absoluta, sem reserva; haverá sofrimento para ambos, enquanto
não estiver nesta feliz plenitude. Tal como a quereria, caro amigo,
seria, parece-me, um louvor a Deus, uma edificação recíproca, um apoio, uma
consolação, um encorajamento, uma doce paz para o coração, um estimulante para
o espírito, tudo o que há de melhor neste mundo, em uma palavra, depois do amor
de Deus, o amor de um irmão e de um verdadeiro amigo. Não vale a pena se
esforçar um pouco para isso, caro filho? Para obtê-lo, não se pode passar
alguns dias maus e suportar sem recriminar alguns leves aborrecimentos? Eu
também, às vezes, curvando-me sob a pena e a aflição que me aconteciam através
de você, perdia coragem e desesperava quanto ao futuro, mas esses
momentos eram breves; levantava-me e retomava confiança; e ainda agora acho-me
novamente de pé, firme, dedicado, amoroso, contando com você e entregando-me
também a você.
Todos os livros que abro, a Imitação
em particular, aconselham-me
sempre a renunciar a toda criatura para ser ocupado só com Deus. Não sei se me
iludo, mas tenho sempre a persuasão de que Deus entra bastante numa afeição,
tal como a desejo entre nós, para ele não ficar com ciúme dela e não excluí-la
dos corações que Ele quer reservar para si. Possa Ele ser sempre o terceiro
entre nós, caro filho, iluminar-nos, conduzir-nos e, um pelo outro, apegar-nos
inteiramente a Ele.
Adeus, meu querido filho. Repito para você, escreva-me depressa. Procure levar
a termo o negócio do desenho. O Sr. Belliard quer começar no dia 1º de setembro
e promete consagrar-lhe 8 dias cheios, sem interrupção. O Sr. Lafon consente e
só pede para se entender com o Sr. Belliard; trata-se de aproximá-los. Adeus,
amigo, abraço-o bem ternamente.
Le Prevost
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