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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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    • 166 - aos Srs. Maignen e Myionnet
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166 - aos Srs. Maignen e Myionnet156

O Sr. Le Prevost espera que seu retiro espiritual os fará crescer no espírito religioso. Conseqüências da demissão do Sr. Maignen de seu emprego no Ministério da Guerra.

  Paris, 25 de setembro de 1846

 

            Caros amigos,

            Alegro-me muito com este pensamento que, na hora em que estou escrevendo-lhes, vocês estão num lugar santo onde tudo edifica, leva ao recolhimento e traz de volta o coração e o espírito para seu fim divino. Nosso irmão Myionnet encontrará  um pouco desse doce descanso de que estava tão sedento, e o outro jovem irmão, um pouco dessa calma salutar que emoções vivas demais lhe tornaram tão necessária. Possam, caríssimos irmãos, mergulhando-se bem profundamente em Deus, saborear o alívio e a paz de que precisam igualmente. Ouso esperar que, comunicando-lhes em abundância todos os dons que Ele reserva ao retiro, Ele se dignará guardar uma pequena porção para o irmão que vocês deixaram para trás; na sua volta, vocês espalharão ao seu redor o perfume de santidade que se respira  onde estão, e me transmitirão o que tiverem recebido; moderarão nossos costumes por demais exteriores e mutáveis pelas voltas ao interior de si e pela santa presença de nosso Deus. Enfim, caros irmãostrarão para vocês e para mim os grandes princípios, as santas tradições da vida religiosa, o espírito, numa palavra, que nos separará do mundo e nos fundará no estado tão elevado a que ousamos aspirar.

            Esforço-me, de meu lado, por me recolher, tanto quanto me permitem minhas ocupações, e medito da melhor forma possível as obrigações de nossa nova condição. Acompanho com vivo interesse o retiro do Pe. Bourdaloue, que o próprio irmão Myionnet  leu e estudou; procurarei, com a ajuda do Senhor, tirar dele algum fruto.

            Nada aconteceu que mereça sua atenção na sede de nossa pequena Comunidade.

            O Sr. Nimier esteve ontem no depósito da Guerra com a chave do irmão Maignen e a pequena carta para o Sr. de Glaizal. Este declarou que não precisava de peça alguma, que o escritório tinha todas aquelas que lhe eram necessárias e que, o Sr. Frosté tendo vindo para dirigir o trabalho, a presença do Sr. Maignen no Ministério não seria necessária, como tinha-se presumido de início. O General Pelet, ao qual acreditou-se ser necessário pedir licença para tirar os poucos papéis que podiam pertencer ao nosso caro irmão, respondeu que não ia opor-se a isso, mas que julgava conveniente que o Sr. Maignen lhe dirigisse o pedido diretamente. Uma carta redigida por ordem do General, no primeiro momento que seguiu a demissão definitiva de nosso caro irmão, e que havia ficado nos escritórios, por falta de indicação para fazê-la chegar, foi entregue ao Sr. Nimier. Não a junto aqui, por causa de sua forma administrativa que lhe torna o volume um pouco pesado demais, mas será fácil ao nosso amigo entender-lhe o sentido, por algumas palavras que enunciarei aqui. A carta é bastante rude, como era de se prever. O General se mostra sobretudo chateado pela brusca saída do Sr. Maignen, e mais aborrecido ainda pelo fato de ele ter apresentado um tão vivo desejo de um emprego que tinha resolvido há muito tempo deixar; ele pergunta para que, então, tantas providências e instâncias, já que o resultado devia durar tão pouco. nisso uma espécie de deslealdade e convida seu empregado a reaparecer o quanto antes em seus escritórios, se quiser provar-lhe que não se esqueceu dos sentimentos de honra e de probidade. Esta última palavra, de um exagero evidente, fez sorrir um pouco o pessoal do escritório, disseram ao Sr. Nimier. De resto, o General, ao qualificar de louco nosso jovem irmão, não tinha parecido descontente com a primeira parte de sua carta, mas mostrou irritação diante desta palavra: determinação há muito tempo tomada, e é sob essa inspiração que foi ditada sua carta. Seria fácil fazer notar ao General que a saída do Sr. Maignen foi brusca, porque não podia, em nenhum caso, ser  de outro jeito. Na sua idade, não se combina friamente uma separação de todos aqueles que são amados, um corte de todos os seus laços de coração. Num momento em que se sente forte, deixa-se tudo, sabendo bem que no momento seguinte não se teria mais o impulso suficiente. Da determinação intimamente tomada no pensamento de nosso amigo, não decorria também que ele devesse permanecer constantemente numa posição precária e cheia de incerteza. Há três anosestava decidido a dar-se a Deus, sem que as circunstâncias lhe tivessem permitido seguir sua vocação; mais três anos podiam se passar na mesma espera; precisava, então, ficar inativo, sem fazer nada para assegurar sua subsistência e para seguir sua carreira? Enfim, não poderia haver improbidade nem falta de honra em deixar um dever para um outro que se julga mais imperioso, quando, por outro lado, não se compromete nem a existência nem os interesses de quem quer que seja. Nosso caro irmão julgará talvez conveniente responder um pouco neste sentido ao General, com toda a deferência e toda a moderação que suas obrigações para com seu chefe lhe impõem, mas mostrando também a calma e a segurança que convêm a seus sentimentos. Saberá, melhor do que qualquer outro, aliás, com que termos deve responder, já que ninguém conhece tão bem a natureza de seus relacionamentos com seu chefe e a linguagem que pode usar com ele. Uma coisa que é essencial para o nosso caro irmão saber é que, a pedido de sua mãe, sua substituição foi até agora suspensa e que estaria provavelmente ainda livre, nesta hora, para retomar seu emprego. Nada me motiva a crer que isso possa acontecer, mas se, contra minha expectativa, o sério exame que  vai fazer de si mesmo diante de Deus, durante seu retiro, mudasse sua resolução,  teria como entrar novamente na sua primeira condição.

            Eu hesitava em jogar esses pensamentos humanos no meio do recolhimento que vocês estabelecem em suas almas, caros amigos, mas alguns dos fatos aqui relatados, o último em particular, devem talvez entrar no balanço dos sentimentos de nosso jovem irmão. O irmão Myionnet, a quem endereço esta carta, julgará se deve ser lida integral ou parcialmente só ao irmão Maignen durante os dias do retiro. Um adiamento até o seu encerramento só teria, creio, um pequeno inconveniente, sendo que o General sairá amanhã para a Itália, para onde lhe enviarão sua correspondência, sem dúvida, somente em certos intervalos. Será bom que nosso jovem irmão não descuide da recuperação dos poucos papéis que lhe pertencem. Todos os seus antigos companheiros de escritório o asseguram de suas amizades.

            Espero que o irmão Myionnet, que não me escreveu, me dirigirá uma carta depois do retiro. Recomendo-me bem instantemente às suas orações e às de meu caro jovem amigo. Manter-me-ei tão perto deles quanto me for possível nos divinos Corações de J. e M.

            Abraço-os bem ternamente, a ambos, caríssimos amigos, e sou

            Seu afeiçoado irmão em N.S.

                                               Le Prevost





156  Endereçada a:  M. Clément Myionnet, à la Trappe, près Mortagne (Orne).





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