Inquietações a
respeito dos patronatos de Paris que a Sociedade de São Vicente de Paulo parece
disposta a fechar, por falta de pessoal dirigente. Os órfãos do Sr. Le Prevost.
Ele procura homens para salvar esses patronatos. Ele impõe sacrifícios à sua
Comunidade. Apelo ao Sr. Caille.
Vaugirard,
13 de abril de 1854
Caro bom amigo e filho em N.S.
Fiz o seu recado para o pagamento do aluguel do Sr. Dupetit e lhe prestarei
conta desse pequeno negócio remetendo-lhe, numa próxima ocasião, o bilhete que
tínhamos para retirar; pode, portanto, ficar tranqüilo quanto a isso.
Não teria sido, talvez, tão exato em responder à sua última carta, porque, de
ambos os lados, estamos bastante ocupados para que nossa correspondência não
tenha sempre a atividade que quereria nossa afeição recíproca. Mas quero
recomendar às suas orações e à sua atenção caridosa o patronato de Paris
que me parece neste momento seriamente ameaçado.
Há bastante tempo, queixas levantavam-se nas Conferências em relação às casas
de patronato. Censuravam-lhes, salvo alguma exceção, produzirem poucos frutos
morais e religiosos, custar muito caro e impor às Conferências o peso de uma
loteria anual que onerava consideravelmente o orçamento. Mas a maior queixa era
que a generalidade dessas casas, hoje, acho, no número de 10, estavam dirigidas
por homens assalariados, sem força de inteligência e de coração, não
suficientemente dedicados para dar à Sociedade sólidas garantias e a segurança
de que ela necessita numa obra dessa importância. Essas queixas tornaram-se
mais vivas, mais repetidas há alguns meses e os Irmãos das Escolas, tendo,
nestes últimos tempos, tentado em um ou dois pontos de Paris uma espécie de
patronato sobre seus antigos alunos, os insatisfeitos aproveitaram disso para
pedir que as Conferências renunciassem ao patronato e o abandonassem aos Irmãos
que poderiam, dizem eles, se consagrar a isso com mais constância e
perseverança.
A isso, respostas firmes hão de ser feitas: é que esse patronato dos Irmãos,
mal nascido, parece ainda muito vacilante, que reduzido a duas ou três horas no
período da manhã, ele parece pouco próprio a exercer uma grande influência
sobre as crianças, que ele não se aplica, de forma alguma, à colocação
das crianças e a seu acompanhamento nas oficinas, que, enfim, ele não
atingiria, em todo o caso, senão um número bastante restrito de crianças e
deixaria para fora multidões de aprendizes educados por outros mestres que não
sejam os Irmãos, ou não sejam submetidos à sua ação. A supressão do patronato
da Sociedade de São Vicente de Paulo nos pareceria, portanto, uma verdadeira
infelicidade para a caridade, para o amparo e a defesa das pobres crianças
jogadas aos milhares nas oficinas, sem contrapeso às más influências que sofrem
ali. Esperamos, portanto, ainda que o bom Mestre, que vela sobre estas pobres
crianças, não permitirá que sejam abandonadas. Porém, as ameaças são prementes
e a tempestade parece difícil de se desviar. Uma assembléia geral dos
Presidentes das Conferências, levando em consideração as queixas e reclamações
levantadas contra o patronato, nomeou uma comissão para examiná-las e submeter
suas proposições. Essa comissão se pronunciou para a supressão de 8 casas de
patronato, e para a manutenção somente das duas que são confiadas à nossa
pequena Comunidade. O Sr. Baudon, a quem o Sr. Maignen esteve fazendo
reclamações da minha parte a esse respeito, respondeu, como já tinha feito a
mim mesmo, que somente nós poderíamos ter salvo o patronato ou ao menos algumas
de suas casas ( o que seria bem essencial neste momento para não perder a
posição que tinha essa obra no mundo caritativo por sua loteria e seus outros
recursos), que teria sido necessário nossa pequena Comunidade poder doar alguns
membros para dirigir essas casas.
Estou em condições de devolver o Sr. Myionnet ao patronato, talvez até de
aplicar nisso um outro irmão igualmente firme e dedicado; mas essa medida, se a
tomo para dois elementos sobretudo, vai diminuir bastante nossa casa central
dos órfãos; teria, portanto, grande necessidade de algum reforço enviado providencialmente.
Você não veria, caro amigo, nesse tipo de pequeno noviciado de homens dedicados
que o bom Mestre agrupou ao seu redor, algum elemento generoso que, tocado pelo
perigo que corre a obra tão interessante do patronato, se sentiria inspirado de
dar o passo decisivo e vir a nós para nos prestar ajuda neste momento difícil?
Examine isso diante de Deus, fale nisso a seus amigos, reze sobretudo muito
conosco e talvez o Senhor for atender os nossos votos.
Adeus, caríssimo amigo e filho em N.S.; respondendo-me, não deixe de dar-me
notícias de suas queridas irmã e sobrinha, você não me falou delas em sua
última carta.
Todos os nossos irmãos o asseguram de sua terna afeição, e eu o abraço por
todos nos Corações sagrados de J. e de M.
Seu amigo e Pai
Le Prevost
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