Bons serviços do Sr.
Le Prevost para o projeto de casamento de seu amigo. Ele o exorta a dar-se a
Deus e às obras. Paz e alegria do dom total.
Paris, 3 de
outubro de 1852
Caríssimo amigo e irmão em N.S.,
O Sr. Givelet tinha saído, encontrei somente Dona Givelet. Ela está com todas
as disposições que podíamos desejar, a seu respeito, para cuidar com um
zelo ardente e sincero do grande negócio de que você me falou. Fará tudo o que
você desejar nessa ocasião, e, se dependesse dela, já seria resolvido. Pareceu
recear, no entanto, que essas damas fossem um pouco mais mundanas do que você
acha e não à altura de pensamentos, talvez, que lhes faria pôr acima de tudo as
únicas vantagens que merecem ser estimadas: o coração, o espírito, uma nobre
energia da vontade. Ela não perde coragem por isso e, na passagem dessas damas
por Paris, abordará o assunto. Combinei com ela, salvo seu parecer, que
tomaria como de si mesma a iniciativa sem pô-lo na frente, a fim de sondar as
disposições e de ver como a idéia se apresentaria ao espírito dessas damas;
tencionaria nesse fim, como nunca se deixa de lhe mencionar as visitas
recebidas no campo, fazer observar que as suas são bastante freqüentes e
perguntar se não acham que elas escondem algum pensamento secreto. Ela acha
que, assim, verá que acolhimento uma proposição direta poderia receber.
Ponha tudo isso, caro amigo, nas mãos de Deus, para que disponha de você
segundo sua santa vontade.
Voltou-me no pensamento, depois de sua saída, que você hesitava ainda um pouco
entre Deus só e Deus com o mundo. Oh! se era assim, se não me havia enganado,
caro amigo, Deus, Deus só, Deus como único quinhão, é certamente o melhor e,
enquanto ainda é tempo, enquanto você tem um sacrifício provável a lhe
oferecer, seja corajoso, escolha Deus; somente Ele, tenho convicção disso, pode
dar a paz e a saciedade a uma alma amorosa e generosa como a sua; somente Ele
poupará a seu coração impressionável e terno as mil decepções que as afeições
terrestres lhe preparam. A Providência parece preparar-lhe os caminhos,
aliviando-o da tarefa que durante tanto tempo desempenhou. Sua dívida
parece quitada, e, livre de você mesmo, pode oferecer ao Senhor os dons
que Ele lhe concedeu e que podem tão grandemente ser empregados a seu serviço.
Uma vez engajado num outro caminho, acredite, você será forçosamente afastado
das obras, dos pobres, de seus caros protegidos; como seria lindo, e como seria
bom para você também preferi-los a tudo, consagrar-lhes sua vida. Você acredita
que Deus , jogando-se todo no seu coração, não saberia pagá-lo e substituir os
pobres bens insignificantes que você lhe teria imolado?
Não insisto; o divino Mestre terá dito muito mais à sua alma sobre esse ponto
do que eu poderia lhe dizer; pensei somente que nossa experiência não devia ser
perdida para você, e que, separados do mundo há vários anos, devíamos avisá-lo
de que a paz e a alegria começam para a alma somente no dia em que,
deixando tudo, se perde toda no serviço de Deus.
Como ficaria feliz, bem afeiçoado amigo, se essa palavra jogada ao acaso
respondesse ao vosso coração; como gostaria de tornar-me, de seu amigo, seu
irmão, e de unir-me a você plenamente em Deus e na sua divina caridade!
Acredite-me, aconteça
o que acontecer, bem cordialmente seu.
Le Prevost
P.S. --- Se você tiver algumas instruções a me dar, estarei até as 9 horas e
trinta na rua de l’Arbalète amanhã cedo. Daí, irei à rua do Regard, e, depois
do Conselho geral, chegarei a Grenelle para preparar meu retiro que começa
terça-feira cedo.
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