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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 201 - 300 (1850 - 1855)
    • 257 - ao Sr. e à Sra. Taillandier
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257 - ao Sr. e à Sra. Taillandier191 

Detalhes sobre a instalação em Vaugirard. Gratidão para com esses insignes benfeitores. Inauguração da capela. Graças de sua estada em Roma. Notícias das obras do Instituto.

 

Vaugirard, 28 de março de 1854

            Senhor e excelente amigo,

 

            Senhora e excelente amiga,

 

            Como é possível que sua agradável carta tenha ficado tanto tempo sem resposta e que um tão amável testemunho de sua boa e afetuosa lembrança não tenha encontrado um retorno mais apressado? Eu mesmo não saberia acreditar nisso, se o fato não estivesse sob os meus olhos, pois sua carta não me deixou um instante, e nenhum dia se passou sem que tenha acordado em mim uma lembrança mesclada de pesar. Entretanto, talvez vocês também, de seu lado, excelente Senhor e excelente Senhora, fizessem dificilmente uma idéia para si dos embaraços e trabalhos que nos causaram, na rude estação do inverno, o acabamento de nossas obras, nossa mudança e nossa instalação em Vaugirard. As ocupações múltiplas que me dava, em particular, nossa subscrição, e, finalmente, os cuidados que acarretou também a cerimônia da bênção de nossa capela192. Hoje, eis-nos mais ou menos saídos, graças a Deus, dessa difícil provação. Meu primeiro momento de liberdade é para vocês, como o primeiro movimento de meu coração se volta também para vocês. O Senhor dispôs as almas favoravelmente a nosso favor e em geralencontramos boa vontade e simpatia benevolente. Nada, entretanto, compensava sua ausência, nenhum amigo substituía para nós os amigos ausentes, pois nenhum amigo podia ter o coração tão piedoso, tão generoso, tão nobremente dedicado. De minha parte, estou tão acostumado a sentir muito perto de mim sua assistência em todas as nossas obras, acostumei-me tanto a ir junto à boa Senhora Taillandier, para lhe dizer todas as minhas pequenas combinações, minhas dificuldades, meus sucessos, que tive a sensação, durante todo o inverno, de um grande vazio. Precisava desse pensamento: estes bons amigos não estão muito longe; estão gozando um pouco de descanso, estão firmando esta existência tão preciosa para todos aqueles que os amam e, sobretudo, estão na Cidade Santa, aos pés dos Santos Apóstolos, orando, merecendo, por seu fervor e suas piedosas súplicas, as bênçãos que o Senhor prepara para nossos trabalhos. Porém,  quando veio o dia, bem solene para nós, da bênção de nossa capela, não foi sem um certo aperto do coração que, nessa assembléia numerosa, reunida para oferecer ao Senhor essa pobre e pequena morada que lhe temos consagrado, tive de procurar em vão aqueles que verdadeiramente a edificaram. Contudo, eu me engano, nosso Henry bem querido estava lá, representando-os e dedicando ao divino Mestre a obra de seus bem-amados pais. Regozijei-me, com efeito, com este pensamento que seu donativo generoso tinha, ele sozinho, construído nossa pequena capela e, porque esse dom tão amavelmente oferecido me era mais precioso que o resto, resolvi, por gosto próprio, aplicá-lo a essa piedosa destinação.

 

            Sua boa carta está toda cheia das impressões de tudo o que os cerca e mostra bastante que a temporada de Roma é para vocês como que um meio poderoso de edificação, como que uma penetração mais profunda nas coisas santas pelos monumentosimagens, lugares. É bem assim que os verdadeiros cristãos entendem as viagens: são para eles alguns passos a mais em direção a Deus, não uma divagação e uma ocasião de dissipar o coração e o espírito. Parece-me que em Roma, nas suas magníficas igrejas, nos seus conventos, nos vestígios que ela guarda preciosamente dos seus apóstolos, de seus mártires, se devem achar emoções suaves e repousantes, que acalmam a alma e a elevam ao mesmo tempo. Estou feliz em pensar que essas puras alegrias são dadas às suas almas, tão bem feitas para saboreá-las.

           

            O que poderia eu dizer-lhes, da minha parte, em resposta às suas narrativas tão amáveis? Assuntos não me faltariam, pois vocês se interessam por tudo o que se faz de bem, e a caridade está longe de ficar inativa, mas o espaço me falta para falar-lhes, com alguns pormenores, das obras e de seus trabalhos. Monsenhor o Arcebispo, propondo-se a chegar a Roma no decorrer deste ano, recolhe elementos para submeter ao Santo Padre um relatório minucioso sobre todas as obras de sua diocese193. Será bem interessante e alegrará sem dúvida o coração paternal de Sua Santidade. Já uns pedidos de informações nos foram dirigidos diretamente por Monsenhor sobre as diversas obras confiadas aos nossos cuidados. A sua solicitude benevolente me pergunta, sobretudo, acho eu, como está a reforma de nossa casa de Nazareth, se os pobres foram aliviados eficazmente durante esse inverno tão penoso para eles, enfim, se sairemos sem dificuldade de nossa fundação dos órfãos. A pobre casinha de Nazareth está sempre dispersa; nossas Conferências se prestaram para tudo, aceitaram todas as combinações, por dispendiosas que poderiam ter sido, mas nada pôde ser realizado; do lado dos Capuchinhos194, somos sempre parados pelo Sr. Pároco da Abbaye-aux-Bois. Não perco a esperança, porém, de dobrá-lo; penso em tentar mais um esforço junto a ele, no dia da Compaixão da Santa Virgem, contando com o apoio dela para conservar essa pequena capela que lhe é consagrada. Peçam-lhe, por favor, sua poderosa assistência. Nossos pobres idosos sofrem muito com seu isolamento. As Conferências socorreram ativamente os pobres neste inverno; todas as obras mostraram zelo redobrado; os fornos [sopão] tiveram também um grande movimento. Se o bom Mestre dignar-se dar um ano melhor que aquele passado, sairemos ainda dessa provação que a misericórdia do Senhor muito aliviou.

 

            Nossos órfãos são agora 90; ei-los quase completamente instalados em Vaugirard; obrigados a se instalarem muito cedo demais e antes do acabamento das obras. Foi-nos preciso, durante seis semanas, viver no meio dos operários, mais donos da casa do que nós e, muitas vezes, não nos deixando nenhuma sala na qual nos retirarmos. Os locais próprios a nossas crianças tinham sido preparados antes de tudo, elas eram, portanto, as menos incomodadas. Nossas dores estão para terminar, os operários são quase totalmente dispensados, hoje vão abandonar a obra; restaria muita coisa para fazer, mas nos contentamos com a nossa pobreza que convém à nossa obra e a nós. Quanto às despesas, por parcimoniosas que tenham sido em economia, permanecerão pesadas para nós, mas o bom Senhor, assim esperamos, não abandonará seus servos. Com tempo e coragem, chegaremos à nossa finalidade.

            A boa Sra. Lalande está sempre contente em nossa casa; cheia de boa vontade, presta-se a tudo e nos é muito útil. Ela os ama profundamente e lhes oferece seus respeitos.

 

            Vou escrever a Monsenhor de Ségur hoje mesmo para pedir, por seu intermédio, o santo corpo de um jovem mártir. Ficarei bem grato a vocês se quiserem unir seus esforços aos dele.

 

            Estou obrigado a terminar esta carta e, no entanto, teria ainda mil coisas a dizer-lhes; as cartas são bem insuficientes, quando estamos tanto tempo separados daqueles a quem amamos e veneramos. Por isso, conto os momentos que ainda restam até sua volta, mas esquecerei o que essa ausência pode me custar se ela lhes fortalece a preciosa saúde e descansa os espíritos, dando algumas doces consolações à sua piedade.

 

            Queiram bem, muito amados Senhor e Senhora, me guardar, assim como a meus bons amigos que os amam como eu o faço, uma lembrança diante do Senhor e acreditar-me por toda a vida, em J. e M.

 

            Seu respeitoso servo e devotado amigo

 

                                   Le Prevost

 

            Para não atrasar esta carta demasiadamente adiada, peço-lhes licença, desta vez, para simplesmente enviá-la pelo correio, deixando para usar, em outra ocasião, algum meio menos dispendioso. A criança recomendada pelo Sr. Labbé está entre os nossos órfãos.

 

 





191 O Sr. e a Sra. Taillandier, pais de Henri Taillandier, confrade da Conferência São Sulpício, e mais tarde pároco de St Augustin em Paris.



192 Foi inaugurada na festa de São José, que ocorria no dia 20 de março naquele ano. Foi dedicada ao Sagrado Coração e se tornará em 1880 a capela dos Santos Corações. O Pe. Félix, orador de N.D, de Paris, pronunciou o sermão de circunstância. O padre Buquet, vigário geral, benzeu a nova capela. Paul Decaux, presente na cerimônia, nisso um feliz presságio: “Quando, no dia de seu batismo, uma casa é benzida por tais mãos, uma obra por tais palavras, podem, ambas, repousar em Deus e confiar sem restrição nos benefícios de seu amor”. (G.A. Boissinot, Un autre saint Vincent-de-Paul, p.258).



193 Cf. cartas 288 e 309. Tendo que entregar à Santa um relatório sobre o conjunto de sua diocese, o arcebispo de Paris, Dom Sibour, pedira que fosse informado sobre as obras da Congregação. A correspondência trocada nessa ocasião com o arcebispo por ocasião de sua volta de Roma (onde fora convocado para assistir à cerimônia em que seria proclamado o dogma da Imaculada Conceição), contribuiu a apertar os laços do Instituto com a autoridade diocesana. Em fevereiro de 1855, o vigário geral encontrará o Sr. LP. em Vaugirard e o próprio Dom Sibour visitará a Comunidade no mês de maio de 1855.



194 “Em 1854, o Asilo dos idosos, chamado Maison de Nazareth, aberto em 1848 na rua N.D. des Champs, para os pobres da Santa Família, acabava de ser expropriado e demolido, para a abertura da rua de Rennes, [decidida por Haussmann, então prefeito do departamento da Seine]. O contrato de arrendamento da casa da rua do Regard ia expirar e o proprietário recusava renová-lo. O Sr. LP. desejava adquirir para estabelecer essas duas obras, um vasto terreno situado no Boulevard Montparnasse, na esquina da rua Stanislas e pertencendo ao Pároco da Abbaye-aux-Bois. Havia sido iniciada a construção de uma capela para os Padres Capuchinhos, que deviam acompanhar no cemitério Montparnasse os funerais dos pobres. Entretanto, o governo imperial, que tinha instituído capelães das últimas orações, tornara sem objeto o estabelecimento projetado. Ficava para obter que o Sr. padre Hamelin, pároco da Abbaye-aux-Bois, cedesse por um preço modesto a capela e o terreno ao Sr. LP. (VLP., I,p.484).





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