Deus quer a unidade da
Comunidade nascente e a edificação mútua. Um candidato à vida religiosa se
afasta da Comunidade. O Sr. Le Prevost pensa em refazer sua saúde na Normandia.
O que enriquece a vida comum são “as orações e as obras de cada um, postas em
comum e oferecidas por todos”, o Cristo acrescentando seus méritos infinitos.
Paris, 15
de agosto de [1852]
Festa da
Assunção
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
A divina Providência, cuja conduta é sempre tão terna para conosco, me poupou
este ano e me tornou fácil, mais do que de costume, a preparação do retiro da
Santa Família, para a qual vários elementos concorreram. No entanto, estou tão
cansado, que o trabalho foi ainda muito pesado para minha fraqueza; tive,
portanto, na minha caminhada, que deixar para trás a maioria de meus outros
afazeres e em particular, caríssimo amigo, a resposta que teria gostado de dar,
sem demora alguma, à sua boa pequena carta. Hoje, como o retiro está perto de
terminar, apresso-me a escrever-lhe duas linhas para tranqüilizá-lo sobre o
estado de todos os nossos queridos irmãos e sobre o conjunto das coisas que o
bom Mestre nos confiou. Tudo vai bem, graças ao Senhor e à sua Santíssima Mãe.
Nossos irmãos estão com saúde, nossas crianças também, nossas obras não sofrem
demais e começam a se reerguer nos pontos onde se arrastavam; tenho, portanto,
boa esperança para o futuro. Conto também, entre os meus motivos de consolação
e de alegria, as piedosas disposições que você me exprime e as resoluções
corajosas nas quais se entretém. Não duvidei um só instante, caríssimo
filho, de seu coração e das boas inspirações que o Senhor lhe dará. Sua divina Sabedoria
teve seus desígnios ao reunir-nos e, quaisquer que sejam suas intenções sobre o
futuro de nossas obras, estou intimamente convencido de que sua vontade é que
os primeiros elementos de nossa pequena família fiquem invariavelmente unidos,
vivam e morram juntos, amparando-se, edificando-se um ao outro. Não vejo nenhum
dentre nós que não esteja com esses sentimentos. Vamos conservá-los
fielmente, será nossa força e uma fonte de verdadeiras consolações para
nós.
Nosso bom amigo, Sr. Bonnat, não parece dever estar desse número; ele sente-se
constantemente na necessidade de pertencer a uma ordem religiosa
definitivamente constituída, que tenha um hábito e votos. Escreveu nesse
sentido a nosso Padre Beaussier, que consente em ele buscar seu repouso numa
outra via. Tinha, eu mesmo, dúvidas sérias sobre sua vocação, e só posso dar
pleno assentimento ao desejo de nosso amigo. Envio-lhe, na carta anexa, um
mandato de 70f
que lhe será suficiente para chegar junto à sua tia ou à destinação que tiver
escolhido. Rezaremos por ele e tenho a confiança de que continuaremos unidos na
divina caridade.
Como dizia-lhe no começo, caríssimo amigo, sinto um grande cansaço e estou um
pouco esgotado. Creio que, para acompanhar utilmente nossos trabalhos neste inverno,
tenho necessidade de refazer minhas forças por algum repouso; mas estou bem
incerto sobre o meio a tomar; os banhos de mar são bons talvez, mesmo na
estação tardia, para as pessoas mais fortes do que eu, mas recordo-me de que,
nos dias frescos, os banhos me faziam tossir e me irritavam muito o
peito. Como você está no próprio local, será melhor juiz, caro amigo, do que
convém e pode ser útil: aguardarei, para me decidir, que você me tenha
escrito de novo. Talvez quinze dias passados na casa de minha irmã, no bom ar
da Normandia, me fizessem todo o efeito necessário e me recolocassem em boa
forma. Aguardo, portanto, sua carta para tomar uma decisão sobre um ou outro
meio.
Nosso retiro da Santa Família foi muito bom, embora menos numeroso do que no
ano passado; a festa e o fogo de artifício nos prejudicaram um pouco para a
bênção do Santíssimo do dia da Assunção; mas, no conjunto, é um bom e santo
empreendimento que o bom Mestre abençoou e pelo qual será grandemente
glorificado, espero. Nosso caro amigo, Sr. Hello, seguiu os últimos exercícios
do retiro e passou aqui dois dias conosco; esteve perfeitamente edificado com
as disposições de nossos bons operários.
Estou feliz por pensar, caríssimo amigo, que a Providência tratou um pouco de
dar-lhe em Saint Valery
as condições melhores para descansar e se refazer. Acompanho-o pelo pensamento
em suas pequenas peregrinações e tenho a confiança de que sua alma ganha tanto
quanto o seu corpo com essas calmas distrações; aproveite, com toda a
paz, e faça para nós uma parte em suas orações e sacrifícios; assim é que se
alimenta a vida comum: pelas orações e as obras de cada um, postas em comum e
oferecidas por todos; o divino Mestre junta a isso sua entrada, quer dizer seus
méritos infinitos, seu sangue e todo o seu amor. Felizes as famílias cristãs
que sabem fazer para si um tal tesouro!
Adeus, caríssimo filho, ficarei feliz em revê-lo; até lá abraço-o nos divinos
Corações de J. e de M.
Seu afeiçoado amigo e Pai
Le Prevost
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