P.S. do Sr. Le Prevost
União nos Corações de
J. e de M. A família se firma.
22 de julho
de 1852
Caríssimo irmão,
Não me queira mal, por ter demorado tanto em responder-lhe e por
aproveitar sua estada em Vallombreuse para agradecer-lhe as diligências
que fez para os privilégios. E para concluir primeiro esses assuntos, lhe
direi que não tenho vontade de gastar meu dinheiro nem o da Comunidade para
isso. No entanto, se você pudesse conseguir alguns para mim, sobretudo para a
recitação do breviário, me agradaria muito. Faça o que puder, e aconteça
o que acontecer. Quanto às minhas ocupações e disposições, ei-las: há três dias
atrás, eu dava aula às nossas crianças, substituindo o Sr. Bonnat, esses
Senhores estando em situação difícil. E aí está a ocupação que me tinha
impedido de lhe responder. Depois, as crianças são conduzidas a uma escola, o
que me aliviou e aproveito para lhe responder. Estou agora raras vezes em
Grenelle: no sábado e no domingo à noite somente e na segunda-feira o dia todo.
Os outros dias, passo-os na rua de l’Arbalète. É bastante difícil dar-lhe uma
idéia de minhas ocupações; ao entrar, há 7 meses, me tinha apegado quase
exclusivamente a Grenelle; fora de algumas crianças que confessava numa escola
da rua do Fossé Saint Jacques, não fazia nada em Paris. O Sr. Gentil
tendo ido embora, foi preciso mudar meus planos. Estive, então, numa mudança
contínua de regulamento. Agora, espero ser mais estável. Deus sabe se alguma
boa pequena tribulação, que sua bondade paterna nos enviará, não me recolocará
ainda em
movimento. Enquanto isso, gozo de meu descanso, tencionando
gastar meu tempo entre a Escola Comunal de Grenelle, as crianças da rua de
l’Arbalète, o catecismo da noite em Grenelle e, em Paris, a preparação de
meu exame. Há, sem dúvida, alguns trabalhos que parecem estar chegando, mas nos
quais não ouso pensar, de tanto medo que me dão.
Quanto às minhas disposições interiores, fora de algumas nuvens
passageiras que ornam de modo bastante agradável o horizonte e quebram a
monotonia, em meu coração está sempre a brilhar um sol lindo. A esperança de
revê-lo, e a de possuir logo o Sr. Hello vêm também agradavelmente me amparar.
De resto, o fervor e a amizade de nossos bons amigos em N.S. bastam para me
tornar a vida mansa e tranqüila e para fazer de mim um segundo Meunier
Sans-Souci. De resto, vou confessar-lhe francamente que estou longe de ser um
perfeito religioso. Não sei se isso virá a acontecer, mas está acontecendo bem
pouco. Nosso bom Pai, o Sr. Le Prevost, sempre diz que o principal é o coração,
e que parece-lhe que o tenho. Isso me consola somente pela metade, conhecendo o
provérbio: a forma muitas vezes arrasta o fundo. Venha me edificar, me ajudar,
sobretudo, cure-se uma vez por todas. Peça bem ao grande São Bento que me
obtenha um pouco o amor do recolhimento e do retiro: sou um pouco volúvel,
leviano e disperso, para não dizer muito. Teria necessidade de um pouco de
chumbo na cabeça, de um pouco mais de constância nas minhas obras. Não sei
prosseguir o bem por muito tempo, quando se encontram algumas dificuldades na
estrada. Assim, sua pobre negra, que está gravemente doente há algumas semanas,
não me vê há muito tempo. Minha negligência e minha covardia me afastaram de
seu catre, etc., etc. Ainda pensam em você em Grenelle; durante muito tempo me
chamaram de Sr. Planchat. Ainda agora está acontecendo, ou me chamam seu irmão,
etc. Enfim, se você pudesse voltar para servir ao bom Deus conosco, não seria
nada ruim, se o bom Deus lhe permite isso, todavia, pois, antes de tudo, Sua
vontade. A Comunidade não vai mal neste momento, houve muitas perdas, em parte
reparadas para o serviço das obras pelas últimas medidas. No entanto, nosso
pessoal ficou menos numeroso: pauci,
sed boni, [poucos,
mas bons], Deus queira que se possa dizer isso. Você está vendo que só
faço aflorar as coisas, mas a razão é que, para entrar nos pormenores,
seria-me preciso rabiscar durante muito tempo, o que me incomodaria muito, 1o –
porque não gosto de escrever, salvo aos meus bons amigos como você; 2o – porque
tenho 30 sermões a preparar, exortações ou catecismos e que, desde que estou no
ministério, ainda não pude preparar um por inteiro. Trabalho somente por
fragmentos e pedaços. Deixo-o, portanto, com pesar, para preparar para os meus
pequenos a comida delicada que reclama a fraqueza de seu estômago. Dei-lhes em
demasia apenas pão grosso. Até logo, portanto, caro irmão em São Vicente de
Paulo; sejamos unidos no amor de N.S., de sua Santa Mãe, de São José e dos
Pobres. Rezemos uns pelos outros.
Seu todo devotado e afeiçoado em N.S.
L.Lantiez - padre
Para não atrasar esta carta, caríssimo filho e amigo em N.S., coloco nela
somente estas duas palavras para assegurá-lo de nossas ternas lembranças, de
nossa união constante a você nos divinos Corações de J. e de M.. Vou lhe
escrever em breve mais por extenso; vamos bem, reze sempre para que vamos
melhor ainda; a pequena família firma-se, aumenta, se não seu número, ao menos
sua união e seu bom espírito; possa o Senhor nos confirmar em sua divina
caridade.
Abraço-o com ternura nEle e em sua Santíssima Mãe.
Le Prevost
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