Lembrete sobre
os acontecimentos que levaram o Sr. Maignen a deixar brutalmente sua
família. Prudência do Sr. Le Prevost. Por que ele o enviou ao Sr. Levassor e
não a Dom Angebault. Projeto de retiro dos irmãos Myionnet e Maignen na Trappe.
Duclair,
7 de setembro de 1846
Meu muito querido irmão,
Já pensava que não podíamos rejeitar nosso caro irmão Maignen, se está bem
determinado a juntar-se a nós, mas desejava ver meu parecer confirmado pelo do
Sr. Beaussier e pelo seu. A única coisa que tenhamos, parece-me, que examinar
com nosso jovem amigo é a firmeza de sua resolução. Há muito tempo, disse-me
ele, estava totalmente decidido a quebrar todos os obstáculos para dar-se
inteiramente a Deus e só esperava uma ocasião favorável. Desconfiava, porém, de
suas forças e temia fraquejar com sua família no momento da prova. Quarta-feira
passada, depois de uma mínima contrariedade que tivera em casa, sentiu-se
inspirado a aproveitar o tipo de excitação por causa dessa contrariedade, para
dar o passo e, de fato, consumou seu sacrifício. Assegurou-me que, em nenhum
instante, tinha exagerado o motivo de seu descontentamento, que ele mesmo
chamava de criancice, mas que voluntariamente e com reflexão, tinha captado no
ar esse pretexto para tomar seu impulso. Com efeito, passou o dia arrumando
seus negócios, ao menos provisoriamente, partiu à noite para Rouen, onde pousou
e, no dia seguinte, na quinta-feira, chegou a mim. Tive medo de que fosse
atormentado pelo seu irmão, por quem se podia pensar que seria seguido.
Convidei-o, então, a ir imediatamente junto ao Sr. Levassor; ficou comigo
somente algumas horas. Às 5 horas da tarde, continuou para Rouen, onde deve ter
pousado, para partir sexta-feira durante o dia para Chartres, onde não terá
encontrado, aparentemente, o Sr. Levassor. Minha carta ao Sr. Beaussier continha
em substância esses pormenores, mas você não parece, meu caro irmão, ter tido
conhecimento dela, pois parece pensar que nosso amigo ainda está comigo.
Esperava dele uma carta hoje, penso que não pode deixar de chegar para mim
amanhã.
Meu principal objetivo e, na realidade, o único, enviando nosso amigo à casa do
Sr. Levassor, era deixá-lo inteiramente independente e livre para a reflexão
como para a ação, durante os poucos dias que se podiam passar até o momento em
que sua demissão, que ele ainda tinha o direito de retirar, se tivesse tornado
irrevogável. Tinha-lhe feito todas as observações possíveis, para bem
esclarecer seu espírito sobre os inconvenientes de sua resolução repentina e
sobre as vantagens que teria encontrado escolhendo mais sabiamente seu tempo;
persistiu em sua vontade. Parece-me que se, depois de alguns dias passados e o
tempo de retirar sua demissão sendo esgotado, ele ficar firme na sua vontade,
não poderemos duvidar de sua resolução nem deveremos nos recusar a admiti-lo
entre nós. Então, não veria a utilidade da grande viagem que você proporia que
empreendesse para Angers, viagem bastante dispendiosa e para a qual ele teria,
creio, muita resistência. Já se mostrava bem triste por ir-se longe de nós, a
Chartres, com estrangeiros, no momento em que nossa presença e o apoio de nossa
afeição fraterna ter-lhe-iam sido tão necessários; acho que ele teria mais
pesar ainda em recolocar-se na estrada para ir a uma tão grande distância.
Veria, nessa viagem, um inconveniente mais grave, o de levar talvez Monsenhor a
retomar para conosco as perspectivas de autoridade absoluta que ele tinha
adotado em primeiro lugar e que poderiam ter criado para nós sérios embaraços,
sem a restrição que interpusemos; enfim, pudemos nos convencer, em várias
circunstâncias, de que esse venerável prelado, cuja experiência e alta piedade,
aliás, conheço, não tinha inteiramente entendido nosso pensamento nem captado
exatamente as circunstâncias de nossa posição. Duvido, portanto, que ele
tivesse graça especial para dirigir nosso caro irmão, sobretudo sem conhecer de
longa data seu caráter, seus costumes e suas disposições.
Eis aí, meu caro irmão, meu pensamento sobre o meio que você propõe; entrego-o
ao exame do Sr. Beaussier e ao seu com toda a simplicidade e bem decidido de
antemão a adotar sua opinião se a minha não lhe parecer a melhor. Se, pelo
contrário, você julgasse bom adotar meu pensamento, creio que poderíamos manter
por alguns dias nosso amigo em Chartres ou em outro lugar, até o momento de sua
saída. Então, você o levaria consigo ao lugar para onde deve ir, a fim de tomar
algum descanso, e vocês fariam juntos uma ausência de uns quinze dias; isso me
pareceria suficiente para recolocar todas as coisas em seu devido lugar. Calculava
partir para encontrá-lo no começo da semana que vem; se você acha que, para
facilitar sua saída e a do Sr. Maignen, eu deva apressar minha volta, não deixe
de me dizê-lo sem nenhuma hesitação.
Adeus, meu muito querido irmão, abraço-o ternamente assim como a nosso
excelente padre Beaussier e sou em N.S.
Seu irmão devotado
Le Prevost
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