O Sr. Le Prevost
espera que seu retiro espiritual os fará crescer no espírito religioso.
Conseqüências da demissão do Sr. Maignen de seu emprego no Ministério da
Guerra.
Paris, 25 de setembro de 1846
Caros amigos,
Alegro-me muito com este pensamento que, na hora em que estou escrevendo-lhes,
vocês estão num lugar santo onde tudo edifica, leva ao recolhimento e traz de
volta o coração e o espírito para seu fim divino. Nosso irmão Myionnet
encontrará um pouco desse doce descanso de que estava tão sedento, e o
outro jovem irmão, um pouco dessa calma salutar que emoções vivas demais lhe tornaram
tão necessária. Possam, caríssimos irmãos, mergulhando-se bem profundamente em
Deus, saborear o alívio e a paz de que precisam igualmente. Ouso esperar que,
comunicando-lhes em abundância todos os dons que Ele reserva ao retiro, Ele se
dignará guardar uma pequena porção para o irmão que vocês deixaram para trás;
na sua volta, vocês espalharão ao seu redor o perfume de santidade que se
respira onde estão, e me transmitirão o que tiverem recebido; moderarão
nossos costumes por demais exteriores e mutáveis pelas voltas ao interior de si
e pela santa presença de nosso Deus. Enfim, caros irmãos, trarão para
vocês e para mim os grandes princípios, as santas tradições da vida religiosa,
o espírito, numa palavra, que nos separará do mundo e nos fundará no estado tão
elevado a que ousamos aspirar.
Esforço-me, de meu lado, por me recolher, tanto quanto me permitem minhas
ocupações, e medito da melhor forma possível as obrigações de nossa nova
condição. Acompanho com vivo interesse o retiro do Pe. Bourdaloue, que o
próprio irmão Myionnet leu e estudou; procurarei, com a ajuda do Senhor,
tirar dele algum fruto.
Nada aconteceu que mereça sua atenção na sede de nossa pequena Comunidade.
O Sr. Nimier esteve ontem no depósito da Guerra com a
chave do irmão Maignen e a pequena carta para o Sr. de Glaizal. Este declarou
que não precisava de peça alguma, que o escritório tinha todas aquelas que lhe
eram necessárias e que, o Sr. Frosté tendo vindo para dirigir o trabalho, a
presença do Sr. Maignen no Ministério não seria necessária, como tinha-se
presumido de início. O General Pelet, ao qual acreditou-se ser necessário pedir
licença para tirar os poucos papéis que podiam pertencer ao nosso caro irmão,
respondeu que não ia opor-se a isso, mas que julgava conveniente que o Sr.
Maignen lhe dirigisse o pedido diretamente. Uma carta redigida por ordem do
General, no primeiro momento que seguiu a demissão definitiva de nosso caro
irmão, e que havia ficado nos escritórios, por falta de indicação para fazê-la
chegar, foi entregue ao Sr. Nimier. Não a junto aqui, por causa de sua forma
administrativa que lhe torna o volume um pouco pesado demais, mas será fácil ao
nosso amigo entender-lhe o sentido, por algumas palavras que enunciarei aqui. A
carta é bastante rude, como era de se prever. O General se mostra sobretudo
chateado pela brusca saída do Sr. Maignen, e mais aborrecido ainda pelo fato de
ele ter apresentado um tão vivo desejo de um emprego que tinha resolvido há
muito tempo deixar; ele pergunta para que, então, tantas providências e
instâncias, já que o resultado devia durar tão pouco. Vê nisso uma espécie de
deslealdade e convida seu empregado a reaparecer o quanto antes em seus
escritórios, se quiser provar-lhe que não se esqueceu dos sentimentos de honra
e de probidade. Esta última palavra, de um exagero evidente, fez sorrir um
pouco o pessoal do escritório, disseram ao Sr. Nimier. De resto, o General, ao
qualificar de louco nosso jovem irmão, não tinha parecido descontente com a
primeira parte de sua carta, mas mostrou irritação diante desta palavra:
determinação há muito tempo tomada, e é sob essa inspiração que foi ditada sua
carta. Seria fácil fazer notar ao General que a saída do Sr. Maignen foi
brusca, porque não podia, em nenhum caso, ser de outro jeito. Na sua
idade, não se combina friamente uma separação de todos aqueles que são amados,
um corte de todos os seus laços de coração. Num momento em que se sente forte,
deixa-se tudo, sabendo bem que no momento seguinte não se teria mais o impulso
suficiente. Da determinação intimamente tomada no pensamento de nosso amigo,
não decorria também que ele devesse permanecer constantemente numa posição
precária e cheia de incerteza. Há três anos, estava decidido a dar-se a
Deus, sem que as circunstâncias lhe tivessem permitido seguir sua vocação; mais
três anos podiam se passar na mesma espera; precisava, então, ficar inativo,
sem fazer nada para assegurar sua subsistência e para seguir sua carreira?
Enfim, não poderia haver improbidade nem falta de honra em deixar um dever para
um outro que se julga mais imperioso, quando, por outro lado, não se compromete
nem a existência nem os interesses de quem quer que seja. Nosso caro irmão
julgará talvez conveniente responder um pouco neste sentido ao General, com
toda a deferência e toda a moderação que suas obrigações para com seu chefe lhe
impõem, mas mostrando também a calma e a segurança que convêm a seus
sentimentos. Saberá, melhor do que qualquer outro, aliás, com que termos deve
responder, já que ninguém conhece tão bem a natureza de seus relacionamentos
com seu chefe e a linguagem que pode usar com ele. Uma coisa que é essencial
para o nosso caro irmão saber é que, a pedido de sua mãe, sua substituição foi
até agora suspensa e que estaria provavelmente ainda livre, nesta hora, para
retomar seu emprego. Nada me motiva a crer que isso possa acontecer, mas se,
contra minha expectativa, o sério exame que vai fazer de si mesmo diante
de Deus, durante seu retiro, mudasse sua resolução, teria como entrar
novamente na sua primeira condição.
Eu hesitava em jogar esses pensamentos humanos no meio do recolhimento que
vocês estabelecem em suas almas, caros amigos, mas alguns dos fatos aqui
relatados, o último em particular, devem talvez entrar no balanço dos
sentimentos de nosso jovem irmão. O irmão Myionnet, a quem endereço esta carta,
julgará se deve ser lida integral ou parcialmente só ao irmão Maignen durante
os dias do retiro. Um adiamento até o seu encerramento só teria, creio, um
pequeno inconveniente, sendo que o General sairá amanhã para a Itália, para
onde lhe enviarão sua correspondência, sem dúvida, somente em certos
intervalos. Será bom que nosso jovem irmão não descuide da recuperação dos
poucos papéis que lhe pertencem. Todos os seus antigos companheiros de
escritório o asseguram de suas amizades.
Espero que o irmão Myionnet, que não me escreveu, me dirigirá uma carta depois
do retiro. Recomendo-me bem instantemente às suas orações e às de meu caro
jovem amigo. Manter-me-ei tão perto deles quanto me for possível nos divinos
Corações de J. e M.
Abraço-os bem ternamente, a ambos, caríssimos amigos, e sou
Seu afeiçoado irmão em N.S.
Le Prevost
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