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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 201 - 300 (1850 - 1855)
    • 268 - ao Sr. Paillé
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268 - ao Sr. Paillé

Projeto de Conferência em St Valéry-en-Caux. O dom total existe em todos os irmãos, apesar das aparências. O Sr. Paillé não se sem reserva. Para o Sr. Le Prevost a qualidade do engajamento religioso se julga pelo dom total: “no caminho em que Deus o colocou, só se é feliz  quando se deu tudo”.

 

Vaugirard, 30 de agosto de 1854

 

            Meu caro filho,

 

            Você me escreveu uma boa carta, na qual colocou toda a abertura possível e todos os bons desejos de seu coração. Muito obrigado, fico-lhe extremamente gratodisse aos nossos irmãos suas afetuosas lembranças, e também sua recomendação em favor da futura Conferência de St Valéry, nada de tudo isso foi esquecido. Temos rezado pelo sucesso dessa boa obra, esperamos que o bom Mestre lhe dará o êxito, se ela houver de resultar em glória para Ele. Vou procurar organizar meus afazeres, para ir passar alguns dias com você, e daí fazer uma visita de 3 ou 4 dias à minha irmã. Não acho, de jeito nenhum, que uma tão breve aparição nos banhos possa de forma alguma me ser útil, mas irei para que você não fique inteiramente isolado durante sua ausência. Procurarei partir sábado, no  comboio das 7 horas da manhã, ou no de meio-dia, se não estivesse em condições tão cedo. Não vejo inconveniente em você visitar o amigo Folluc. O que vem depois do projeto de Conferência é que me uma certa inquietação. Será preciso organizar subscrições caridosas, movimentar-se muito, entreter relações com um número considerável de estrangeiros e de moradores de St Valéry; será bem diferente da paz que você procura. No entanto, se houver que resultar algum bem real, se for possível reunir alguns elementos confiáveis, acho que será preciso passar por cima  e andar. Tenho alguns regulamentos e manuais que levarei para você.

 

            Você aborda em sua carta várias questões que só tinha encarado  de maneira geral, sem fazer aplicação particular a ninguém. Queria somente estabelecer este princípio de que, sem uma dedicação verdadeira, sem reserva, sem mistura, não se pode estabelecer nada de sólido e de persistente; que, graças ao Senhor, esse espírito generoso, sinal bem certo da vocação e dos desígnios de Deus, vivia em nossa pequena família e que ela devia guardá-lo como seu mais precioso tesouro. Você me objeta que o sacrifício absoluto, e de si mesmo e das coisas da terra, não está plenamente consumado por vários, que resta portanto duvidoso se Deus nos chama a um despojamento completo e a uma abnegação inteira. Ouso assegurar-lhe formalmente que esta dúvida não existe para nenhum de nós. Todos são dedicados pelo coração sem restrição voluntária e, se existe, para uns ou outros, alguma reserva aparente, está na posição, nas circunstâncias, não na vontade nem no coração; portanto, o sacrifício é verdadeiro, puro, completo, digno de Deus, pois a vítima imola-se toda inteira e não se reserva nada. São essas reservas da vontade e do coração que me afligem e me inquietam, quando creio percebê-las, pois são essencialmente contrárias à verdadeira perfeição, à verdadeira caridade, conseqüentemente, à vida religiosa que aspira a uma e a outra. São Vicente de Paulo tolerou que o despojamento exterior dos bens não fosse absoluto. Isso é tolerado também em diversos lugares em nossa época, mas é somente para o exterior, para poupar o espírito anti-religioso das famílias, prevenir as imputações contra as Comunidades e colocá-las, na medida do possível, fora dos interesses temporais; mas, no fundo, o princípio permanece imutável, o despojamento indicado pelo Salvador deve ser consumado de coração, francamente e sem rodeio, e praticado realmente no grau em que é possível sem inconveniente. As regras foram  estabelecidas pela Sabedoria eterna, continuam sendo imutáveis e não afrouxam. O que parece ao olho pode variar na forma, mas aquilo que se faz no coração é sempre o mesmo; o Senhor disse: “Minhas palavras não passarão198”. Afirmo-o com convicção profunda, esses princípios são os de todos os membros propriamente ditos de nossa pequena Comunidade e vivem em todas as almas. Todos praticam o despojamento absoluto pelo coração e o observam na vida concreta, sem outra reserva que não seja a das circunstâncias às quais devem ceder. Tudo está bem assim, Deus não exige mais do que isso, Ele quer o coração e, quando Ele pode mesmo contar com este, todo o resto é secundário a seus olhos.

 

            Quanto à abnegação da vontade, ao sacrifício da pessoa, é também assim; não é com restrição, é sem nenhuma reserva mental que nossos bons irmãos entenderam a palavra do Salvador: Que renuncie a si mesmo199; francamente, generosamente, jogaram-se todos no seio de Deus; tiveram, sem dúvida, que aceitar as condições de uma obra que se forma e que ainda não tem os privilégios de uma fundação consumada; mas, na plenitude de seu coração e em toda a extensão de suas potências, dedicaram-se e consagraram-se para sempre. Alguns, aos quais foi permitido, por uma palavra formal, os outros, ao menos interiormente, pelo voto de seu coração. Se não tivéssemos essa base sólida, não seríamos nada, nem diante de Deus, nem diante dos homens, nem aos nossos próprios olhos; mas, graças sejam dadas ao Senhor por isso, sua chama brilhou em nossas almas e nos consumiu e uniu na sua divina caridade.

 

            Quanto a você, caro filho, você está, mais do que pensa, incorporado nessa vida comum que o Senhor suscitou em nós, seus vínculos são verdadeiros e sinceros também, só que, por um pouco de timidez, natural para sua pessoa, você hesita às vezes e negocia um pouco na prática. Daí, para você, a fonte de hesitações, de dúvidas e de tristezas de coração; daí, horas penosas e cheias de inquietações. Com um pouco mais de ousadia, você ficaria liberto e provaria a liberdade dos filhos de Deus que lhe faltou até hoje.

            Não desaprovo as medidas que tomou no tocante a seus bens materiais, são boas, no fundo, mas aperfeiçoe um desapego mais verdadeiro, não faça dos poucos bens que lhe restam uma perspectiva ou um reduto que se interponha entre Deus e você. Não peço nada mais do que isso; quanto ao sacrifício de sua pessoa, a meu ver, você o deveria a Deus, ao seu descanso, à sua paz que, creio sinceramente, está a este preço. Sem isso, você não terá o coração contente nem tranqüilo, porque, no caminho em que Deus o colocou, só se é feliz quando se deu tudo. Você hesitará, recuará, quererá e não quererá; se  não for até lá, estará na estrada, mas nunca atingirá o destino final. Santa Teresa diz: “Nunca acharia conveniente, quando Deus mostra algum bem a fazer, que se recuasse por medo de falhar na execução; experimentei por mim e por muitos outros que nunca a força falta a quem se confiando em Deus.”

 

            Você me havia aberto seu coração, caríssimo amigo, abri-lhe o meu, disse-lhe meu parecer sobre seu interior; o examinei muitas vezes diante de Deus e creio conhecê-lo bem; mas, meu caro filho, se minha persuasão não passar para seu coração, acredite que  não vai me desagradar de forma alguma, continuarei a rezar a Deus por você, certo de que sua hora virá; pois seu coração é reto; ajudado pela graça, ele triunfará, como você mesmo o diz, sobre as  resistências da natureza.

 

            De qualquer jeito, nós o aceitaremos sempre tal como quiser ser; unindo-nos a você, temos pensado que era para até o último dia, respondo por nossa fidelidade como por meu terno, verdadeiro e paterno amor por você.

 

            Seu amigo e Pai nos Corações de Jesus e de Maria.

 

                                               Le Prevost

 

 





198 Mc 13,31.



199 Lc, 9,23.





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