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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 101 - 200 (1843 - 1850)
    • 178 - ao Sr. Maignen
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178 - ao Sr. Maignen

Recordação do dia em que o Sr. Maignen, deixando tudo, esteve em Duclair para encontrá-lo: o Sr. Le Prevost o exorta a renovar diante de Deus a oferta de si mesmo. Com delicadeza e firmeza, conselhos para que o Sr. Maignen domine os ardores de sua alma e sua viva sensibilidade. O Sr. Le Prevost também cuidará de controlar todo impulso de afeição demasiadamente natural. Confiança em Deus nos momentos de desânimo. Saborear o esplendor litúrgico dos Salmos, “a voz do mundo cristão

 

Duclair, 3 de setembro de 1847

Escrevi uma primeira vez, caro amigo e irmão, uma carta comum para você e para o Sr. Myionnet. Hoje, converso em particular com um e outro, propondo-me a substituir assim nossa pequena conversação da segunda-feira à noite, e provocar também uma carta pessoal de cada um de vocês.

Sentia a necessidade, caro filho, de lhe falar um pouco a sós e de saber, melhor do que me disse sua carta, em que disposições você está. Não estou acostumado a me corresponder com você de uma maneira tão vaga e tão exterior. Experimentei um sentimento penoso ao ler sua carta e não pude deixar de pensar que a minha merecia outra resposta. É verdade, caro amigo, que você estava bem cansado e que me prometeu indenizar-me logo. Não me queixo, portanto; abafo um primeiro movimento de tristeza e espero um colóquio mais amável de sua parte.

Reencontrando-me nos lugares onde o vi no ano passado, senti acordarem as impressões que me emocionaram tão vivamente na mesma época e fiquei sentido por não tê-lo perto de mim para reviver juntos essas curtas horas de que guardei tão profunda e tão doce lembrança. Esse pensamento não veio também a você e não refez em espírito essa viagem que tanto influiu sobre sua vida? Comprazo-me em acreditá-lo, caro amigo, e tenho confiança de que você se encontrou no mesmo sentimento, na mesma resolução em que estava então. Não há muito tempo, você me dizia: “Longe de lamentar a decisão que tomei, estaria disposto a tomá-la ainda, se tivesse que fazê-lo, e me confirmo cada dia na convicção de que estou onde Deus queria que eu estivesse.” Se, como creio, caro amigo, você tem, neste momento, a mesma inspiração, não deixe passar esse aniversário sem renovar diante de Deus a oferenda que lhe fez de si mesmo. O ano que acaba de passar não foi sem trabalhos e sem algumas provações, mas não foi para você sem alegria e sem consolação. Agradeçamos juntos ao Senhor que nos protegeu tão visivelmente, e bendigamo-Lo sobretudo por nos ter chamado e escolhido para essa numerosa elite de cristãos que nos cerca, para realizar a obra excelente de que nos encarregou. Uno-me, caro filho, aos sentimentos de que sei seu coração animado, ofereço a Deus seus esforços, seus trabalhos, suas obras deste ano e lhe suplico aceitá-los como as primícias da vida de sacrifício e de dedicação que você abraçou.
Da minha parte também, caríssimo filho, renovo-me nos sentimentos de que estava repleto na mesma época, no ano passado, abro bem  meus dois braços e todo o meu coração para acolhê-lo ainda no meio de nós e asseguro-o, uma vez mais, de toda a minha ternura de pai, de irmão e de amigo. Vejo o futuro com confiança, tenho convicção de que tudo o que é bom em nós confirmar-se-á e que o imperfeito irá atenuando-se; que a esfera cristã em que respiramos irá alargando-se e nossas obras e nós mesmos, ao mesmo tempo, cresceremos em proporção; tudo é calculado hoje um para o outro, tudo continuará numa mesma e feliz proporção. Deixemos agir o Senhor cujo sopro nos deu a vida e cujo espírito nos dará a força e o crescimento. Tenha boa esperança, caro amigo, acredite na sua obra, porque ela é de Deus. Acredite nos seus amigos, porque Ele sustentará sua fraqueza; acredite em si próprio, porque você Lhe entregou seu coração. Com exagerada facilidade, na menor provação, no menor fracasso, no mínimo sinal de desaprovação, surpreendo em você a dúvida a respeito de meus sentimentos, dos seus e de tudo; afaste essas sugestões desanimadoras, supere impressões que não se podem impedir, mas cujo controle se consegue com um coração firme e confiante. Pense em tudo o que o bom Deus fez por nós e diga a si mesmo: se tanto foi concedido aos nossos pequenos começos, o que não nos será dado no progresso e no desenvolvimento de nossa obra!

Fico aqui fiel aos nossos exercícios ordinários e é uma alegria para mim pensar que, do seu lado, você está unido a mim por essas piedosas e salutares práticas; elas me sustentam na minha mudança de hábitos e de vida e me religam a você, apesar de nossa separação. O ofício me é particularmente um grande apoio. Enquanto se permanece na vida ordinária e particular, basta a oração particular e individual, mas se subir os degraus para entrar numa vida mais alta, onde não se pertence mais a si mesmo, onde se renuncia à sua existência própria para abraçar a vida universal, o dever muda, assume-se a causa de todos, delegados, por assim dizer, pelo mundo, num grau menor que o padre, mas no mesmo sentido, para adorar e glorificar a Deus. Então os salmos, este canto tão poderoso, tão imenso, emprestam sua voz para louvar ao Senhor num modo que responda a esta grande missão. Os salmos são, em relação às outras orações, o que é o órgão em relação aos demais instrumentos, são a voz do mundo cristão, a homenagem dos fiéis reunidos em assembléia, a oração do religioso e do padre, enquanto eles são os órgãos da Igreja e do povo. Não é lindo e glorioso para nós, caro amigo, estar entre aqueles que, todos os dias, têm de fazer subir diante de Deus essa homenagem solene de adoração e de amor? De onde nos vem essa honra e como a tínhamos merecido? Respondamos ao menos por nossa gratidão e nossa fidelidade.

Fiz, em união com você, a comemoração do 3 de setembro. Hoje, pedi a missa de meu bom Pároco, que a disse na intenção de seu pai160. Você sabe, querido amigo, que não perco nenhuma ocasião de associar-me a seus sentimentos e a suas afeições.

Teria ainda muito para dizer-lhe, pois, você sabe, sinto-me facilmente em efusão com você; mas tenho que escrever também ao irmão Myionnet, e também algumas linhas para o Sr. Lecoin. Termino, então, esta carta, de restobem comprida. Será preciso dizer-lhe isso, caro filho? Você não o estará vendo? Se esta carta não é mais afetuosa ainda, é que eu não quis, é que eu desviei a minha pena, quando a sentia amolecendo e voltar-se para algum sentimento terno demais. Você não cessou, caríssimo amigo, de ser meu filho bem-amado, escolhido entre todos, unido a mim por ternas simpatias, como por mil disposições que o Senhor mesmo preparou. Mas, você sabe, na vida comum que temos abraçado, foi preciso reprimir, senão o sentimento interior, ao menos a expressão sensível demais deste apego do coração. Muitas vezes sofro por isso, porque é de minha natureza expressar aquilo que sinto; sofro disso, sobretudo, quando vejo entre nós alguns pequenos mal-estares ou mal-entendidos que um aperto de mão teria dissipado logo. No entanto, é preciso, é claro, que seja assim. Em tais casos, rezo um pouco para que meu bom anjo dizer-lhe ao coração aquilo que eu mesmo não expresso. Suplico-lhe, neste instante, caro amigo, velar ternamente sobre você, dirigir suas afeições, suas orações, guardar seu coração como um tesouro a fim de oferecê-lo bom, puro, amante e generoso ao amor de nosso divino Senhor.

Ainda não estarei de volta perto de vocês no dia 8 de setembro, não se esqueçam de mim nesse dia e rezem juntos, o irmão e você, à nossa bem-amada Mãe; somos-lhe, nós e nossas obras, bem particularmente consagrados.

Retornarei, como lhe havia dito, sexta-feira próxima, dia 10, pelo trem que chega a Paris às 4h.10. Estarei portanto ali para almoçar com vocês em Grenelle. Se seus trabalhos não o trouxerem, caro filho, ao bairro São Lázaro pelas 4 horas, não quereria que você fizesse expressamente esse longo percurso; se você estivesse por ali, ao contrário, sabe muito bem que alegria terei em abraçá-lo; olharei um pouco à direita e à esquerda antes de subir na carruagem que uso para chegar à barreira da Escola161. Adeus, amigo, amo-o e o abraço com ternura.

Seu amigo e irmão em N.S.

                                   Le Prevost

Não confie sem reserva nas manifestações de Madame Lafond; tenho fortes razões para manter muita distância em relação a ela. 





160 Aniversário da morte do Sr. Maignen pai, em 1843.



161 Nessa época, Grenelle ainda não estava incluída no recinto dos muros de Paris, o que acontecerá em 1860. O Sr. LP., por espírito de pobreza, se fazia levar somente até a barreira da Escola Militar (situada no local atual da estátua de Garibaldi).





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