O Sr. Le Prevost lhe
comunica notícias de sua família. Razões pelas quais teve que observar uma
certa reserva, com respeito às obrigações de seu papel de fundador.
Paris, 20
de setembro de 1846
Meu caríssimo filho,
Não tenho mais nada a dizer-lhe, já que você tem agora seu irmão Myionnet, que
vale bem mais do que todas as cartas do mundo. Sua presença perto de
você154 responderá, caro amigo, às suas solicitudes e lhe será um
suave descanso.
Por outro lado ainda, tenho causas de consolação a oferecer-lhe. A Senhora sua
mãe veio me visitar esta manhã, e achei-a bem mais calma e bem melhor disposta
que tinha pensado. Assim como o tinha pressentido, a irritação que se tinha
manifestado primeiro em sua casa estava sendo inspirada pelo lado de fora; mais
um pouco de seu tempo ainda e tudo voltará ao normal. O anúncio de que você
teria o título de Vice-Diretor da Casa de patronato com uma gratificação
módica, mas fixa e independente, produziu sobre o espírito de sua boa mãe um
efeito maravilhoso; aí estava, parece, o espinho mais doloroso; o pensamento de
que seu filho estaria, frente aos outros, em estado de inferioridade, era-lhe
insuportável. Visto que não deverá nada a ninguém e tirará tudo de seu
trabalho, ela resignar-se-á. Tais eram suas disposições ao deixar-me, caro
amigo; mas não seria o caso de pensar que essa será a última palavra; sua
inspiração própria vai nesse sentido, mas os outros a empurram para um outro
lado. Todavia, os outros, menos interessados, cederão logo e vão cansar-se;
somente a afeição de sua mãe e de seu irmão ficará firme e prevalecerá. A Senhora
sua mãe lhe escreveu esses últimos dias uma pequena carta, quase com o
desconhecimento dos outros, e que ela me diz ser bondosa, acho que você a terá
recebido; estava com o endereço de Duclair, mas na minha saída eu tinha dado
seu endereço ao carteiro, para que suas cartas lhe fossem remetidas para
Chartres; acho que a de que se trata terá chegado a você.
Dona Maignen me disse que, esta manhã, um empregado de seu Ministério viera
encontrá-la para dizer-lhe que desejavam ter peças que você devia entregar para
o trabalho; ela pensa que você deveria tomar providências para fornecê-las
logo. Vi, nos pormenores que ela me deu a esse respeito (e que são talvez, na
realidade, o simples pretexto da visita que ela queria fazer ao Sr. Myionnet ou
a mim hoje), vi que ela não tinha perdido inteiramente a esperança de que, por
uma reviravolta de idéias, você quisesse retomar sua posição na administração.
Se você tivesse efetivamente necessidade de entregar essas peças, não poderia
mandar sua chave a seu velho amigo do escritório (não sei o nome dele),
pedindo-lhe, em confiança, para fazer primeiro um lote de todos os papéis que
lhe são pessoais e de entregar o resto a seus colegas?
Você deve ter recebido ontem, sábado, uma carta minha,
que o terá consolado um pouco, caro filho, e lhe terá mostrado que você estava
rápido demais para duvidar de nosso terno apego. Domingo passado, dia 13,
escrevi para você, estando ainda em Duclair, uma longa carta que deve ter-lhe
chegado terça-feira 15. Você parece não ter recebido essa carta do 13, domingo,
devendo chegar na terça-feira 15; tire-me dessa angústia a esse respeito. Ponha
a data em suas cartas, você o faz raramente, caro amigo, a última estava dentro
de um envelope não selado. Tendo chegado aqui quarta-feira à noite, vi os Srs.
Beaussier e Myionnet na quinta-feira para conferir com eles, e, no dia
seguinte, sexta-feira, sem mais demora, escrevi-lhe de novo uma interminável
epístola. Após essas longas cartas, fico cada vez um pouco doente, porque elas
excedem minhas forças e me mantêm demasiado tempo ocupado. Não deixo de
escrever-lhe por isso porque, fraco quase tanto como você, não resisto ao
pensamento de que você está inquieto e atormentado. Não se queixe mais, meu
caro filho, você não tem motivo algum de fazê-lo, amo-o tão ternamente como
você pode desejar e o exprimo talvez mais forte que as circunstâncias o
pediriam. Não há somente em mim, na situação em que estamos, o amigo que o
afeiçoa, como você bem sabe, há também o homem que se associou com o Sr.
Myionnet, para viver em comum e fazer o bem de acordo com ele. Ora, esse homem,
no caso presente, tinha que respeitar sua independência, abster-se de todo
conselho, e deixá-lo tomar sua decisão com toda liberdade. Desempenhou o menos
mal possível seu papel, mas, por pouco que você tenha observado, o amigo, o
irmão, o pai se mostravam em toda a parte; deteste, se quiser, o homem da rua
do Regard, mas ame, pois a isso ele tem direito, o velho e fiel amigo.
Adeus, caro filho,
você entende quanto me custa ficar sozinho nesta casa e não ir abraçá-lo com o
irmão Myionnet; estarei com vocês dois constantemente; você, para quem será a
consolação, faça-me uma pequena parte em sua terna lembrança, reze por mim
sobretudo; ao rezarmos, nos lembramos, e, para que sejam mais duradouras,
confiamos a Deus nossas lembranças. Diga também algumas coisas suaves para mim
a Nossa Senhora de Chartres; muitas vezes desejei ir invocá-la nesse lugar
abençoado; irei talvez antes de ir ao templo mais magnífico ainda onde os que a
amam aqui na Terra devem, um dia, amá-la ainda e sempre.
Seu velho amigo e irmão em N.S.
Le Prevost
P.S. Tinha ido encontrar ultimamente o Sr. padre Ozanam155, agora
Diretor do Moyen Collège em Stanislas, para recomendar-lhe seu irmão; ele acaba
de me escrever que espera fazê-lo entrar no estabelecimento (não sei a que
título) e me pede para enviar-lhe seu irmão amanhã. Não posso parecer
ostensivamente aqui, vou ver se o Sr. Richardière pode assumir a tarefa. Adeus
amigo.
Que esse magnífico título de Vice-Diretor não lhe perturbe o espírito. É uma
arrumação carinhosa que o Sr. Myionnet se compromete em ajeitar com o Sr.
Bourlez e que não diminui em nada o mérito de sua dedicação, assim como lhe
fará entender o Sr. Myionnet.
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