A licença de conservar
o Santíssimo Sacramento em Grenelle é concedida165. O Sr. Le Prevost
exprime sua gratidão. Ardor de sua fé e de seu amor por Deus. Hino à Cruz.
Recomendações práticas para preparar dignamente os locais.
Duclair, 4
de setembro de 1849
Caríssimos irmãos,
Sinto-me impulsionado a bendizer ao Senhor com vocês por sua extrema
condescendência para com os seus pobres e indignos servos. Tê-lo-ia feito já
ontem se não estivéssemos ausentes o dia todo. Mas quantas vezes, durante o
dia, este doce pensamento me veio e como o meu coração ficava feliz e
reconhecido! Desde as primeiras linhas da carta do Sr. Beaussier, aberta antes
das outras, compreendi e, num movimento irresistível, caí de joelhos, com
lágrimas nos olhos e, batendo no peito, como o fazia desde algum tempo,
exclamei: Domine, non sum dignus [Senhor, eu não sou digno]. Rezei depois, com
todo o ardor de minha alma o Te Deum e também o Magnificat, para associar
nossa bem-amada Mãe a esse grande acontecimento que suas ternas instâncias
terão certamente preparado. De que precisamos além disso e o que nos restará a
desejar doravante? Deus tanto amou o mundo que lhe deu seu Filho
único166, e quanto a nós também, Ele tanto amou nossa fraqueza e nossa
miséria que Ele vai descer entre nós, em nossa pobre casa, para morar conosco
sob o mesmo teto, presidir nossos pequenos exercícios, aconselhar-nos, nos
dirigir em todas as coisas, trabalhar, orar, amar conosco e em nós. É sobre a
terra a felicidade suprema; é o pão dos anjos, não mais dado a cada um de nós
em particular, mas à pequena Comunidade inteira que o bom Mestre adota e assim
consagra a si definitivamente. Oh! mais uma vez, que nos resta a desejar neste
mundo? Nada, senão responder a tanta misericórdia e tanto amor. Está na hora de
nos lembrar dessa palavra profunda que citávamos um dia entre nós: Não há amor
sem conformidade, não há conformidade sem cruz. O Bem-Amado, ao entrar sob o
nosso teto, aqui virá com sua cruz: é seu único tesouro, é tudo o que Ele
possui e traz a seus hóspedes, é seu livro, é sua ciência para ensiná-los, é
sua força para os aguerrir e os formar; Que Ele seja bem-vindo e sua cruz com
Ele. Sua vinda já se tinha feito pressentir por alguns leves toques e
movimentos interiores que nos levavam a nos humilhar, a reconhecer nosso nada
diante dEle, a desejar ou a aceitar, pelo menos, nossa pequenez e nossa
abjeção. Por esses sinais, poderíamos ter adivinhado sua aproximação, se
tivéssemos sido melhor esclarecidos. Agora Ele mesmo cuidará de formar-nos em
sua escola. Preparemos, portanto, nossos corações e os tornemos dóceis, pois a
hora de nos tornarmos humildes, pobres e mortificados, enfim, chegou. Meu Deus,
vossos filhos se apressarão ao vosso redor para vos ouvir e vos contemplar,
serão bem fracos e bem inábeis, mas terão a boa vontade, o ardor de aprender e
uma terna confiança em Vós!
Desejo, caríssimos
amigos, que tenham o cuidado, desde já, de mandar preparar os locais para
receber o Hóspede divino; a simplicidade e a pobreza não o desagradarão. É com
isto que devemos nos contentar: limpeza e simples conveniência; eis as
delimitações nas quais devemos ficar. Para começar, e esperando minha chegada,
podem mandar executar todas as obras de reparação e saneamento nas três peças,
e, para tanto, vocês deveriam, acho eu, transportar provisoriamente o oratório para
o quarto que está entre o do irmão Paillé e o meu. Ali estaremos mais
tranqüilos. Acho que farão bem em empregar, contra a umidade dos muros, o meio
tão simples aconselhado pelo Sr. Dufflon; poderiam, como tentativa, fazê-lo
executar, através de seu operário, nos muros do locutório, que são muito
úmidos do lado do jardim. Depois de terem visto direitinho como ele cola e
dispõe as folhas de chumbo e terem verificado seus preços, vocês veriam se
teríamos uma economia um pouco real ao usarmos, para nossos outros trabalhos,
um operário da Santa Família chamado Tessier, rua Saint Placide, acho. É um
homem muito bom e que arrumou muito bem meu quarto em Paris; acho que esse meio
seria o melhor. Desejo também que meu irmão Maignen veja o Sr. Bion, da minha parte,
para assegurar-se de que, ao fazer a Santa Ana, poderia fazer reduzir, por seu
aluno, de graça ou a preço bem módico, nossa estátua da Santa Virgem.
Importa que nossos trabalhos comecem sem demora e enquanto ainda resta um pouco
da bela estação. A partir do momento em que os dias são curtos e úmidos, as
obras são ruins e não vão para frente. Recomendo-lhes, portanto, caros amigos,
a diligência. Após as reparações, faremos o resto. Podem também perguntar sobre
todas as coisas necessárias e os meios para consegui-las; acho que esses
pormenores são bastante numerosos e exigirão algum cuidado.
Estou verdadeiramente comovido, caríssimos irmãos, por sua afetuosa atenção com
minha saúde. O Sr. Beaussier é também muito edificado por isso, o que lhe faz
conceber boas esperanças para o nosso futuro. Para comprazer-lhes, caros
amigos, e sobretudo para obedecer ao nosso bom Padre, que me prescreve aquilo
expressamente, estou disposto a ir aos banhos; só que, na confiança, tomo a
liberdade de submeter antes ao Sr. Beaussier algumas observações que, acho,
mudarão seu parecer. Se fosse diferente, apressar-me-ia em conformar-me à sua
decisão. É muito tarde para os banhos. As alternâncias de frio e quente, às
quais sou muito sensível, já são mais penosas do que no verão; não posso ir aos
banhos em família: minha irmã tem que ficar em casa nesse momento. Eu só
poderia chegar ali com minha sobrinha, mas acho que uma tão jovem pessoa
dificilmente passaria, sem um grande aborrecimento, três semanas comigo, numa região
que não oferece possibilidade nenhuma de distração. Enfim, preciso ao menos de
8 dias para aclimatar-me num lugar novo; começo a me sentir melhor aqui. Será
que devo ir para outro lugar fazer uma nova tentativa, talvez menos feliz?
Aqui, fazem de tudo para cuidar bem de mim; não terei nada igual nos banhos. O
ar é excelente, os passeios estão ao meu alcance, e a tranqüilidade é perfeita:
isso não vale mais que as voltas e as viagens? Acredito que, passando aqui três
semanas, em vez de 15 dias anteriormente determinados, eu faria tudo o que pode
ser mais favorável à minha saúde e mais praticável de todo jeito. Ao mesmo
tempo, e isso é de um grande peso, faço um bem real à minha família que tinha
necessidade de mim para se reconfortar e se restabelecer. Eis aí as minhas
razões, caros irmãos, acho que são boas e na ótica de Deus; no entanto,
submeter-me-ei sem hesitar ao parecer do Sr. Beaussier, preferindo obedecer a
raciocinar.
Peço aos meus irmãos Maignen e Paillé para fazerem com que a reunião de domingo
da Santa Família ande bem; é essencial, após o retiro, sobretudo. O orador é o
grande instrumento. Se o Sr. Ratisbonne estiver ali, virá de bom
grado. O Sr. Cassan de Florac e muitos outros, leigos ou padres, estarão
também, espero, bem dispostos.
Escreverei logo a cada um em particular. Estou feliz por aprender que os
exercícios se mantêm bem e agradeço ao irmão Myionnet os pormenores que me dá a
esse respeito, mas não acho conveniente que a pequena direção da segunda-feira
seja repartida. A Comunidade ainda é pouco numerosa demais para isso; esse
exercício deve, portanto, ficar reservado até minha volta.
Adeus, meus bem-amados irmãos, abraço-os a todos nos Corações de Jesus e de
Maria, e neles fico com vocês.
Le Prevost
Acabo de escrever aos Srs. Beaussier e Gibert.
Seria bom também que meu caro irmão Maignen projetasse, em combinação com o Sr.
de Ségur167, o pequeno quadro quando estiver um pouco seguro de suas
dimensões.
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