Detalhes sobre a
instalação em
Vaugirard. Gratidão para com esses insignes benfeitores.
Inauguração da capela. Graças de sua estada em Roma. Notícias
das obras do Instituto.
Vaugirard,
28 de março de 1854
Senhor e excelente amigo,
Senhora e excelente amiga,
Como é possível que sua agradável carta tenha ficado tanto tempo sem resposta e
que um tão amável testemunho de sua boa e afetuosa lembrança não tenha
encontrado um retorno mais apressado? Eu mesmo não saberia acreditar nisso, se
o fato não estivesse sob os meus olhos, pois sua carta não me deixou um
instante, e nenhum dia se passou sem que tenha acordado em mim uma lembrança
mesclada de pesar. Entretanto, talvez vocês também, de seu lado, excelente
Senhor e excelente Senhora, fizessem dificilmente uma idéia para si dos
embaraços e trabalhos que nos causaram, na rude estação do inverno, o
acabamento de nossas obras, nossa mudança e nossa instalação em Vaugirard. As
ocupações múltiplas que me dava, em particular, nossa subscrição, e,
finalmente, os cuidados que acarretou também a cerimônia da bênção de nossa
capela192. Hoje, eis-nos mais ou menos saídos, graças a Deus, dessa
difícil provação. Meu primeiro momento de liberdade é para vocês, como o
primeiro movimento de meu coração se volta também para vocês. O Senhor dispôs
as almas favoravelmente a nosso favor e em geral só encontramos boa vontade e
simpatia benevolente. Nada, entretanto, compensava sua ausência, nenhum amigo
substituía para nós os amigos ausentes, pois nenhum amigo podia ter o coração
tão piedoso, tão generoso, tão nobremente dedicado. De minha parte, estou tão
acostumado a sentir muito perto de mim sua assistência em todas as nossas
obras, acostumei-me tanto a ir junto à boa Senhora Taillandier, para lhe dizer
todas as minhas pequenas combinações, minhas dificuldades, meus sucessos, que
tive a sensação, durante todo o inverno, de um grande vazio. Precisava desse
pensamento: estes bons amigos não estão muito longe; estão gozando um pouco de
descanso, estão firmando esta existência tão preciosa para todos aqueles que os
amam e, sobretudo, estão na Cidade Santa, aos pés dos Santos Apóstolos, orando,
merecendo, por seu fervor e suas piedosas súplicas, as bênçãos que o Senhor
prepara para nossos trabalhos. Porém, quando veio o dia, bem solene para
nós, da bênção de nossa capela, não foi sem um certo aperto do coração que,
nessa assembléia numerosa, reunida para oferecer ao Senhor essa pobre e pequena
morada que lhe temos consagrado, tive de procurar em vão aqueles que
verdadeiramente a edificaram. Contudo, eu me engano, nosso Henry bem querido
estava lá, representando-os e dedicando ao divino Mestre a obra de seus
bem-amados pais. Regozijei-me, com efeito, com este pensamento que seu donativo
generoso tinha, ele sozinho, construído nossa pequena capela e, porque esse dom
tão amavelmente oferecido me era mais precioso que o resto, resolvi, por gosto
próprio, aplicá-lo a essa piedosa destinação.
Sua boa carta está toda cheia das impressões de tudo o que os cerca e mostra
bastante que a temporada de Roma é para vocês como que um meio poderoso de
edificação, como que uma penetração mais profunda nas coisas santas pelos
monumentos, imagens, lugares. É bem assim que os verdadeiros cristãos
entendem as viagens: são para eles alguns passos a mais em direção a Deus, não
uma divagação e uma ocasião de dissipar o coração e o espírito. Parece-me que
em Roma, nas suas magníficas igrejas, nos seus conventos, nos vestígios que ela
guarda preciosamente dos seus apóstolos, de seus mártires, se devem achar
emoções suaves e repousantes, que acalmam a alma e a elevam ao mesmo tempo.
Estou feliz em pensar que essas puras alegrias são dadas às suas almas, tão bem
feitas para saboreá-las.
O que poderia eu dizer-lhes, da minha parte, em resposta às suas narrativas tão
amáveis? Assuntos não me faltariam, pois vocês se interessam por tudo o que se
faz de bem, e a caridade está longe de ficar inativa, mas o espaço me falta
para falar-lhes, com alguns pormenores, das obras e de seus trabalhos.
Monsenhor o Arcebispo, propondo-se a chegar a Roma no decorrer deste ano,
recolhe elementos para submeter ao Santo Padre um relatório minucioso sobre
todas as obras de sua diocese193. Será bem interessante e alegrará sem
dúvida o coração paternal de Sua Santidade. Já uns pedidos de informações nos
foram dirigidos diretamente por Monsenhor sobre as diversas obras confiadas aos
nossos cuidados. A sua solicitude benevolente me pergunta, sobretudo, acho eu,
como está a reforma de nossa casa de Nazareth, se os pobres foram aliviados
eficazmente durante esse inverno tão penoso para eles, enfim, se sairemos sem
dificuldade de nossa fundação dos órfãos. A pobre casinha de Nazareth está
sempre dispersa; nossas Conferências se prestaram para tudo, aceitaram todas as
combinações, por dispendiosas que poderiam ter sido, mas nada pôde ser
realizado; do lado dos Capuchinhos194, somos sempre parados pelo Sr.
Pároco da Abbaye-aux-Bois. Não perco a esperança, porém, de dobrá-lo; penso em
tentar mais um esforço junto a ele, no dia da Compaixão da Santa Virgem,
contando com o apoio dela para conservar essa pequena capela que lhe é
consagrada. Peçam-lhe, por favor, sua poderosa assistência. Nossos pobres
idosos sofrem muito com seu isolamento. As Conferências socorreram ativamente
os pobres neste inverno; todas as obras mostraram zelo redobrado; os fornos
[sopão] tiveram também um grande movimento. Se o bom Mestre dignar-se dar um
ano melhor que aquele passado, sairemos ainda dessa provação que a misericórdia
do Senhor muito aliviou.
Nossos órfãos são agora 90; ei-los quase completamente instalados em Vaugirard;
obrigados a se instalarem muito cedo demais e antes do acabamento das obras.
Foi-nos preciso, durante seis semanas, viver no meio dos operários, mais donos
da casa do que nós e, muitas vezes, não nos deixando nenhuma sala na qual nos
retirarmos. Os locais próprios a nossas crianças tinham sido preparados antes
de tudo, elas eram, portanto, as menos incomodadas. Nossas dores estão para
terminar, os operários são quase totalmente dispensados, hoje vão abandonar a
obra; restaria muita coisa para fazer, mas nos contentamos com a nossa pobreza
que convém à nossa obra e a nós. Quanto às despesas, por parcimoniosas que
tenham sido em economia, permanecerão pesadas para nós, mas o bom Senhor, assim
esperamos, não abandonará seus servos. Com tempo e coragem, chegaremos à nossa
finalidade.
A boa Sra. Lalande está sempre contente em nossa casa; cheia de boa vontade,
presta-se a tudo e nos é muito útil. Ela os ama profundamente e lhes oferece
seus respeitos.
Vou escrever a Monsenhor de Ségur hoje mesmo para pedir, por seu intermédio, o
santo corpo de um jovem mártir. Ficarei bem grato a vocês se quiserem unir seus
esforços aos dele.
Estou obrigado a terminar esta carta e, no entanto, teria ainda mil coisas a
dizer-lhes; as cartas são bem insuficientes, quando estamos tanto tempo
separados daqueles a quem amamos e veneramos. Por isso, conto os momentos que
ainda restam até sua volta, mas esquecerei o que essa ausência pode me custar
se ela lhes fortalece a preciosa saúde e descansa os espíritos, dando algumas
doces consolações à sua piedade.
Queiram bem, muito amados Senhor e Senhora, me guardar, assim como a meus bons
amigos que os amam como eu o faço, uma lembrança diante do Senhor e acreditar-me
por toda a vida, em J. e M.
Seu respeitoso servo e devotado amigo
Le Prevost
Para não atrasar esta carta demasiadamente adiada, peço-lhes licença, desta
vez, para simplesmente enviá-la pelo correio, deixando para usar, em outra
ocasião, algum meio menos dispendioso. A criança recomendada pelo Sr. Labbé
está entre os nossos órfãos.
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