A Adoração Noturna em Grenelle. Alegria
do Sr. Le Prevost, por ocasião dessa “vigília bendita”. Felicidade por viverem
na dependência de Deus e por terem sido escolhidos como seus instrumentos. Reza
para que seu amigo Gavard recupere a fé.
Paris, 4 de
junho de 1850
Caríssimo Victor,
Já há várias semanas, levo comigo, com a intenção de lhe responder, uma
excelente carta que você me escreveu e muito me comoveu.
Reencontrei-o todo inteiro, com suas dedicações tão generosas e tão
fiéis, com seu zelo fervoroso por todo bem, seu ardor pelas obras que
interessam a Deus e a todos os homens de quem você é tão sinceramente o irmão.
Devia, portanto, cuidar de responder-lhe quanto antes, mas minha
limitação habitual me levou a falhar.
Para você, caro amigo, sua atividade redobra com os anos. É uma grande alegria
para mim vê-la orientar-se para tão nobres objetos e aprender os preciosos
resultados que obteve. Não podia ser diferente, caro amigo; e para os que, como
eu, viram todas as aspirações elevadas, os instintos dedicados de seus jovens
anos, era fácil prever que somente a consagração de todo o seu ser poderia
satisfazê-lo e seria mais cedo ou mais tarde sua vida. É certamente, com
efeito, a melhor parte. Ouso dizer, caro Victor, que ela lhe pertence e que não
lhe será tirada.
Sinto em mim uma simpatia tão mais viva pelas obras de que você cuida, que elas
são também as nossas e preenchem aqui nossos dias. Poderia acrescentar “nossas
noites”, pois, seguindo seu exemplo, temos a felicidade de participar da grande
obra da adoração noturna170. Mal acreditará você que é em nossa própria
casa, em nosso pobre pequeno eremitério de Grenelle, que nos é dado prestar
essa homenagem ao divino Senhor. Nada mais verdade, porém, e a indignidade dos
locais e dos homens não constituiu obstáculo para o Deus que não desprezou o
estábulo de Belém. Por um privilégio todo imerecido, a permissão de conservar o
Santíssimo Sacramento em nosso pequeno oratório nos foi concedida por nosso
Arcebispo e, por outro privilégio, nos foi dada também a graça de nele fazer,
uma vez por mês, a adoração noturna. Assim, caríssimo amigo, ligamo-nos a você
por mais esse laço, que se junta a todos os outros, mais forte, sem dúvida, ele
sozinho, do que todos juntos. Amanhã, quinta-feira, vigília da festa do Sagrado
Coração, alguns amigos virão reunir-se a nós e, às 9 horas, começará nossa
vigília bendita. Não deixaremos de rezar, então, por você e seus associados;
dê-nos a recíproca, na sua próxima reunião. Tais intercâmbios alegram os
anjos e glorificam a Deus.
Nossas outras obras sustentam-se e vivem apesar das influências más dos tempos.
Nosso pequeno rebanho não aumentou; somos cinco, como você nos viu, acho, na
sua última viagem. Mas temos que fortalecer o interior e fundamentá-lo
solidamente antes de espalhar-nos para fora. Só podemos bendizer a divina
Sabedoria, que nos conduz a seu modo, e não ao nosso. Somos felizes por nos
sentirmos numa inteira dependência de sua adorável conduta. Seu venerável Bispo
não achou indigno de si fazer-nos uma visita em sua última viagem a Paris. Ele
disse a Santa Missa para nós e nos exortou nos termos mais paternais. Como
seríamos felizes, caro amigo, se, tendo-nos fortalecido um pouco, pudéssemos,
algum dia, destacar alguns dos nossos para irem ajudar suas obras e colocar seu
zelo sob a sua mão.
Reze um pouco para que o grande Mestre, tendo-nos amaciado e modelado, digne-se
assim aceitar-nos como humildes instrumentos nos desígnios de sua caridade.
Agradeça bem por mim a nosso caro Gavard, assegure-o de minhas afetuosas
lembranças. Oro a Deus muitas vezes para que Ele lhe dê saúde, coisa que lhe
falta, uma fé firme e profunda que seria a contrapartida dos dons hoje quase
superabundantes de seu coração e de seu espírito. A fé faria dele um homem
completo e de grande peso para o bem. Peçamos para ele essa pérola preciosa,
embora devesse tudo perder para adquiri-la.
Adeus, caríssimo amigo, assegure de minhas respeitosas lembranças os de seu
querido círculo e creia, você mesmo, no terno apego de seu amigo e irmão em
N.S.
Le Prevost
|