O Sr. Le Prevost está
muito ocupado pelas Obras. Sua emoção por ocasião de uma primeira comunhão. A
compra da casa de Nazareth está na iminência de se concluir. Espera das
relíquias de um jovem mártir. Seu filho, o Sr. padre Taillandier, deveria
poupar-se.
Vaugirard,
21 de junho de 1854
Caro Senhor e excelente amigo,
Cara Senhora e amiga,
Onde estão agora, para onde esta carta os seguirá? Não sei, perdi agora o
rastro de seus passos e, sem a ajuda do nosso bom padre195, não saberia
onde reencontrá-los. Receio que, apesar de toda a sua caridade e de toda a sua
grande indulgência, vocês vejam dificilmente uma desculpa para meu longo
silêncio. Todavia, tenho uma bem real, é a incapacidade absoluta em que me
sentia de lhes escrever. Pensava nisso constantemente, o desejava, fazia disso
para mim um descanso e uma consolação, mas os incidentes de cada dia são tão
multiplicados, os momentos tão picadinhos que um pouco de espaço para respirar
e expandir-me com vocês não se podia achar; essa insuficiência levada a tal
ponto é, asseguro-lhes, um grande sofrimento que é preciso unir à cruz do
Salvador; ela humilha, contrista, deixa em inquietação sobre si mesmo e pode
fazer também duvidarem os outros de nossa boa vontade; tal era minha situação
durante toda esta estação e tal ela está ainda na maior parte do tempo; minha
fraqueza é totalmente inferior à minha tarefa e curvo-me miseravelmente sob o
fardo. Ouso, portanto, pedir-lhes, bons e generosos amigos, que me tratem com
condescendência e caridade, que tenham compaixão de minha impotência, e
sobretudo que não duvidem de meus sentimentos de profunda afeição, de terna
gratidão, de íntima e constante união com vocês em Deus. Pelo menos, não
tenho que me censurar por tê-los esquecido diante dEle; cada dia, e nas
ocasiões importantes sobretudo, associo ambos às nossas orações e a todo o
movimento de nossa vida.
Ultimamente, tínhamos a primeira comunhão de nossas crianças: 50 dentre
elas vinham pela primeira vez à santa mesa ou renovavam sua comunhão; cheios de
fervor, preparados por um retiro de arrebatar, eram como anjos; nenhum
nos deixava inquietação e parecia em disposição duvidosa: era um espetáculo
comovedor, cheio de doçura e de consolação; mas nossa alegria superabundante
teria gostado de se derramar em corações amigos; por isso, quantas vezes
vagamente e sem me dar muito conta disso, tenho procurado ao meu redor os bons,
os fiéis amigos que estavam ausentes. Digne-se o Senhor trazê-los logo de
volta; por nos ter tão cordialmente unido, Ele não quer, sem dúvida, que
estejamos demasiado tempo separados.
Nossos negócios também parecem não poder andar sem seus conselhos e simpatias
benevolentes; a aquisição do Montparnasse196, sempre no momento de se
concluir, experimenta lentidões sem fim; rezem muito, conjuro-os, caríssimo
Senhor e caríssima Senhora, a fim de que tudo isso se resolva segundo a
santíssima vontade de Deus; creio que Ele não deixa esses acordos no ponto
morto senão para nos dar mais tempo a fim de consagrar a obra pela oração, a
paciência e a submissão; as coisas parecem, todavia, prestes a se concluir.
Poderemos, espero, fazer algum bem desse lado, mas nossa tarefa aumentará na
mesma proporção; a ajuda do Senhor crescerá na proporção das necessidades, essa
é a nossa certeza e nossa consolação.
A lentidão que tive em aproveitar das aberturas que vocês nos tinham
bondosamente proporcionado para obter as relíquias de um jovem mártir com
indulgências deve parecer-lhes inexplicável; ela é devida, como os atrasos de
minha correspondência, à impossibilidade em que me encontrei de satisfazer a
todas as obrigações de minha posição; ela servirá também a fazê-los escusar
minha aparente negligência, já que sabem quanto preço daria a um tal
tesouro, assim como às indulgências de que seríamos gratificado. Espero,
no entanto, que aquilo que foi adiado não será perdido; mandei pedir ao
Arcebispado uma fórmula para a súplica ao Santo Padre; farei meu requerimento a
tempo, se posso, para que Monsenhor de Ségur, que está sendo esperado em breve,
possa nos trazer nosso querido santo, se ele nos fosse concedido.
Vi nosso excelente
padre que de passagem desde algum tempo; ele não respondeu ao desejo que lhe
havíamos testemunhado em várias ocasiões de vê-lo alguns instantes entre nós,
seu ministério é muito exigente; ele me parece um pouco cansado, mas ele não
escuta facilmente, vocês sabem, os conselhos que tendem a procurar-lhe um pouco
de descanso e de cuidados de sua saúde; vocês serão mais convincentes, espero;
ele não passaria impunemente o verão sem um pouco de repouso, e, no interesse
mesmo do bem que o Senhor faz através dele, parece totalmente sábio que ele possa
descansar um pouco. Nosso Senhor dizia: “Minha comida é fazer a vontade de meu
Pai197.” Nosso bom padre diz também: “Meu descanso, é salvar as almas”.
Creio que Deus abençoa muito seu ministério; ouço todos dizer que ele é querido
e justamente apreciado. Se é verdade, como ele diz em sua humildade, que eu
tenha concorrido por pouco que seja para esclarecê-lo sobre sua vocação, faço
disso para mim uma esperança de salvação; o Soberano Juiz, por causa desse
excelente servo, será menos severo em suas sentenças e me fará misericórdia.
Espero também, caro Senhor, cara Senhora, que ele será a bênção de toda a sua
casa, que, por suas preces e seus méritos, os anseios tão cristãos de vocês
serão cumpridos e que um dia, cercados por seus queridos filhos, vocês não
acharão em todos senão um só coração e uma só alma, um coração cheio como o seu
de uma terna caridade, uma alma aspirando aos verdadeiros bens, às santas
alegrias da eternidade.
Uno-me ternamente a vocês nos Corações sagrados de Jesus e de Maria e sou para
sempre
Seu humilde servo e devotado amigo
Le Prevost
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