Pedido de subvenção
para a casa de Vaugirard.
Maio [1854]
Senhor Ministro,
O abaixo-assinado tem a honra de expor-lhe que, consagrado há vários anos às
obras de caridade, ele acreditou fazer uma coisa útil às classes operárias e
indigentes fundando, há 3 anos, um estabelecimento destinado à educação dos
meninos que a morte privou de seu pai ou de sua mãe.
Nas condições ordinárias, com efeito, as escolas públicas acolhem todas as
crianças do povo e lhes dão, sob a vigilância de suas famílias, os
cuidados e a instrução convenientes, mas quando, pela morte do pai ou da mãe, o
laço da família é quebrado, as necessidades da vida jogando para fora o marido
ou a mulher sobrevivente, os filhos deixados sem vigilância caem
inevitavelmente na dissipação.
Pensamos, Senhor Ministro, que a caridade devia a esses meninos uma proteção
especial e meios de educação próprios à sua situação. É para essa finalidade
que, apesar da insuficiência dos recursos privados para um tão grande
empreendimento, temos, com a ajuda de alguns amigos e sob o alto patrocínio de
Monsenhor o Bispo, fundado a Casa dos Órfãos de São Vicente de Paulo.
Estabelecida em primeiro lugar no bairro Saint
Marcel, rua de l’Arbalète 39 bis, foi transferida desde o mês de fevereiro
último para Vaugirard, rua des Vignes 44, num local que temos adquirido e
adaptado para essa destinação.
As crianças, no número de 100, são admitidas de 7 a 12 anos. Recebem ali a
instrução elementar, são preparados ali com um cuidado particular para a
primeira Comunhão e, depois desse ato tão importante da vida, são colocados em
aprendizagem pelos diretores da obra, que continuam a exercer sobre elas uma
constante e ativa vigilância.
Não insistimos sobre a utilidade de tais instituições, cujas vantagens sua
Excelência conhece bastante, mas observaremos que, se elas são bem poucas em
Paris sobretudo, isso deve ser atribuído às dificuldades que apresentam e aos
sacrifícios consideráveis que exigem. As crianças ali recebidas são tomadas nas
classes mais pobres, com inícios de educação quase sempre defeituosos; elas
exigem cuidados e uma vigilância incessante, são muitas vezes fracas e
doentias; portanto, é preciso refazer o físico e o moral, tudo ao mesmo tempo.
De outro lado, sua atividade é extrema, gastam e consomem muito. Enfim, as
módicas retribuições que podem fornecer os protetores ou pais são tão
insuficientes que os diretores da obra têm habitualmente de prover aos dois
terços das despesas.
No entanto, Senhor Ministro, conseguimos, com a ajuda de Deus, superar essas
dificuldades; nossos cem órfãos andam e desenvolvem-se sob os nossos olhos em
bom espírito de afeição, de docilidade e de gratidão; seus costumes são puros,
suas disposições perfeitas; os que já nos deixaram para entrar em aprendizagem
perseveram em seus bons sentimentos, tudo nos deixa esperar, portanto,
que a obra é posta em boas condições e atingirá seu fim, a saber substituir
para os órfãos a educação da família e abrir-lhes uma carreira honesta e
laboriosa.
Mas, Senhor Ministro, a tarefa tão rude de uma
tal fundação esgotou todos os nossos recursos e, embora todos os agentes da
obra, mestres, vigias, prestem ali seus cuidados gratuitamente, embora suas despesas
sejam regidas com uma estrita economia, passaríamos dificilmente o ano presente
sem algum apoio eficaz para aliviar nossos encargos.
Temos ousado esperar, Senhor Ministro, que sua
Excelência, levando em conta a utilidade de nossa obra, os sacrifícios que nos
impusemos em favor das crianças pobres, dignaria-se de nos conceder seu
generoso apoio e aguardamos um socorro provindo dos fundos de seu departamento.
Esse testemunho de interesse seria para nós um
grande encorajamento e nos poria em condições de completar a obra que temos
empreendido.
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