Falecimento de um de
seus amigos, H. Nerbonne. V. Pavie tomando a direção da Conferência de Angers,
o Sr. Le Prevost lhe precisa a missão que deve desempenhar. Bendizer a Deus por
consagrar suas forças à caridade, antes de consagrá-las a interesses puramente
humanos.
Paris, 2 de
outubro, festa dos Santos Anjos 1849
Caríssimo amigo,
Na minha chegada de
uma viagem que acabo de fazer para ver minha irmã que estivera doente durante
algum tempo, assim como sua filha, acho a carta triste que você me endereçou.
Você não podia duvidar, caro Victor, seus desejos foram logo realizados: rezei
por nosso pobre amigo Nerbonne e pedi, em prol dele, as orações de todos os
amigos que me cercam. É uma dívida que se é feliz ou ao menos consolado em
pagar para com aqueles pelos quais não mais se saberia fazer nada. Há muitos
anos já, não me tinha mais sido dada a oportunidade de manter relações com
nosso caro Henry, mas as que eu tivera em outros tempos se ligavam a
recordações por demais numerosas, para não ficarem profundamente gravadas em mim. Pude, portanto,
apreciar, caro Victor, tudo o que você me diz de profundo e de tocante a
respeito dele. Simpatizo vivamente com sua pena, e sinto em quantos motivos é
fundada. Mas o último de todos, a conformidade de fé, a união de nossas almas
em Deus, traz em si a consolação por todas as aflições com que essa separação
vem golpeá-lo. Como se queixar ao Senhor, quando seu amor cumulou o mais caro
dos nossos votos, quando Ele ornou, embelezou, iluminou sob nossos olhos a alma
que Ele pensava chamar de volta a Si? Aqui as longas preparações não eram
necessárias, ou, antes, estavam realizadas de longa data pelas decepções, desgostos
deste mundo, sofrimentos do coração, langores habituais. Mais do que outro, com
efeito, nosso amigo parecia exilado aqui em baixo. Nada tinha
edificado com alegria nem confiança no futuro; não havia encontrado nada que o
teria tranqüilizado mesmo por um tempo, não se tinha apegado a nada e só
aguardava a hora da partida. Veio ela, sem tomá-lo de surpresa e sem
entristecê-lo, sem dúvida. Não nos contristemos demais, portanto, nós mesmos,
caro amigo; nosso amor por ele consista na lembrança e sobretudo no desejo de
nossos corações, depositado no Coração paterno de Deus.
Fico sabendo com uma sincera satisfação que a direção da Conferência de Angers
lhe é confiada. Pertencia-lhe por direito e tenho plena confiança de que não
ficará sem resultado em suas mãos. É uma bela missão, caro amigo, estimular as
almas para o bem e gritar-lhes incessantemente: “Deus o quer, amemos nossos
irmãos, demos-lhes consolo, socorro, levemos-lhes a luz que nós mesmos
recebemos e que sempre podemos espalhar neles sem nos empobrecer nunca. Os anos
que passei com semelhantes cuidados são os mais caros de minha sofrida
vida. Tenho a certeza de que, um dia, você também bendirá a Deus por ter-lhe
permitido consagrar à caridade suas faculdades e potências com toda a sua força
e sua maturidade, antes de consagrá-las a interesses humanos.
Adeus, caríssimo amigo, lembre-se sempre de que você tem aqui mais do que
amigos, verdadeiros irmãos. Ame-os, reze por eles.
[Le Prevost]
Ofereço meu afetuoso respeito à sua querida mulher.
Abraço você e seus filhinhos e o excelente pai. Lembrança a Gavard por mim
quando for possível.
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